Filmes sobre Suzane Von Richtofen decepcionam

Longas estão no Amazon Prime Video e contam mesma história a partir de dois pontos de vista

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  • Roberto Midlej

Publicado em 28 de setembro de 2021 às 09:46

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Divulgação

Mesmo sendo um dos países mais violentos do mundo - no ano passado, quase 44 mil pessoas foram assassinadas no país -, o Brasil tem, em sua história, crimes emblemáticos, que ficam na memória de todos e ocupam durante anos a mídia. Este é o caso de Suzane Von Richthofen, a paulista que, aos 19 anos de idade, em 2002, participou do assassinato dos pais, junto com o namorado, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian.

Já se passaram 19 anos e Suzane ainda é notícia, seja por causa de seu casamento com outra presidiária ou por causa das "saidinhas temporárias" que lhe são concedidas. Com tanto interesse, era natural que a história rendesse um filme, que até demorou muito para sair.

Finalmente, chegaram à Amazon Prime Video os dois longas que contam duas versões da história: A Menina que Matou os Pais, sob o ponto de vista de Daniel, e O Menino que Matou Meus Pais, sob o ponto de vista de Suzane. Carla Diaz vive a protagonista e Leonardo Bittencourt é Daniel. Os filmes deveriam ter estreado em março do ano passado, mas a chegada aos cinemas foi cancelada devido ao início do isolamento social.

A direção é de Mauricio Eça (Carrosel/2015 e Apneia/2014) e o roteiro é de Raphael Montes (de Bom Dia, Verônica, da Netflix) junto com Ilana Casoy, escritora e criminóloga que já assinou um livro sobre o caso, O Quinto Mandamento - Caso de Polícia. Para criar os filmes, a dupla decidiu se basear exclusivamente nos autos do processo.

Segundo Raphael, essa a ideia surgiu quase por acaso. Na época do crime, o roteirista tinha 12 anos de idade e, desde, aquele período, ele se faz a mesma pergunta: "O que aconteceu para chegar ao ponto de um duplo assassinato?". Fez essa pergunta a Ilana num dos encontro que tiveram e ouviu dela o seguinte: "Não sei o que aconteceu, mas sei o que cada um contou".

Raphael diz que foi neste momento que "acendeu uma luz": "Foi a 'luzinha' da criatividade e aí decidimos contar as duas versões, para contrapor uma à outra. Não são a 'verdade', afinal não sabemos a verdade. Mas são as visões de cada um sobre a sua verdade", revela. Para o diretor Maurício Eça, a experiência só é completa caso os dois filmes sejam vistos. "Cada um escolheu o que queria contar e resolvemos dar voz a eles. Em cada filme, tem a verdade de um, que pode não ser a verdade do outro. É muito interessante ver uma cena que está em um filme e não está no outro. Você vai se perguntar: por que está aqui, mas não está no outro?".

Os autos do processo também foram essenciais para orientar os atores, como observa Leonardo Bittencourt: "Nós não lemos só a sentença, mas lemos todo o processo. Então, conhecemos os depoimentos de várias pessoas e a partir deles percebemos os traços de personalidade dos personagens". O ator também tomou curso de aeromodelismo para atuar em algumas cenas, já que Daniel era aeromodelista na época do crime.

Para Carla, foi um desafio interpretar uma personagem que é apresentada de maneira completamente diferente em cada um dos filmes. Na verdade, são praticamente dois personagens: a Suzane que aparece no filme que apresenta a versão dela própria é ingênua, virgem, nunca experimentou maconha... Leonardo Medeiros, no centro, é Manfred, pai de Suzane. Vera Zimmerman vive Marisia, mãe da jovem Já Daniel, em seu depoimento, apresenta o completo avesso: a Suzane dele é ardilosa, maquiavélica até. Enquanto ele a acusa de tê-lo manipulado, ela faz o contrário e diz que ele que a convenceu a matar os pais dela, Manfred e Marisia.

"Há praticamente três versões diferentes de Suzane: uma em cada filme e ainda uma terceira, que é aquela que aparece no tribunal, dando depoimento, já mais velha", revela Carla. A atriz observa um outro desafio que viveu: os dois filmes foram rodados simultaneamente, então, se num momento ela interpretava a Suzane ingênua, logo depois vivia a versão maquiavélica.

Apesar do esforço de Carla, ela não consegue escapar da caricatura: seu olhar e seu tom de voz parecem o tempo inteiro estar avisando ao espectador "eu sou uma psicopata". E não é só a ela que falta sutileza, já que os dois filmes são marcados por certo artificialismo, a começar pelos diálogos, com frases "forçadas" e pouco verossímeis. E aquela que poderia ser a virtude dos filmes, a fidelidade aos fatos, acaba tornando-os "arrastados". Talvez, se se permitissem mais liberdade, diretor, roteirista e até os atores tivessem entregado um resultado mais interessante.