Gordas sim! Tamanhos bem grandes e muita lacração são destaques no Pop Plus

Tudo o que aconteceu e novidades da maior feira plus size do país

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 27 de junho de 2018 às 09:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Allyne Turano e Gabriel Quintão/Divulgação

Imagine ir ao shopping e não achar uma roupa que caiba em você. Que tal sair de casa e ser julgada (o) pelo seu tamanho? Pois essas são apenas duas das situações que quem é gorda (o) - e principalmente quem veste tamanhos maiores, acima do 54 - passa diariamente. Saber disso vai te ajudar a entender o que o fim de semana passado representou na minha vida e na de mais de 12 mil pessoas que visitaram a Pop Plus, maior feira plus size do Brasil.

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Foi a primeira vez que participei, do evento de moda e cultura plus size, que aconteceu nos últimos dias 16 e 17, em São Paulo. A programação lá foi intensa. Garimpei peças lacrativas, representei a Bahia junto com outras mulheres, encontrei pessoas inspiradoras que acompanhava nas redes sociais e pude ser livre. Foi libertador não ter ninguém me julgando. Olhar para o lado e ver pessoas mais gordas e menos gordas que eu, cada uma com seu jeitinho, se respeitando e exalando amor, foi incrível. Encontrar roupas que cabem em mim em todos os stands - e poder escolher o que levar ou não também. Ver gordas e gordos dançando, fazendo pole dance, cantando, expondo arte, debatendo e protagonizando atividades foi emocionante.

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Nos 77 stands de moda masculina, feminina, infantil, íntima, praia, fitness e acessórios, a novidade foram as opções de tamanhos ainda maiores. “Não quero mostrar mais do mesmo. Quis evidenciar que é possível pessoas gordas serem fashionistas e impactantes. Nos ensaios fotográficos do evento, opto por modelos acima da numeração 52. Desta vez, quem estava nas fotos foi a modelo Mariana Nóbrega, que veste 54, e o modelo Gabriel Pereira, que veste 66”, conta a empresária e criadora do Pop Plus, Flávia Durante, 41 anos. Flávia criou o Pop Plus há cinco anos (Foto: Robson Leandro da Silva/Divulgação) Ela criou o evento em dezembro de 2012, quando vendia biquínis GG. Juntou seis marcas de amigas no centro de São Paulo e reuniu 120 pessoas. “Foi despretensioso. Queria juntar pessoas gordas e ganhar um dinheirinho extra. Hoje, 21 edições depois, vejo que ainda é uma demanda reprimida. Se tem tanto cliente atrás, é porque existe a necessidade forte desse público se encontrar na moda”, afirma. 

Quem veste quem Com o empoderamento do movimento, defendemos hoje que é a roupa que deve servir ao corpo da pessoa GG e não nós que devemos nos adequar para servir à roupa. “A gente saiu do querer esconder para o extremo oposto. Tinha uma época em que a moda plus size era muito caricata. Ou era muito pin-up ou muito roqueira. Agora a gente já tem mais nuances, encontra minimalismo, vibes urbanas... Agora a gente já pode ter escolhas”, analisa Flávia.  Mariana Nóbrega (@maqui.nobrega), que veste 54, e Gabriel Pereira (@hellobielo), que veste 66, protagonizaram o ensaio do evento: "É muito importante saber que você está sendo visto e reconhecido como um indivíduo que além do poder de compra também tem o direito de escolher e se expressar através do vestuário da maneira que mais se reconhece", afirma Pereira (Foto: Gabriel Quintão/Divulgação) Pensando justamente em ampliar o leque de escolhas das mulheres mais gordas, ela tem batido na tecla do aumento da grade de tamanho das marcas. “A gente tem discutido muito desde o dezembro do ano passado porque nosso público forte era do 48 ao 54. Só que, do ano passado pra cá, começaram a aparecer as clientes maiores, que vestem 60 e não achavam opções do seu tamanho. Fiquei superchateada e pedi às marcas para aumentarem a grade. Quem vendiam só até 52 agora está fazendo até 60. Oferecer até 52 e 54 já é o clichê do plus size. Precisamos pensar para além do 54”, explica. 

Esse destaque para os tamanhos maiores coincidiu com um momento em que pessoas gordas mais jovens têm adotado outra postura e estão assumindo esse discurso de que a gente é assim e não vai se mutilar por causa de ninguém, nem de moda. Tanto é que, no mesmo final de semana, aconteceu a Toda Grandona, uma festa focada neste público - mais um exemplo que as imposições comportamentais feitas pela sociedade nem sempre fazem sentido. “O mundo tem que se adaptar a gente. Não dá pra generalizar, mas, pelo que vejo, a mulher que veste entre 44 a 46 ainda sonha voltar para o 40 ou para 38 e ela ainda está comprando nas lojas de marcas e shoppings. Mas as que estão comprando na marca plus size são as gordas mesmo, que vestem acima de 50. As empresas têm que prestigiar essa pessoa gorda”, defende Flávia. Festa body positive aconteceu sábado (16) e foi organizada pelos youtubers Alexandrismos (Alexandra Gurgel), Bernardo Fala (Bernardo Boechat) e Caio Revela (Caio Cal), além do artista audiovisual e DJ Ricardo Lima e da Publicitária e ativista Juliana Rangel (Foto: Daniel Oliveira/Divulgação) Prestigiando as gordas que vestem mais de 54, a marca de lingerie GG.rie (ggrie.com.br), por exemplo, fechou 216 vendas nos dois dias evento. “Foi a primeira edição em que trouxe tamanhos 56 e 58 de sutiã. O 56 foi o primeiro a esgotar. Se muita marca diz que não faz acima do 54 porque não vende, continuem assim porque sobra mais pra mim”, brinca a sócia Allyne Turano, 32. Ela, inclusive, apostou em influenciadoras digitais que vestem mais de 50 para o catálogo de sua última coleção, como a estudante de moda Raissa Galvão, que veste 56, e modelo Bia Gremion, que veste mais de 60.   Raissa Galvão (@rayneon), Isabella Trad (@todebells) e Bia Gremion (@biagremion) (Foto: Allyne Turano/Divulgação) Além do básico Nas araras, destaque para roupas ousadas e elaboradas. “Depois de anos tendo que usar sacos de batatas estampados, queremos roupas legais”, afirma Allyne. Na Clamarroca (clamarrocaplus.com.br), peças como parkas e jardineiras voaram. Em dois dias de evento, a marca faturou o equivalente a 40% do ganha na loja física em um mês. “Tivemos que fazer reposição duas vezes. As calças com a faixa lateral, tendência do momento, esgotaram na maioria dos manequins”, conta a empresária Mariana Camargo.  Mariana Camargo (de cinza) vendeu bastante no Pop Plus (Foto: Robson Leandro da Silva/Divulgação) Para ela, essa foi a edição com mais variedade de jeans e com maior presença do público masculino, o que é algo novo: “Particularmente, sinto falta de produtos em tecido plano bem trabalhados. Aquela alfaiataria que não vai, necessariamente, para o escritório, sabe? Acho que é uma superaposta pro segmento”. 

Baianas em SP A empresária e consultora de imagem Kika Maia, 41, foi uma das baianas que marcou presença no evento. “Tudo da moda slim vai para a plus size porque o tecido é mesmo. Só fazem o design e modelagem maior”, pontua. Apesar de mostrar as peças em alta na estação, o que mais chamou sua atenção foi a identidade de cada empresa: “Elas têm um conceito próprio e definem bem suas coleções. Isso é muito importante para que cada cliente se identifique com o estilo daquela marca. Tinham algumas mais básicas, mais conceituais, outras com estampas divertidas. Isso é muito interessante”. Baianas no pop: Carla Galrão (@gordaroupa), Kika Maia (@kikamaiaplus), Sista Kátia (@sistakatia) e Naiana Ribeiro (@itsnaiana), que vos escreve (Foto: Robson Leandro da Silva/Divulgação) Para a produtora cultural e influenciadora baiana Carla Galrão, 26, o Pop Plus vai muito além da moda. “Não é só uma feira para encontrar roupa, mas sim roupas modernas, cheias de atitude. É moda, ativismo, empatia e tudo de incrível para o universo gordo. É como encontrar seu lugar no mundo e se sentir muito feliz quando tem a certeza de que não vai voltar pra casa sem encontrar exatamente o que precisava”, diz ela, que se inspirou no evento para fazer seu próprio bazar, em Salvador. Carla Galrão (primeiro plano) criou um bazar em Salvador inspirada no Pop Plus (Foto: Robson Leandro da Silva/Divulgação) Tanto eu, como Carla, Kika e a grafiteira e cozinheira vegana Sista Katia, 32, adoramos conhecer mais do mercado plus size paulista. E pudemos notar que a capital baiana está longe de ter algo parecido, principalmente porque produzir roupa plus size, por aqui, sai muito caro. “Aqui na Bahia, a gente tem muita T-shirt, mas moda - de fazer corte, e modelagem - tem pouca. Existe pouca coisa autoral porque tecido é caro e mão de obra também. Se o autoral em São Paulo, que tem o polo industrial do Bom Retiro já sai caro, imagine aqui. Acho que por isso praticamente não existe crescimento do mercado plus size em Salvador”, pontua Kika. Kika (primeiro plano) pontua que o mercado de Salvador não tem crescimento (Foto: Robson Leandro da Silva/Divulgação) Para Flávia, as marcas precisam apostar na gorda como protagonista. “Se querem trabalhar com a cliente plus size, não adianta querer só colocar as modelos 44 ou 46 de sempre porque as clientes não vão se identificar. Vivemos um momento em que as pessoas não querem se inspirar só naquela mulher curvilínea. A gente que ver gente igual a gente”.  Assista, abaixo, a momentos marcantes do evento.

Clique aqui para saber quais marcas que participaram do evento vendem online ou têm loja física.Siga o Bazar nas redes sociais e saiba das novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, decoração e pets: