Grande quantidade de óleo líquido invade Pedra do Sal e atinge corais e animais

Resíduo encontrado está sob avaliação laboratorial  

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  • Eduardo Dias

Publicado em 17 de outubro de 2019 às 16:16

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Guardiões do Litoral/Divulgação

Mais um cartão portal de Salvador foi atingido pelas manchas de petróleo cru que se espalharam pelo litoral nordestino em setembro chegaram à Bahia há uma semana. A Praia da Pedra do Sal, no bairro de Itapuã, amanheceu coberta de preto nesta quinta-feira (17). Mais cedo, as praias de Praia do Flamengo, Ondina e Farol da Barra também foram afetadas.

A localidade entrou no radar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por volta das 11h, junto com Praia do Flamengo, com a denúncia de que havia petróleo cru em estado líquido nos corais, pedras e areia. A substância foi encontrada por voluntários do grupo Guardiões do Litoral, que fez um intenso monitoramento nas praias durante todo o dia. 

A equipe acionou a Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb). Mais tarde, equipes da Marinha também foram à praia para auxiliar na limpeza. O balanço da quantidade de óleo retirado só será divulgado no final do dia.

Ainda na Pedra do Sal, um pássaro da espécie Socó foi encontrado pelos voluntários com o corpo coberto de óleo. O animal foi resgatado e levado para o Instituto de Mamíferos Aquáticos (IMA), em Pituaçu, onde está recebendo cuidados de veterinários e biólogos.

Em um vídeo divulgado pelo voluntário responsável pelo resgate, a ave aparece bastante debilitada. O óleo é tóxico e pode causar asfixia e morte. De acordo com o Projeto Tamar, o processo para recuperar esses animais envolve a retirada dos resíduos, fluidoterapia e utilização de anti-tóxicos. Pássaro foi encontrado coberto de óleo (Foto: Guardiões do Litoral/Divulgação) Medidas Durante a manhã desta quinta, o Grupo de Acompanhamento e Análises (GAA), liderado pelo superintendente do Ibama, Rodrigo Alves, realizou uma coletiva de imprensa na Praia de Jardim de Alah para explicar as medidas que estão sendo tomadas pelo grupo no combate às manchas de óleo encontradas nas praias da capital baiana.

Segundo ele, a presença do material é classificada em três tipos, que variam de acordo com a quantidade encontrada: manchas, vestígios de espaço e vestígios. Até agora, sete praias baianas foram atingidas em grande quantidade: Jardim de Alah, Jardim dos Namorados, Pedra do Sal, Praia do Flamengo, Guarajuba, Sauípe e Subaúma.

“São muitas praias que receberam o óleo, mas em quantidades diferentes. Classificamos como manchas aquelas que aparecem em maior quantidade, os vestígios de espaço em escala média, e vestígio é quando encontramos em pequena escala. É uma classificação internacional, que existe para ser identificada a presença de óleo nas praias. Na Bahia, são sete praias com manchas. As outras não estão nessa situação, mas isso não quer dizer que não precisem de cuidado e atenção. É poluição e precisa ser retirada de todas as praias”, explicou Rodrigo.

De acordo com a classificação, manchas atingem 10 a 50% da superfície da praia; vestígio de espaço afeta de 1 a 10%; e vestígio ocupa até 1% da localidade. Pedra do Sal amanheceu cheia de óleo (Foto: Verena Oliviera/Guardiões do Litoral) Óleo será estudado O óleo líquido encontrado na Praia de Pedra do Sal passará por estudos realizados pelo GAA, para que sejam identificados origem, quantidade e os danos que podem ser causados em caso de contato com o material tóxico.

“Hoje, esse óleo apareceu nas praias mais ao norte, em Pedra do Sal e Praia do Flamengo. Inicialmente, recebemos o alerta do aparecimento de um material como o óleo que tem atingido as praias, mas ele é diferente das substâncias que encontramos até agora. Estamos fazendo uma análise laboratorial para identificar se trata-se da mesma substância. Há uma suspeita de que sim, só que em estado aparentemente líquido. Somente após as análises laboratoriais iremos confirmar”, afirmou Rodrigo Alves.

Já o presidente da Limpurb, Marcus Vinicius Passos, não descarta a possiblidade de se tratar de um outro tipo de óleo. No entanto, ele pondera que o estado líquido do óleo pode ter ocorrido devido à longa exposição do material ao sol. 

"Apesar de não sermos da parte técnica, na nossa percepção visual notamos que esse material é mais viscoso que o encontrado nas outras praias. Acredito que tenha derretido nas pedras por conta da exposição ao sol. Vamos aguardar o resultado dos testes para saber do que se trata", contou Marcus, que revelou que a empresa já recolheu, até esta quarta-feira (16), 26,5 toneladas de material oleoso nas praias da capital baiana. 

No balanço divulgado na noite de ontem, 15 toneladas tinham sido retiradas das praias da Pituba e do Jardim dos Namorados e outras 7 toneladas e 660 quilos nas praias Jardim de Alah, Boca do Rio, Stella Maris e Praia do Flamengo. Em outras localidades, como Baixio, no Litoral Norte, também foram removidas 18 toneladas do óleo.

De onde vem tanto óleo ainda é um mistério. No entanto, pesquisadores da Marinha, Petrobras e da Universidade Federal da Bahia (Ufba) chegaram à conclusão que a origem é venezuelana. No entanto, o superintendente garantiu que esta é a grande dificuldade da atuação dos órgãos no trabalho de prevenção para impedir a aproximação do óleo da costa.

"Não sabemos de onde o óleo está vindo. O que se sabe é que trata-se de um óleo venezuelano. Mas não quer dizer que esteja vindo de lá. O fato de não sabermos isso, além de não termos dimensão da quantidade, faz com que não consigamos traçar a rota ou a próxima praia que será atingida. Então, visualmente e através de radar, não se consegue confirmar a presença de óleo fora da faixa de linha de praia. Só conhecemos a mancha de óleo quando ela chega até a costa”, contou. Quantidade de óleo em Pedra do Sal assustou voluntários (Foto: Guardiões do Litoral/Divulgação) Quer ajudar? O superintendente do Ibama fez questão também em dar um alerta para quem deseja ajudar os agentes de limpeza de forma voluntária. Para ele, toda ajuda é bem-vinda, desde que os voluntários estejam devidamente protegidos por luvas, botas de borracha, máscaras e óculos, para evitar contato direto com o material e possíveis alergias.

“Existe, principalmente na Bahia, uma comoção muito grande, muitos voluntários dispostos a ajudar. Só que a gente começou a perceber que essas pessoas nem sempre estão fazendo a coleta da forma mais segura para si e para o meio ambiente. Basicamente, o que orientamos para os voluntários é que eles precisam usar calças, calçados fechados e luvas, para não ter contato do óleo com a pele. Além da utilização de equipamentos de segurança como máscaras". Foto: Guardiões do Litoral/Divulgação) Manchas de óleo na praia? Saiba o que fazer 1) Evite ir à praia, nadar ou praticar esportes aquáticos nas regiões afetadas; 

2) Se encontrar algum animal ferido ou em contato com óleo, ligue para Polícia Ambiental (190) ou Guarda Civil Municipal (3202-5312);

3) Agentes de limpeza da Prefeitura estão de plantão 24h em todas as praias de Salvador. Disque 156 para acionar o serviço;

4) Em caso de reação alérgica ao toque ou ingestão do óleo, procure uma unidade básica de saúde.

* Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro