Futebol além das metáforas

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  • Elton Serra

Publicado em 1 de abril de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Em 2002, durante o período de Copa do Mundo na Ásia, o técnico Luís Felipe Scolari confessou que se inspirava no livro A Arte da Guerra, do filósofo chinês Sun Tzu, que também foi general do reinado de Wu no século IV antes de Cristo. Felipão usava técnicas milenares de guerra para treinar a Seleção Brasileira, que semanas depois conquistaria o pentacampeonato. “O guerreiro hábil coloca-se numa posição que torna a derrota impossível e não perde a ocasião de aniquilar o inimigo”, diz Tzu. O mantra do professor gaúcho, porém, foi levado muito a sério.

Não há nada de errado em usar a expressão, mas, no final das contas, futebol não é guerra. Futebol é jogo. E é dessa forma que deve ser encarado. Ultimamente, os Ba-Vis têm oferecido pouco futebol e muito “belicismo”. O jogo, que é pobre, tem sido ofuscado pelas trocas de provocações fora de campo e ações violentas dentro dele. Sair do estádio com a sensação de que viu um espetáculo técnico e tático é artigo de luxo no maior clássico do Nordeste. “Hoje vai ser guerra” é apenas um subterfúgio para dar combustível a algo que, tecnicamente, deixa muito a desejar.

Torcedor faz a diferença? Lógico que sim! Porém, o povo não pega um fuzil e entra na batalha. Aliás, o futebol já provou ser capaz de parar guerras mundo afora. A torcida tem papel fundamental na atmosfera do jogo, mas também quer ver futebol. A maioria paga ingresso ou senta no sofá para ver o seu time vencer o rival na bola. Quem promove o espetáculo deveria levar algo tão óbvio em consideração. Não parece, mas ainda é a prioridade.

O Ba-Vi de hoje tem alguns elementos que podem torná-lo mais atrativo. O Bahia tem crescido na temporada e mostrado um repertório que pode fazer a diferença nas finais. Se apoia no esquema 4-1-4-1 para criar suas variações, com saídas de bola através de Gregore e exaustivas ultrapassagens dos laterais, dando profundidade ao time e povoando o último terço do campo, multiplicando as opções de finalização e retomada de bola em caso de perda. O Vitória, mesmo com os desfalques, se consolida num 4-4-2 com linhas bem compactas, transições ofensivas velozes e laterais buscando a diagonal para o centro do campo, deixando que os pontas aproveitem os lados e confundam a marcação adversária – isso sem falar em Neilton, vivendo boa fase. Conceitos que se consolidam e que ganham um desafio interessante nos dois jogos da decisão e às vésperas da Série A. 

Uma pena que os dois jogos terão torcida única. Na analogia da guerra, os dirigentes ganharam a chance de colocar milhares contra onze. Os novos hábitos da sociedade e o comportamento do torcedor também influenciaram o futebol baiano, que agora se vê refém da violência nas ruas e se afasta cada vez mais da civilidade esportiva. As guerras têm deixado de ser analogias para serem levadas ao pé da letra. Mesmo tendo conotação diferente, mencioná-las, hoje, soa até perigoso.

Futebol tem favorito? Tem. No Campeonato Baiano, leva o favoritismo quem tem a vantagem do regulamento. Nos últimos anos, o estadual tem sido decidido dessa forma, com raras exceções. Porém, favoritismo não entra em campo. Vence quem adota a melhor estratégia, tem o melhor repertório técnico e tático e está mentalmente preparado. É o que o torcedor quer ver hoje e no próximo domingo. O que ainda atrai é o bom futebol, e não o clima de guerra. Garanto que até Sun Tzu aplaudiria de pé.

Elton Serra escreve aos domingos.