Fãs de Igor Kannário e La Fúria defendem o estilo 'pagodeiro de ser'

Cantor e deputado federal arrastou pipoca na Barra nesta sexta

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  • Vitor Villar

Publicado em 2 de março de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Quem é de fora, talvez pense que o Carnaval é a festa do axé. Também. Mas o ritmo que tem dominado o circuito nos últimos anos - seja na pipoca ou no bloco - é o pagode. Ou ‘quebradeira’. A verdade é que há toda uma discussão em torno de como chamá-lo.

"Eu prefiro quebradeira. Pagode pode ser muita coisa diferente", diz a estudante Alessandra dos Santos, 18 anos. Tá bom, mas quem curte pagode é pagodeiro. E quem curte quebradeira, é o que? "Eu chamo de pagodeira, mesmo", brinca a sua amiga, Isabela Santos, estudante de 17 anos.

Nesta sexta-feira, 01, a noite do Circuito Dodô foi dominado pelo pagode - ou quebradeira, que seja. Se apresentaram, em sequência, artistas como La Fúria, Psirico, Igor Kannário e Parangolé.

Essa geração de artistas tem feito os jovens de Salvador baterem no peito e dizerem: "Sou sim, pagodeiro. Qual o problema?". Assim mesmo, sempre com um quê de contestação do sistema. 

"Eu gosto de ser pagodeiro, sim. É uma música que faz a gente dançar, se divertir, e ainda representa a gente da favela. Gosto do que os caras tipo Kannário falam", completa o estudante Artur Conceição, 20 anos.

"Eu gosto porque é dançante, eu gosto de dançar", explica Alessandra dos Santos. "Eu também. Menos Kannário, que não dá pra dançar porque é muita confusão", completa sua amiga, Isabela.

Não existe um certo jeito de ser e de se vestir para ser pagodeiro. Olhando ao redor do grupo que seguia o trio pipoca de Igor Kannário - sem dúvidas, o mais concorrido da noite -, por exemplo, até que viam-se garotos sempre de bermuda tactel - as chamadas 'bermudas batedeiras' -, a maioria floridas. Camisas, de marcas como Hurley ou Osklen.

Mas isso é um estereótipo. Quem é pagodeiro diz que o certo é se vestir à vontade. "Eu mesmo uso tênis basqueteira porque me sinto bem assim, é estiloso", conta Artur Conceição.

Ter estilo, assim como para qualquer grupo, é importante. Geder Amorim foi pra pipoca de cabelo descolorido e jóias. "É meu estilo, gosto de usar assim", resume.

Tem um estereótipo importante que precisa ser quebrado. Gilberto Souza e Anthony Rios vieram de Jacobina para acompanhar Kannário pela primeira vez no Carnaval de Salvador. Eles são brancos e não são de nenhuma favela.

"O que ele fala me motiva a ser melhor. Acompanho ele há muito tempo. É um cara humilde e que ajuda a todo mundo que pode. Tem gente que vê só a aparência e já sai julgando. Não sabe nada da vida do outro. Eu mesmo acho de boa sair na pipoca dele", diz Gilberto. La Furia (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Rivalidade

Há uma certa rivalidade entre os públicos das bandas de pagode. Dá para sentir isso sobretudo entre os fãs de Kannário e La Fúria.

"Eu prefiro La Fúria porque você dança, tem mais putaria, você beija e pega mais mulher. Kannário é mais embaçado, só tem homem brigando", provoca Jonas do Espírito Santo.

"Eu mesmo escuto de tudo, mas de pagode só gosto de Kannário. As outras bandas só tem baixaria", devolve Luan Macedo, auxiliar administrativo de 24 anos.

A febre

Mas o que explica essa febre toda em torno das bandas de quebradeira? Os próprios pagodeiros têm suas teorias e explicações.

Alex Duarte é integrante do fã-clube de Igor Kannário chamado Linguagem do Ghetto. Ele e seus amigos seguem o cantor - agora deputado federal pelo PHS - há seis anos, desde os tempos da banda A Bronkka.

"Ele é representante da favela. Ele é favela de verdade, fala o que a gente quer ouvir. Um cara humilde. A favela não tem ninguém igual a ele pra representar a gente. Por isso que fomos criando esse amor por ele", conta Alex.

Mas tem quem não goste de Kannário e prefira, por exemplo, a La Fúria. "Não precisei nem ter entrado na pipoca de Kannário. Não quis porque é muita confusão, muita briga. Na La Fúria você tem letra com 'pegada' social também, mas sem aquela briga", conta Genilson Souza, vidraceiro de 25 anos. "Mas quando Kannário fala, os caras ouvem", reconhece.

Alex rebate que essa fama de que a pipoca de Kannário só tem briga é um exagero: "É uma grande bobagem. Na favela não tem só ladrão, não. Também tem gente de bem. Tem que saber separar as coisas. Quem vai atrás de Kannário é favelado que não tem condição de pagar por bloco".

Alex completa dizendo que não gosta de nenhuma outra banda - especialmente a La Fúria. "Só gosto dele. Porque as outras bandas não representam igual a ele", diz.

A cobertura do Correio Folia conta com o apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.