Filho meu não cresce em bolha

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Publicado em 22 de abril de 2019 às 16:34

- Atualizado há um ano

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"Tira esses fones", "larga o celular" , "lê as placas", "me ajuda!" e, afinal, depois de três horas de tentativas, uma clássica explosão materna. "Filho meu não cresce em bolha!", gritou a minha amiga para o garoto que simplesmente ignorava a existência das outras quatro pessoas no carro. Ela, exausta. Muito mais da tarefa de maternar um pré-adolescente do que das longas horas de volante que encarou, para que a nossa Semana Santa acontecesse sobre o chão de cristais, entre as incríveis montanhas da Chapada Diamantina.

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Essa amiga é uma das minhas heroínas, ainda que eu saiba do quanto usar esse termo, em casos como o dela, colabora para a romantização de rotinas que poderiam ser mais leves, se todos cumprissem os seus papéis. Mas me permitam essa licença poética e passemos ao que me traz aqui. O fato é que, além de gestar, partir, amamentar, embalar, acalentar e tantos outros verbos que exercemos (muitas vezes, na mais completa solidão), agora temos a novíssima demanda de educar filhos que estão crescendo sem acreditar que o outro, de carne e osso, existe.

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É moleza? Né não. Escutando a conversa entre minha amiga e o filho, me bateu a sensação de que salvar as relações, reacender conceitos como cooperação e coletividade, resolver essa zona que tá aí é mais uma tarefa que jogaram em nossos colos. Ou sempre esteve, mas agora parece mais complexa com o intenso convite para um universo que faz com que o mundo real, simplesmente, desapareça. Por horas, dias. Em casos graves, para o resto da vida e sabemos disso. 

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Sim, falo dos jogos, aplicativos, playlists e afins, desse mundo que cada um desenha para si à sua imagem e semelhança. Não discuto conteúdo, mas o cachimbo e o hábito que tem deixado bocas tortas. Ainda que a contemporaneidade me assuste bem pouco, não consigo ignorar o fato de que presencio, cada vez mais, o esforço de mães pela saúde mental de filhos que apenas fogem daqui, a cada mini momento de tédio, conflito, realidade. Daqui, digo, do mundo real, do olho no olho, dos aprendizados que nenhum ambiente virtual oferece. 

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Há um vazio enorme de formação. Há mães percebendo esse buraco e novíssimos pontos de atrito com filhos adolescentes, aqueles que, desde sempre, se trancam nos quartos. Há mais uma "ladainha" materna e mais um motivo para se afastarem e nos chamarem de "chatas". Principalmente a nós, porque esses mergulhos demorados no infinito silêncio da virtualidade, assim como comer salsicha todo dia e deixar de escovar os dentes, é mais uma das coisas que "com papai pode". Só que, desta vez, é mais grave.

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