Estudantes com deficiência cuidam de horta em casa

Projeto foi criado por professora de escola municipal

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  • Roberto Midlej

Publicado em 3 de maio de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: acervo pessoal

Pedro Barreto tem 8 anos de idade e é estudante do terceiro ano do ensino fundamental. Pedrinho, que é autista, ganhou uma responsabilidade no mês passado: passou a cuidar da pequena horta que criou em casa com a mãe, Ana Paula Barreto, sapateira de 39 anos. Diariamente, ele rega os vegetais que cultiva, como hortelã, cebolinha e coentro. E a horta tem diversas funções: além de entretê-lo enquanto não retorna à escola por causa da pandemia, também estimula seu desevolvimento cognitivo e, de quebra, dá um tempero caseiro à sua alimentação. "Todo dia, levo ele para ver as plantas e ele fica admirado, dizendo 'Olha, mãe: ela cresceu'", diz Ana Paula.

Ana Paula já plantava em casa, mas a ideia de estimular Pedro a fazer o mesmo surgiu por causa do projeto Horta Sustentável, ideia de Márcia Mota, 49 anos, professora da Escola Municipal Dr. Otaviano Pimenta, em São Tomé de Paripe, onde o menino estuda.

Márcia atua no Atendimento Educacional Especializado (AEE) e, durante o isolamento social, acompanha, pela internet, seus alunos com deficiência."Por causa da pandemia, pensei em quantas famílias estariam em casa desempregadas com o filho ou filha com deficiência, sem atividades para entretê-los. Então, pensando nisso, resolvemos implementar essa ação de plantio". Márcia observa que o projeto ensina os alunos também a reaproveitar materiais como garrafas plásticas e latas, usando-os como os vasos de seus plantios. "Assim, trabalhamos a questão do cuidado ao meio ambiente e também da reutilização de materiais recicláveis que seriam descartados, o que aumentaria a quantidade de lixo no planeta”, diz Márcia. A criadora do projeto, professora Márcia Mota A professora, que é também neuropsicopedagoga - profissional que busca relações entre os estudos das neurociências com os conhecimentos da psicologia cognitiva e da pedagogia -, trabalha com jovens e crianças com diversos tipos de deficiência, incluindo cegos, surdos ou com síndrome de down. "As mães conversavam comigo e diziam que estavam angustiadas com os filhos em casa, principalmente porque as clínicas de terapia ocupacional haviam parado de atender as crianças na pandemia", observa Márcia.

Ana Paula acrescenta que o plantio em casa estimula uma alimentação mais saudável."Pedro gosta de comer a planta que ele mesmo cuidou e gosta muito de ver ela crescer. Além disso, tem contato com a terra, que também é muito importante".Pedrinho frequentava uma clínica para acompanhamento psicopedagógico individualizado semanalmente, mas, com a pandemia, Ana Paula, que é autônoma, teve a renda prejudicada e hoje não pode mais arcar com os R$ 70 que pagava por sessão.  Pedro, com o hortelã que ele plantou Outro estudante que tem se envolvido com o projeto é Levi Mequeias Santos da Silva, de 11 anos, que tem paralisia cerebral. Ele é filho de Jaciara Santos Silva, 44 anos, que é dona de casa e está desempregada. "Eu já plantava em casa faz uns dois anos e a professora Márcia não sabia. Quando ela apresentou o projeto, foi muito bom porque passei a estimular Levi a participar. Acabou se tornando uma terapia para mim e para ele", diz Jaciara, que plantou hortelã grosso, hortelã fino e boldo. "Foi muito bom porque muda a rotina dele. Na pandemia, fica trancado, se estressa e é importante ter uma atividade para se ocupar", diz a mãe de Levi. Segundo Jaciara, há outras duas formas de entreter o filho: assitir TV e ouvir música evangélica.