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Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2019 às 17:42
- Atualizado há 2 anos
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou a sede da Polícia Federal em Curitiba, onde estava preso, na tarde desta sexta-feira (8). Lula teve a liberdade concedida pela Justiça depois de uma decisão de ontem do Supremo Tribunal Federal (STF) que volta a considerar inconstitucional a prisão após condenação em segunda instância. Como ainda tem recursos em andamento e não tem prisão preventiva em seu nome, Lula foi beneficiado pela decisão.>
Ele deixou a prisão acompanhado de familiares, da namorada Rosângela e de políticos como Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Logo depois, falou aos militantes que aguardavam em frente à sede, criticando o que chamou de "banda podre" do Ministério Público e agradecendo o apoio que recebeu enquanto esteve preso.>
A defesa do ex-presidente protocolou na manhã de hoje pedido de liberdade. Os defensores alegaram que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou inválida a execução provisória da pena em segunda instância, é de conhecimento público e pede que seja expedido alvará de soltura para o petista. Lula está preso desde 7 de abril de 2018 na sede da Polícia Federal do Paraná, berço da Operação Lava Jato.>
"Luiz Inácio Lula da Silva, qualificado nos autos da Execução Penal Provisória em epígrafe, cujos trâmites se dão por esse douto Juízo, vem, por seus advogados que abaixo subscrevem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, requerer a expedição imediata de ALVARÁ DE SOLTURA, diante do resultado proclamado na data de ontem pelo Supremo Tribunal Federal - público e notório - no julgamento simultâneo das ADCs 43, 44 e 54", informa o documento protocolado às 11h12 na 12.ª Vara Federal de Curitiba.>
Na decisão pela soltura, o juiz diz que com a decisão do STF "firmou-se novo entendimento, no sentido de que a execução penal provisória, antes de findadas as oportunidades para recurso, somente é cabível quando houver sido decretada a prisão preventiva do sentenciado, nos moldes do artigo 312 do Código Processo Penal".>
O ex-presidente ainda tenta a anulação do processo argumentando que o ex-juiz Sergio Moro não tinha a imparcialidade necessária para julgá-lo. Ele também foi condenado em outro caso, envolvendo um sítio em Atibaia. O julgamento de uma apelação de Lula neste caso foi marcado para o dia 27 deste mês.>
A decisão do STF foi considerada como um revés para a Operação Lava-Jato. De acordo com levantamento do Ministério Público do Paraná, ao menos 38 réus presos no âmbito da operação devem ser beneficiados pela decisão. Lula foi condenado a uma pena de oito anos e 10 meses por corrupção na Lava Jato.>
Livre Solto, Lula não será impedido de viajar pelo País nem de participar de atos políticos, segundo o que é previsto no Código de Processo Penal (CPP). Por outro lado, como já foi condenado por duas instâncias, Lula não pode concorrer a cargos públicos em razão da Lei da Ficha Limpa.>
Em tese, a lei também não o obriga a cumprir medidas como se recolher em casa à noite, usar tornozeleira eletrônica ou entregar seu passaporte à polícia. Há uma exceção, porém. Se o Ministério Público Federal (MPF) avaliar que o réu oferece algum risco à investigação, ao processo ou a testemunhas, pode pedir à Justiça uma prisão preventiva ou alguma medida cautelar, como a proibição de sair do País, por exemplo. Desde que começou a ser investigado na Operação Lava Jato, no entanto, o ex-presidente não foi alvo de nenhuma decisão deste tipo. Lula no dia em que foi preso (Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação) Cidadão comum "Lula não praticou qualquer ato ilícito e é vítima do uso estratégico do direito para fins de perseguição política", disseram em nota os advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins e Valeska Martins. >
Juristas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo afirmaram que o julgamento do Supremo faz com que, se for solto, Lula passe a ter direito às mesmas liberdades de um cidadão que não responde a nenhum processo e pode gozar da presunção de inocência enquanto seu processo não chegar ao trânsito em julgado.>
"Lula poderá ter de cumprir alguma medida cautelar, mas isso depende de um pedido do Ministério Público", disse o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Davi Tangerino.>
Segundo o artigo 282 do CPP, a determinação de medidas cautelares está ligada ao cumprimento de requisitos. "Lula respondeu ao processo inteiro em liberdade, não deu causa a nenhum tipo medida cautelar nem pedido de prisão preventiva. Então, a princípio, estará gozando de sua liberdade plena", afirmou a presidente da Comissão de Direito Penal da Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo (OAB-SP), Daniella Meggiolaro Paes de Azevedo.>
Agenda Mesmo antes de terminar o julgamento do Supremo, dirigentes do PT começaram a discutir uma agenda política para Lula. A ideia é organizar o máximo possível de viagens antes do fim deste ano. Segundo a deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional do partido, o PT vai continuar batendo na tecla do "Lula livre" até que o ex-presidente tenha a condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro anulada. A pressão é para que haja o julgamento da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro.>
Os petistas acreditam que a primeira aparição pública de Lula será na vigília que foi montada em um terreno na frente da superintendência da PF em Curitiba. O grande palco político para Lula, no entanto, deve ser o Congresso Nacional do PT, entre 22 e 24 de novembro, em São Paulo. >
Condenações Na primeira instância, Lula foi condenado a 9 anos e 6 meses no caso do triplex do Guarujá, pelo então juiz Sérgio Moro. Ele era acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. O juiz entendeu que Lula recebeu o triplex como propina da construtora OAS para favorecer a empresa em contratos com a Petrobras. Lula sempre negou.>
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) depois elevou a pena para 12 anos e 1 mês. Em abril deste ano, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) diminuiu a pena para 8 anos, 10 meses e 20 dias.>
Também na Lava Jato, Lula foi condenado em primeira instância pela juíza substituta Gabriela Hardt por corrupção e lavagem de dinheiro por ter recebido propina por meio da reforma de um sítio em Atibaia (SP), em fevereiro deste ano. A pena de Lula nesse processo é de 12 anos e 11 meses. A defesa recorreu, e a ação ainda não foi julgada pelo TRF-4. O ex-presidente responde ainda a mais seis processos.>