'Eu vim ao mundo para contar histórias', diz Breno Fernandes

Atração da Flica 2019, autor baiano conversa sobre a literatura infantojuvenil nesta sexta-feira (25)

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  • Da Redação

Publicado em 24 de outubro de 2019 às 14:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Escritor e jornalista baiano, Breno Fernandes, 33 anos, não tem dúvida sobre seu destino: "Eu vim ao mundo para contar histórias". Atração da Festa Literária Internacional de Cachoeira, no espaço Geração Flica, o autor vê literatura em tudo, da observação dos vizinhos à conversa alheia. No evento, Breno bate um papo sobre a literatura infantojuvenil nas escolas, afinal não abre mão do contato com o público e adora visitar os centros educativos em busca das impressões de leitura da garotada.

"Quando eu vou às escolas, os estudantes sempre me chamam de tio e de senhor. Mas outro dia participei de um evento na Academia de Letras da Bahia, na qual estavam presentes decanos da literatura baiana, e falaram de mim como um jovem autor. Então eu estou na mesma situação de Sandy, naquela canção em que ela diz: 'Sou jovem pra ser velha e velha pra ser jovem'", brinca Breno. Confira a entrevista.

1. Diferente da maior parte dos autores que estão na programação da Geração Flica, seus livros não são fruto de autopublicação, nem mesmo são pensados para uma edição digital. Você tem vários livros publicados por grandes e pequenas editoras, e muitos deles adotados por escolas. Gostaria que, resumidamente, você explicasse um pouco sobre essa sua inserção no mercado editorial e porquê de seguir esse caminho. Chegou a pensar em publicar de outro modo? Eu escrevo desde criança. Comecei com 8 ou 9 anos e, já naquela idade, eu enviava minhas histórias manuscritas para editoras. Foi assim que, aos 15, tive uma história selecionada pela FTD para integrar e inaugurar uma coleção chamada Jovens Escritores, que só publicou escritores adolescentes. Por esse golpe de sorte, que muito cedo me abriu portas e me mostrou que era possível tanto ser escritor quanto seguir o caminho tradicional, creio que nunca me passou pela cabeça estruturar minha carreira de outro modo. Até porque estamos falando de quase 20 anos atrás.Hoje em dia, a autopublicação e a publicação em meios digitais não só são opções viáveis tecnológica e financeiramente, mas também são caminhos que o autor, muitas vezes, escolhe porque lhe são mais rentáveis ou porque atendem melhor a seus anseios.Mas, 20 anos atrás, a autopublicação e a literatura que brotava das nascentes mídias sociais, a meu ver, funcionavam como uma estratégia de se tornar visível para as editoras. Algo parecido acontecia na música, e o pessoal da música dizia, em tom de brincadeira: "Toda banda independente, afinal, quer ser dependente". Os escritores, antes, também. Hoje é diferente. Mas me faltam todos os talentos necessários para lidar com a divulgação, o principal gargalo das editoras e dos autores independentes. Não sei vender nem administrar. Tarefas que, diga-se de passagem, tomam um tempo danado. Então prefiro empenhar meu tempo em escrever mais e melhor e em buscar parcerias com as editoras. Tenho tido sorte até agora. Desde 2017, por exemplo, tenho participado do time de autores da editora Caramurê, de Fernando Oberlaender e Márzia Lima, e eles sempre acolhem meus originais.

2. Você estreou na literatura aos 15 anos, e desde então se dedica a escrever ficção infantojuvenil. Hoje, está com 33. Ainda se vê como um jovem escritor/escritor jovem? Quando eu vou às escolas, os estudantes sempre me chamam de tio e de senhor. Mas outro dia participei de um evento na Academia de Letras da Bahia, na qual estavam presentes decanos da literatura baiana, e falaram de mim como um jovem autor. Então eu estou na mesma situação de Sandy, naquela canção em que ela diz: "Sou jovem pra ser velha e velha pra ser jovem".

3. Como esse alcance direto nas escolas é encarado por você? Vi que a própria mesa da Flica deve tangenciar a discussão sobre o prazer e a responsabilidade que ocupar esse lugar traz... Eu visito escolas, para conversar com os alunos sobre meus livros e sobre literatura, desde que publiquei meu primeiro romance, O mistério da casa da colina. Eu acho um barato! Por piegas que pareça, eu faço isso, em parte, pela criança que eu fui: um moleque de interior que amava livros, mas achava que escritores eram quase uma espécie humana diferente e que meu desejo de escrever histórias não deixava de ser uma impertinência à ordem do mundo.Então, em todos esses bate-papos, faço questão de tentar afastar dos meninos e meninas quaisquer sentimentos de impotência em relação à literatura.Fora isso, eu adoro ouvir as impressões de leitura da garotada. Pré-adolescentes e adolescentes, meu público maior, costumam fazer os comentários mais sinceros que recebo. É ótimo ouvi-los, para melhor compreender meus acertos e erros.

4. Ao fazer a pergunta anterior, lembrei de Mendax, e de como esse livro também é uma reverência a muitos desses autores baianos, próximos da gente, mas muitas vezes desconhecidos do grande público. Aliás, como surgem pra você os motes de seus livros? É da experiência empírica mesmo, ou são temas e enquadramentos fornecidos pelas editoras? Eu vim ao mundo para contar histórias. Deve ser essa a explicação de, dia sim, dia não, me ocorrer uma ideia de narrativa, vinda das mais variadas fontes de inspiração, da leitura de jornais à observação de meus vizinhos, ouvindo conversa alheia ou reformulando histórias que leio. Acontece também de as pessoas, de bom grado, me oferecerem ideias para seus livros. Não é sempre que funciona, mas, curiosamente, deu muito certo com Os fanzineiros, escrito com base numa ideia de uma amiga, e com Mendax, que foi uma demanda de Fernando Oberlaender.Melhor dizendo, um desafio do editor, que me instigou a escrever uma história que, de lambuja, servisse para o leitor conhecer os autores baianos que estão vivos e atuantes.No mesmo dia em que ele lançou esse desafio, me veio a intuição de que a melhor maneira de reunir muitos personagens é numa história na qual se busque um culpado. E, como eu ainda não havia tido a experiência de escrever uma história detetivesca, me empolguei, e assim nasceu Mendax, o ladrão de histórias.

5. No que a Flica, ao promover um espaço como esse, acrescenta a essa relação entre leitor e escritor? Acredita que as festas literárias, de modo geral, são mesmo incentivadoras da leitura? Hoje em dia, os estudos em ciências humanas têm explorado muito as teorias do afeto: teorias que, ao considerar que somos menos racionais do que o positivismo cartesiano apregoa, buscam entender como estabelecemos vínculos sociais com base na nossa capacidade de mobilizar, uns nos outros, sentimentos bons ou ruins, de alegria ou de tristeza, sentimentos que aumentam ou que abaixam a energia da gente.E as feiras literárias, na minha experiência, são um ótimo exemplo de como o incentivo à leitura é positivamente afetado pelo contato entre autores e o público.E aqui falo tanto como escritor quanto como leitor e frequentador de festas literárias. Ouvir um escritor, associar um corpo em movimento àquele nome da capa, ter a chance de ser contagiado pela paixão de um escritor por sua obra... Tudo isso me afeta a ponto de eu não só sair dessas festas com a mochila cheia de livros, mas também de fazer esses livros furarem a minha longa fila de leituras.

FLICA ESTREIA ESPAÇO CONECTADO COM A NOVA LITERATURA

Programação da Flica/Mesas

Quinta-feira (24) 15h: Lilia Moritz Schwarcz e Eliana Alves Cruz na mesa Cartografias do Brasil Contemporâneo. Mediação: Zulu Araújo. 19h: Itamar Vieira Júnior e Marcelo Maluf na mesa Cartografias da Subalternidade: a Construção do Lugar do Outro. Mediação: Wesley Correia.

Sexta-feira (25) 10h: Thalita Rebouças e Saulo Dourado na mesa A Leitura não Precisa ser Essa Coisa Chata. Mediação: Ronaldo Jacobina. 15h: Mariana Komisseroff (Argentina) e Natália Borges Polesso na mesa A Literatura que Ousa Dizer o Seu Nome. Mediação: Mariana Paim. 19h: Maria do Rosário Pedreira (Portugal) e Antonio Brasileiro na mesa Estratégias do Eu-lírico, Esse Eterno Fingidor. Mediação: Mônica Menezes.

Sábado (26) 10h: Bráulio Bessa e Antônio Barreto na mesa Pra Cada Canto que eu Olho, Vejo um Verso se Bulindo. Mediação: Maviael Melo. 14h: Lande Onawale e Jovina Souza na Mesa Sobrevivências: a Poesia Frente ao Mundo. Mediação: Lívia Natália. 17h: Marcelo D` Salete e Hugo Canuto na Mesa Quer que Desenhe? Perspectivas Negras nos Quadrinhos. Mediação: Luana Assiz. 20h: Gláucia Lemos – Autora homenageada 2019 na mesa Contemplação, Criação e Mergulhos. Mediação: Carlos Ribeiro.

Domingo (27) 10h: Irmandade da Palavra Convida Slam das Minas Bahia na mesa A poesia Apresenta suas Armas.

Programação da Geração Flica 2019

Quinta, 24 de outubro Atração 1 – “Literatura de Instagram, arte ou brincadeira?” Autor: Edgard Abbehusen Mediadora: Bárbara Sá Hora: 10h

Atração 2 – “LIVES: Novos modelos de criação” Autora: Pam Gonçalves Mediadora: Bárbara Sá Horário: 14h

Atração 3 – “Vídeo Game é coisa de menina” Autora: Clara Alves Mediadora: Bárbara Sá Horário: 16h

Sexta, 25 de outubro Atração 4 – “Infanto-juvenis invadindo as escolas” Autor: Breno Fernandes Mediadora: Bárbara Sá Horário: 10h

Atração 5 – “Oi, mãe, meu livro foi parar no cinema” Autora: Thalita Rebouças Mediadora: Bárbara Sá Horário: 14h

Atração 6 – “Araruama e o fantasismo nacional” Autor: Ian Fraser Mediadora: Bárbara Sá Horário: 16h

Sábado, 26 de outubro Atração 7 – “Do livro para os palcos” Autor: Aldri Anunciação Mediadora: Bárbara Sá Horário: 10h

Atração 8 – “O fenômeno de se autopublicar” Autor: Tatiana Amaral Mediadora: Bárbara Sá Horário: 14h

Atração 9 – “Não me julgue” Autor: Matheus Rocha Mediadora: Bárbara Sá Horário: 16h

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Serviço O quê: Festa Literária Internacional de Cachoeira – Flica 2019 Quando: 24 a 27 de outubro de 2019 Onde: Cachoeira (a 110km de Salvador) Entrada gratuita