Flip 2021 anuncia edição temática sobre florestas

Evento acontece de forma virtual de 27/11 a 5/12 e terá equipe de cinco curadores; programação não foi divulgada 

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  • Da Redação

Publicado em 21 de outubro de 2021 às 15:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Pela primeira vez em 19 edições, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip)  não terá um autor homenageado.  A próxima edição, online como no ano passado, terá uma equipe de cinco curadores e  destacará um tema: plantas, ou melhor, a Mata Atlântica, e sua relação com a literatura em debates virtuais. A Flip 2021 será realizada de 27 de novembro a 5 de dezembro com um coletivo de curadores formado por Hermano Viana, Anna Dantes, Evando Nascimento, João Paulo Lima Barreto e Pedro Meira Monteiro.

Para a programação de debates serão trazidos autores que dão protagonismo aos vegetais, seja na ficção, como o Alejandro Zambra em Bonsai e em A Vida Privada das Árvores, ou no campo das ideias, como o filósofo Stefano Mancuso, autor de Revolução das Plantas. Estes são os únicos nomes divulgados da programação, até agora.

Em entrevista à Folha, Evandro Nascimento diz que "há menos competição que colaboração no mundo vegetal, e esse senso de coletividade tem a ver com a ideia da curadoria florestal". "Cada um de nós é singular, com sua formação, mas há uma convergência de visões de mundo." Para além das lives, a festa anuncia que  haverá manifestações culturais gravadas em Paraty e pequenas sessões organizadas na cidade para assistir à programação.

A busca da floresta como expressão temática da Flip ganha na palavra Nhe’éry (pronuncia-se nheeri) um sinônimo. Nhe’éry é como o povo Guarani chama a Mata Atlântica, uma denominação que revela a pluriversalidade da floresta. Como explica o cineasta e liderança do povo Guarani Mbya, Carlos Papá, Nhe’éry quer dizer “onde as almas se banham”. Além disso, Nhe’éry também conduz mensagens através de fios de palavras.

A ideia é enlaçar a literatura, essencial para se pensar o mundo, com as relações entre humanos e não humanos, destacando a importância das plantas nas obras literárias. Dos buritis de Guimarães Rosa, ao Jardim Botânico e as flores de Clarice Lispector, das árvores de Fernando Pessoa às folhas de Mãe Stella de Oxóssi, do herbário de Emily Dickinson ao planeta-floresta de Ursula K. Le Guin.

No lugar de um escritor homenageado, a Flip deste ano fará uma homenagem coletiva  para todo(a)s o(a)s pensadore(a)s/conhecedore(a)s/mestre(a)s indígenas que tiveram suas vidas interrompidas pela covid-19. Gente de várias florestas do Brasil, gente discípula das plantas, como  Higino Tenório, escritor, benzedor, especialista em arte rupestre, professor e fundador da primeira escola indígena do povo Tuyuka; Feliciano Lana, artista plástico e escritor do povo Desana, conhecido internacionalmente; Zé Yté, colaborador central dos mais importantes estudos sobre a etnobiologia Kayapó; Maria de Lurdes, guardiã das plantas de cura do povo Mura; Meriná, mestra de rituais de cura e benzimentos do povo Macuxi; Domingos Venite, Guarani, líder da maior terra indígena do estado do Rio de Janeiro, militante de novas políticas de saúde indígena.