Festival literário: Flipelô encerra programação com literatura e dramaturgia

Volume de público superou expectativa da organização que planeja criar no próximo ano, a Rota das Artes com galerias e museus

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  • Priscila Natividade

Publicado em 12 de agosto de 2019 às 05:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Priscila Natividade/CORREIO

Muita gente que acompanha adaptação de um livro para uma obra audiovisual quase sempre questiona se aquela transposição foi fidedigna ao original ou não. Mas a verdade é que ela, não é e nem precisa ser, como defende o autor de telenovelas Ricardo Linhares. “O que importa é manter a fidelidade ao tom do autor, mas o trabalho de adaptação é ir costurando uma história que você precisa inventar para ligar esses pontos emocionalmente”, afirmou o roteirista que tem no currículo três adaptações de obras de Jorge Amado para a televisão: Tieta (1989), Mar Morto e A Descoberta da América pelos Turcos, que inspiraram a novela Porto dos Milagres (2001).

Junto com o jornalista e autor do livro Se Eu Fechar os Olhos Agora, Edney Silvestre, Ricardo Linhares participou da mesa de debate Assista a Esse Livro, que discutiu a adaptação da mesma obra para a televisão e encerrou a programação da terceira edição da Flipelô, neste domingo (11). A mesa mediada pelo jornalista Ricardo Ishmael contou ainda com a participação da atriz Mariana Ximenes, que na minissérie da Rede Globo viveu a personagem Adalgisa.

Os convidados debateram junto com a plateia as dores e delícias de uma obra aberta, até mesmo quando adaptadas, assim como as estratégias narrativas para trazer a história de um livro para a televisão. “No caso da nossa parceria, o Ricardo (Linhares) mesmo antes de começar a escrever o roteiro da minissérie já tinha conversado comigo sobre as intenções que ele tinha para a história”, destacou Silvestre que disse que muitos elementos da história presentes nos dias atuais:

“Apesar de ser um livro ambientado nos anos 60, eu vejo uma época em que o Brasil vivia um momento sombrio, ao mesmo tempo em que buscava mudança. E eu acho que é esse tempo que a gente vive hoje de luz e sombra. Eu como repórter, tenho a presença do Brasil comigo o tempo todo. E o que eu vejo também surge na minha ficção. Tudo que eu escrevo é profundamente enraizado nisso”.

Sobre a obra Exibida no mês de abril pela Rede Globo, Se Eu Fechar os Olhos Agora traz na sua trama suspense, crimes e um assassinato que poderosos de uma pequena cidade tentam esconder. “A Adalgisa foi uma delícia de fazer. Ela é uma mulher absolutamente contemporânea, que tem um envolvimento amoroso extraconjugal. É muito bom fazer uma mulher como essa principalmente nos tempos de hoje em que se fala tanto de feminismo na dramaturgia e na vida”, lembrou a atriz Mariana Ximenes.

O livro vencedor dos prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura em 2010. A adaptação para a televisão marcou também o último trabalho da atriz Ruth de Souza, que morreu aos 98 anos, no mês passado após uma pneumonia. Segundo o roteirista da minissérie, Ricardo Linhares, a personagem interpretou a cozinheira Madalena.“Tive que batalhar muito para ter ela na série. A Globo tinha muito medo do estado de saúde dela. Eu escrevi para Ruth. Eu precisava disso. Ela foi no lançamento da minissérie  e estava linda. Muito feliz. Todos nós temos orgulho disso”, disse o roteirista.Mais Flipelô E a edição do ano que vem já está garantida, sempre na mesma semana em que se comemora o aniversário de Jorge Amado. Segundo a organização do evento, a ideia é criar ainda uma Rota das Artes que deve envolver as galerias e museus do Pelourinho.

A expectativa da Flipelô era receber 80 mil pessoas, mas com lotação completa em todos os espaços esta média acabou sendo superada. Nos últimos três anos, a Flipelô quase que quadruplicou o número de espaços. Em 2017 eram 12 locais fora os espaços oficiais. Este ano foram 40 espaços e mais 27 restaurantes que integram a Rota Gastronômica.

A professora Ligia Cristina de Souza, de 45 anos e a filha Thamires Maria de Souza, 18, saíram de Candeias para participar da Flipelô. “Eu particularmente gostei muito da edição deste ano. A programação do teatro acontecia de hora em hora, com opções para todos os públicos e gostos independente da idade”. (Foto: Priscila Natividade/CORREIO) Noveleira assumida, ela contou que gostou muito da mesa que discutiu o processo de adaptação de uma obra literária para a televisão: “Amo novela. Eu me questionava muito quando colocavam elementos que não existiam no livro e quando você entende a estratégia que está ali por trás para fisgar a nossa atenção, fica ainda melhor”.

Estimulada desde criança a ler, a filha Thamires, concordou: “sempre li muito por influência de minha mãe. Como jovem, eu vejo que eventos como este servem de estímulo à leitura por prazer e não por obrigação”.