Facção tortura e executa suspeito de estuprar e matar enteada de 2 anos

Vídeo com as cenas de tortura foram divulgados em grupos de WhatsApp pelos bandidos

Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 08:42

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Arquivo CORREIO

O suspeito de ter matado e estuprado a própria enteada de apenas dois anos, no bairro de Vila Canária, em Salvador, foi morto na noite de segunda-feira (21) depois de ser capturado por uma facção criminosa. Em um vídeo, que circula nas redes sociais e que foi obtido pelo CORREIO, é possível ver o ajudante de pedreiro Edson Neri Barbosa dos Santos, 27 anos, amordaçado, sem roupa e com um ferimento na cabeça. 

Ao CORREIO, um familiar de Ágatha Sophia afirmou que o homem que aparece nas imagens é Edson. Ele estava foragido desde o domingo (20), dia em que a menina morreu antes mesmo de dar entrada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Marcos, para onde foi levada desacordada pela mãe. 

No vídeo de 15 segundos, é possível ver o ajudante de pedreiro sem roupa, com um pano amordaçando a boca e com as mãos atadas por uma corda. Durante as gravações, homens aparecem afirmando que fazem parte da facção criminosa Bonde do Maluco (BDM). "Olha para a puta aí. A puta está pedindo até por favor agora", diz um dos homens que registra a cena. 

Em um outro momento um outro homem diz: "Vai morrer, viado. Vai morrer. Estrupando os outros, né? (sic)", fala enquanto o suspeito leva um tapa no rosto. "Mexeu com criança a gente mata, estuprador maldito", completa o homem com celular em punho. O CORREIO optou por não divulgar o vídeo. Polícia Civil divulgou foto de Edson Neris Barbosa, 27: suspeito do crime (Foto: Divulgação/Polícia Civil) Ainda de acordo com familiares da menina, na tarde desta segunda-feira (21), Jéssica Silva, 21, mãe de Ágatha Sophia, uma irmã e uma tia foram ouvidas pelo Departamento de Homicídio de Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro da Pituba. 

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A Polícia Civil informou que a 1ª Delegacia de Homicídios / Atlântico (1ª DH / Atlântico), do DHPP, recebeu a confirmação do Departamento de Polícia Técnica (DPT) de que o corpo de um homem encontrado com marcas de tiros no CIA/Aeroporto, na noite de segunda-feira (21), é de Edson. A prisão temporária tinha sido decretada nesta segunda-feira (21). A morte do ajudante de pedreiro é investigada pela 1ª DH / Atlântico.

Edson não tinha passagem pela polícia, mas foi investigado por associação ao tráfico.

Abuso sexual De acordo com assessoria de comunicação da Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS), Ágatha deu entrada na UPA de São Marcos na companhia da mãe e já sem sinais vitais. Uma equipe de médicos que estava de plantão realizou procedimentos a fim de reanimá-la, mas a menina já estava morta.

Ainda de acordo com a pasta, não há como saber a causa da morte. “A SMS esclarece que não realiza investigação da causa da morte, procedimento de anuência do IML, local para onde o corpo foi encaminhado”, disse em nota. 

Contudo, parentes afirmam que os próprios médicos da unidade os alertaram sobre a possibilidade da menina ter sido abusada sexualmente antes de sofrer uma parada cardiorrespiratória – o que teria sido a causa da sua morte.

De acordo com o Departamento de Polícia Técnica (DPT), o laudo que atesta o que matou a menina só deve ficar pronto em 15 dias, podendo ser prorrogado, caso haja necessidade. O DPT não informou quais exames seriam realizados no corpo de Ágatha.

O enterro da menina ocorre na manhã desta terça-feira (22), no Cemitério Municipal de Pirajá. Jéssica, 21 anos, com a filha Ágatha Sophia (Foto: Reprodução) Dia do crime A diarista Jéssica de Jesus, 21 anos, disse ao CORREIO que saiu de casa no sábado (19), para realizar uma faxina. Depois do expediente, decidiu não voltar para casa e foi ao encontro de algumas amigas no bairro de Tancredo Neves, onde dormiu, retornando no dia seguinte, no final da tarde de domingo (20), depois de receber uma ligação do companheiro. "Ele me ligou e disse que a menina estava passando mal depois de comer arroz com feijão. Me contou que encontrou a minha filha na cama, de barriga pra cima, e vomitando. Com a barriga inchada e uma veia alterada", disse Jéssica. A mãe sequer chegou a entrar no imóvel. A alguns metros da sua residência, que fica no final da Rua José Gomes de Aguiar, encontrou com Edson carregando a menina nos braços, enrolada em um lençol. 

"Peguei minha filha desesperada e saí correndo atrás de ajuda. Um homem, que é pastor evangélico, me deu carona até a UPA. Minha filha já estava revirando os olhos. Olhou para mim, tentou falar 'mamãe', mas não deu tempo", completou a mãe.  Casa onde Ágatha vivia com mãe e padrasto (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Fuga Após entregar a criança, Edson retornou para o imóvel, mas não ficou lá por muito tempo. Após alguns minutos, o suspeito fugiu do local, deixando a porta da casa aberta e um dos seus documentos. A polícia esteve na casa no domingo (20) em busca dele, mas não o encontrou. .

Na manhã de segunda (21), nenhum morador sabia sobre o crime. Afirmam não ter visto e ouvido nada vindo da casa que fica em uma parte não asfaltada da rua. A ajudante de pedreiro Jacinara da Silva Souza, 41, que mora a 100 metros da residência da família, ficou surpresa ao saber da morte da criança. Ela conta que Ágatha era vista sempre na companhia do padrasto e que costumava brincar com outras crianças do bairro. 

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"Semana passada, ela esteve na minha venda chorando. Queria um queimado que custava R$ 0,25, mas o padrasto só tinha R$ 0,20. Vendi. Se eu soubesse que a menina ficava em casa sozinha com ele, eu mesma teria pedido para a mãe que ela ficasse aqui comigo e meus filhos. Lamentável o que aconteceu", desabafou.

Violento Se, por um lado, os vizinhos nunca haviam presenciado nenhuma cena que os fizesse duvidar da conduta do acusado, por outro, um primo da menina, que preferiu não se identificar, disse que Edson batia na criança. "Uma vez, a menina caiu. Quando ela se levantou, Edson deu um tapa nas costas dela e Ágatha caiu de novo, de cara no chão", lembra. A mãe também afirmou já ter apanhado dele.

Os três se mudaram há cerca de seis meses para a Vila Canária. Antes, moravam no bairro de Tancredo Neves. Jéssica tem um outro filho de 5 anos, que mora com a avó, no Subúrbio. Edson também é pai de um menino de 4 anos, de outro relacionamento. O pai de Ágatha morreu há dois anos.

Justamente por ser novato na rua, as pessoas pouco sabiam da rotina do suspeito. Na localidade, ele era conhecido como Grande. Na internet, ele também apresentava um perfil discreto. Em uma das suas redes sociais há apenas uma única foto dele e com o rosto coberto por um emoji. "Como se quisesse esconder alguma coisa", afirmou o primo. 

Telefonema Durante um telefonema para a companheira, na manhã de segunda, Edson tentou justificar o ocorrido. "Eu não mexi nela, não. Você acha que eu, que eu, vou... (inaudível). Eu só fiz bater. Bati sábado".

Edson era procurado pela Polícia Civil desde a noite desse domingo. Nesta segunda, foi "apontado como o autor do estupro da enteada" pela polícia, que divulgou foto dele. 

O CORREIO teve acesso a dois áudios de um telefonema feito pelo suspeito para a mãe da vítima, além de uma série de mensagens de texto. Durante um trecho da ligação, Edson tenta argumentar que não foi o autor do estupro e que "não tocou na menina".

Em outro momento, ele pergunta à companheira se a polícia já tem conhecimento do caso e pede que ela não entregue os seus documentos. O ajudante de pedreiro sugere também um encontro entre os dois.

Já durante uma troca de mensagens, por volta das 9h, Edson pediu perdão à mãe da menina e tentou saber o estado de saúde da vítima."Por favor, atende. Estou sofrendo. Amo ela. Ela vai ficar boa. Estou sofrendo, amor. Não sei o que eu faço. Me ajuda, por favor. Me perdoa, amor", escreveu.Jéssica tentou esconder do companheiro que a filha tinha morrido, como uma forma de tentar descobrir o paradeiro dele. A Polícia Civil informou que a 2ª Delegacia de Homicídios (DH/Central) investiga o caso, que depois será encaminhado para a Delegacia de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente (Dercca). 

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier