Espera por transplante de rim chega a quase 2 anos em média

Tempo de espera varia a depender do órgão e dos critérios de escolha dos pacientes

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 24 de setembro de 2017 às 09:00

- Atualizado há um ano

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O tempo médio de espera nas filas de transplantes varia a depender do órgão a ser transplantado. São filas diferentes para cada órgão. Na Bahia, os pacientes que aguardam por um rim são os que mais esperam. Em média, 22,9 meses, ou seja, quase dois anos. No caso da córnea, a espera média é de 1 ano e dois meses. Com o fígado, são seis meses e dois dias.

Essa variedade se deve aos critérios utilizados na escolha dos pacientes transplantados. O critério do rim, por exemplo, é imunológico, pela chamada histocompatibilidade. Doador e receptor precisam ter características imunológicas compatíveis para minimizar os riscos de rejeição. Isso é confirmado através de exames. “O teste final é uma prova cruzada - ou crossmatch – que confirma quem são os receptores mais aptos”, explica Carolina Sodré, coordenadora da Central Estadual de Transplantes.

Córnea, coração, pâncreas e pulmão têm o mesmo critério para transplante: o cronológico. Ordem de chegada. A fila do fígado geralmente é mais curta porque o critério principal é a gravidade da doença, mensurado pelo chamado escore MELD/Peld. Ao entrar na lista, resultados de exames são lançados em um sistema que calcula o escore. “Quanto maior for este número, mais grave o paciente está e maior a chance dele transplantar em curto tempo”, diz a coordenadora.

Mas há quem espere muito mais do que a média do tempo. Até porque, antes de entrar na fila, muita gente pena em busca de diagnóstico. Caso de Gildenice Souza Santos. Há 9 anos, ela luta contra uma cirrose hepática. No início de tudo, morava na cidade de Rio Real e, por causa da doença, se transferiu para Aracaju. “A cidade grande mais próxima de Rio Real era Aracaju”, lembra Gildenice.  

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Nessa época, sentia dores fortíssimas e ninguém conseguia diagnosticar de que mal ela sofria. “Uma grande perda de tempo e dinheiro”, conta. Só quando veio para Salvador, no Hospital das Clínicas, conseguiu o diagnóstico. Só aí se passaram cinco anos. Há quatro, em 2013, entrou na fila de transplantes. A Sesab diz, porém, que sua inscrição foi em 4 de abril de 2016.  

Gildenice é a segunda paciente mais antiga da fila. Hoje mora em Camaçari e, depois de várias crises em que chegou a vomitar sangue, após diversas internações na UTI, ainda espera por um fígado novo. Uma verdadeira via-crúcis pela vida. “Tenho esperanças de que vou ter uma vida normal. Esse fígado vai chegar um dia”, acredita Gildenice.  

Mas poucos esperaram tanto quanto Silvio Roberto das Virgens Pereira, de 55 anos, um caso incrível de esperança para quem pena nas filas de transplantes. Nos 17 anos que esperou por um rim, Silvio fez 2.905 seções de hemodiálise. No dia 31 de julho do ano passado, finalmente recebeu um novo rim. Hoje tem uma vida normal.  

“Gostaria que outras famílias tivessem essa iniciativa. É muita gente esperando por uma rim, é muita gente em máquinas de hemodiálise, é muita gente precisando de fígado, de córneas. Pra que morrer e levar tudo isso?. Sou grato até à minha doença. Porque ela me ensinou a me transformar como ser humano”.

No caso de Silvio, ele arriscou alto em receber um órgão que já tinha um tempo de isquemia - o prazo entre a retirada do órgão do doador e o seu implante no receptor - considerado longo. “O rim já tinha um bom tempo no gelo. Tanto que uma família de Feira negou. Mas minha médica confiou que, pelo fato de ser um rim de um jovem sadio, de 23 anos, daria certo. E deu!”, comemora Silvio.   

Não há um número que mostre o percentual de órgãos perdidos por conta da demora no processo. Até porque, a desistência muita vezes depende da família e da equipe médica. “Se a família desiste pela demora, entra na estatística de negativa familiar”, explica a coordenadora da Central Estadual de Transplantes.