Falha em freio de elevador pode ter causado acidente que matou dois na Vitória

Fiscalização encontrou motores fora do lugar e quebrados

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  • Bruno Wendel

Publicado em 19 de março de 2019 às 12:52

- Atualizado há um ano

Uma falha na frenagem de um dos motores de um elevador é o provável motivo de ter provocado a morte de Ronério Silva dos Santos, 35 anos, e Giovani Silva dos Santos, 17, trabalhadores de uma obra na parte externa da Mansão Carlos Costa Pinto, uma das mais luxuosas do Corredor da Vitória. Um terceiro trabalhador ficou ferido durante o acidente.

"Apesar do trabalho de investigação ainda estar no início, a possibilidade é de que houve uma falha na frenagem. Encontramos um dos motores fora do lugar e quebrados", explicou o auditor fiscal do trabalho e coordenador de investigação de acidentes da Superintendência Regional do Trabalho, Anastácio Gonzaga, durante vistoria do edifício realizada na manhã desta terça-feira (19). A queda será investigada em um inquérito instaurado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Tio e sobrinho serão enterrados no cemitério Campo Santo, na Federação, na tarde desta terça (19) (Foto: Divulgação) Os corpos das vítimas foram liberados do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IML) na noite de segunda-feira (18) e serão sepultados às 16h, no Cemitério Campo Santo, na Federação. O funcionário que sobreviveu ao acidente será ouvido nesta quinta-feira (21), na sede da Superintendência Regional do Trabalho. Técnicos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur)  e peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) também estiveram no local. 

De acordo com Anastácio Gonzaga, o condomínio contratou duas empresas para realização da obra - a primeira delas, a TecPort Ltda, para a construção de um elevador para levar os trabalhadores aos andares, e a outra seria responsável pela execução da obra de manutenção da fachada do prédio de 17 andares.

Há uma semana foi iniciada a montagem do elevador  e, até ontem, dia do acidente, o equipamento havia sido erguido até o 15° andar. "Ontem, os trabalhadores testavam o elevador, que despencou de uma altura de 30 metros, no 5° andar. Os motores são responsáveis pela elevação, descida e frenagem do elevador. O que não sabemos ainda é a dinâmica da queda e quem poderá contribuir com informações é quem sobreviveu", pontuou Anastácio. Auditor do Trabalho informou que acidente pode ter sido provocado por falha nos frios do elevador (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) O auditor explicou que é a fase de confrontar os documentos apresentados pela empresa e pelo condomínio. "Nosso objetivo aqui é atuar em cima da relação de trabalho. É por isso que estamos recolhendo documentos e notificações para apresentação de outros documentos que possam ajudar no esclarecimento do que aconteceu", disse Anastácio.

Empresa pode ser autuada O auditor disse que ainda não tem conhecimento de que  um dos mortos, Giovani Silva dos Santos, era um adolescente de 17 anos.  "Ainda não fomos informados oficialmente pela polícia ou pela família, mas se for comprovado que o rapaz era menor, a empresa será autuada", disse.

Ainda sobre a questão do adolescente ter trabalhado na obra, Anastácio disse que o condomínio não pode ser penalizado. "O rapaz era funcionário da empresa. Não há responsabilidade do condomínio, mas fica de lição para que os condomínio prestem mais a atenção a quem tem acesso, mesmo numa obra", disse.

Advogado do  Mansão Carlos Costa Pinto, Moisés Dantas disse que o condomínio não sabia que um dos funcionários envolvidos no acidente era um adolescente e responsabiliza a empresa, a TecPort Ltda. "Ele (Giovani) não estava na lista de funcionários enviada pela empresa para ter acesso ao condomínio para a montagem do elevador. O sócio-proprietário da empresa ligou para a portaria pedindo a liberação de seus funcionários que chegavam no carro. Ou seja, não passaram pela portaria", declarou Moisés. 

Questionado quanto ao fato da autorização para a realização da obra, o advogado informou que não há necessidade de licença de órgão fiscalizador para obra em questão. "Com base na Lei Minicipal 9.281/2017 é dispensado alvará para obras de pintura externa e interna e manutenção de fachada, mesmo em obra desse porte", explicou. 

Sobrevivente se desprendeu de cinto de segurança O sobrevivente do acidente teria escapado após desprender-se do cinto de segurança.

"Em toda obra dessa porte o trabalhador, além de usar os tradicionais equipamentos de segurança, como capatece, bota, luva, tem que usar o cinto de segurança. Na hora, quando o elevador havia despencado, ele teria  soltado o cinto  e calculado a altura certa para pular. Ele caiu na grama", disse Arilson Ferreira Santos, diretor de  saúde do Sindicato dos Trabalhadores na  Indústria, da Construção Civil e da Madeira do Estado da Bahia (Sintracom-Ba), que acompanhou a vistoria. Técnicos da Sedur e peritos do DPT também estiveram lá, mas deixaram o local sem falar com a imprensa.

O condomínio divulgou uma nota informando que lamenta profundamente e se solidariza com a dor das famílias dos trabalhadores. "O acidente aconteceu na montagem do elevador de obras pela empresa Tecport para realização de obras na fachada do prédio. Os dois dos trabalhadores são contratados da Tecport, responsável pelo fornecimento, instalação e montagem de 'plataformas motorizadas', e que já prestou serviços ao Condomínio durante dois anos. O Condomínio informa que está colaborando com as autoridades para que as causas do acidente sejam esclarecidas", diz a nota.