Heróis de quatro patas: conheça alguns dos 20 cães que buscam corpos e sobreviventes em Brumadinho

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  • Da Redação

Publicado em 2 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Thor e o sargento Leonardo: experiência em tragédias (Foto: Mauro Pimentel/AFP) O sargento Leonardo dá o comando: “busca, Thor!”. Neste caso, porém, não estamos falando de buscar um graveto ou uma bolinha, como a maioria dos cachorros faz. Para os cães que estão em Brumadinho (MG), “buscar” é sinônimo de trabalho duro ou, como vocês vão entender abaixo, sinônimo também de brincadeira. Esses cabras de muita coragem, faro e habilidade são a prova de que a tragédia ocasionada pelo rompimento da barragem da Vale do Rio Doce, no dia 25 deste mês, não é feita apenas de heróis humanos.    Para os que torcem o nariz e acham perda de tempo resgatar cachorros e outros animais, gostaríamos de lembrar que cães estão resgatando seres humanos. A coluna do Cãogaceiro conversou por telefone com um dos responsáveis pelos heróis de quatro patas que estão em missão em Brumadinho. O tenente Lucas Silva Costa informou que 20 cães farejadores participam das buscas às vítimas: são cinco cães do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, dois de São Paulo, seis de Goiás, três do Espírito Santos e quatro de Santa Catarina.

Heróis caninos como o Border Collie Thor, a Pastora Alemã Angel e a Pastora Malinois Agnês estão fazendo a diferença nas buscas. Eles fazem o trabalho que nenhum dos 290 bombeiros brasileiros e 136 militares israelenses, além de equipamentos de alta tecnologia, consegue fazer. Sem os cães, muitos dos corpos sequer seriam encontrados. "Eles tiveram muito sucesso até agora. Estão sendo muito úteis na localização de cadáveres que estavam camuflados pela lama ou entre galhos de árvores", explica Lucas. 

A presença dos cachorros na missão economiza tempo, esforço e dinheiro. “Os cães direcionam nossos trabalhos para a fonte de odor, ou seja para o ponto em que os corpos se encontram. Isso seria impossível não fosse seu faro apurado. Essa precisão economiza grades esforços. A ferramenta 'cão' é muito barata e não pode ser substituída por nenhum outro equipamento eletrônico”, explicou o sargento Marcelo Thales Rufino, da equipe do canil de Uberlândia. Faro dos cães faz a diferença em desastres: 'Insubstituível' (Foto: Douglas Magno/AFP) Thor, de 5 anos, talvez seja o mais experiente dos cães. Conduzido pelo tenente Lucas e pelo sargento Leonardo, o Border Collie já esteve em diversas tragédias, inclusive a de Mariana. Ágeis e leves, os cachorros entram em locais arriscados, sobem em telhados prestes a cair, farejam vítimas fatais e possíveis sobreviventes. Veja no primeiro vídeo abaixo Thor se arriscando em destroços de uma casa e no segundo vídeo indicando a possível presença de vítima debaixo do lamaçal.

Plantão   

Em média, explica o tenente Lucas, os cães estão trabalhando oito horas por dia, com alguns intervalos de descanso. No dia seguinte ao plantão de oito horas, o cachorro ganha uma folga. O trabalho é monitorado por veterinários. “O condutor está sempre atento aos sinais de cansaço e os veterinários monitoram tudo. Na hora da alimentação, os cães recebem suplementos vitamínicos”, afirma tenente Lucas. Após mais um dia de trabalho, nossos heróis, irreconhecíveis pela lama, também ganham um bom banho. 'Thor já encontrou um monte de vítima debaixo dessa lama', homenageou o Sargento Leonardo (Foto: SP Invisíveis) Por conta do esforço de Thor, que trabalha sem reclamar, o sargento Leonardo fez uma homenagem a ele em um depoimento à Ong SP Invisíveis, que se deslocou à Brumadinho para contar as histórias da tragédia. “Eu sou o sargento Leonardo e esse aqui é o Thor. O Thor tem cinco anos e tá trabalhando muito, já encontrou um monte de vítimas por aí debaixo dessa lama”, narrou o sargento em um trecho do depoimento, que se espalhou pelas redes sociais. 

“Agora ele vai descansar, tomar um suplemento vitamínico que os médicos veterinários vão passar pra ele. Eu já perdi as contas de quantas pessoas ele achou. Infelizmente, poucas vivas. O Thor trabalha muito. Só hoje já fomos lá no pontilhão e perto do ônibus. Lugares de acesso muito difíceis”, descreveu Leonardo.  Angel encontrou duas vítimas logo que chegou, mas acabou se machucando durante a missão (Foto: Divulgação) Angel (Pastora Alemã de pelagem cinza) e Agnês ( Pastora Malinois) não ficam muito atrás. Uma das primeiras a chegar no desastre, Angel, de 5 anos, encontrou logo dois corpos que estavam soterrados. Quando usava o seu faro para direcionar outros trabalhos de buscas, infelizmente se machucou. "No segundo dia tivemos a infelicidades de a cadela Angel se machucar. Teve uma contusão acima do joelho por ter batido em algum obstáculo no ambiente", lamenta o Sargento Thales. "Ela foi assistida e medicada com anti inflamatórios e remédios para dor". Sem Angel, a Malinois Agnês foi convocada para substitui-la. Apesar de menos experiente, com 2 anos, está dando conta do trabalho do mesmo jeito.   Pastora Malinois Agnês com o sargento Thales (Foto: Divulgação) Brincadeira

Apesar de se tratar de um trabalho duro, para os cães farejadores a busca por vítimas (sobreviventes ou não) não passa de uma brincadeira. Isso porque, desde filhotes, eles são treinados para isso. Dentro de uma ninhada, o futuro cão farejador é escolhido justamete pela sua disposição para brincar. Um cachorro louco por brinquedos pode ser um excelente cão farejador.  

"O treinamento consiste em parear o odor de pele humana aos brinquedos. O brinquedo vem sempre acompanhado com o cheiro. São vários estágios. Você pode começar com peças de roupas humanas ou o cheiro sintético de pele humana até odores cadavéricos em diferentes estágios de putrefação. O cachorro entende que sempre que tiver esse odor vai ter o brinquedo perto. É por isso que o condutor do cão farejador costuma levar com ele o brinquedo", explica o treinador de cães Rafael Ramos.  Herói Thor junto com seus condutores Lucas e Leonardo (Foto: Divulgação) Quando encontram o alvo, os cães farejadores de vítimas de tragédias costumam fazer a chamada indicação ativa. Ou seja, ficam latindo para indicar o local onde está o seu "brinquedo". Muitos cavam a terra. O treinamento é semelhante ao dos cães que buscam drogas. No caso dos que buscam explosivos, a indicação deve ser passiva. Ele apenas senta no lugar onde está o objeto. Há cães, como Angel e a própria Agnês, preparados até para encontrar vítimas que estão debaixo d´água. "Foram treinadas desde filhotes para busca de pessoas perdidas em diferentes ambientes, como matas, soterramentos. A busca por restos mortais é uma situação de dupla função que elas executam inclusive no meio aquático", garante o Sargento Thales.  

Vira-lata achado em lixo ajuda nas buscas

Talvez ele seja o mais heróico dos heróis caninos. Aliás, o nome dele já diz tudo. O vira-lata Resgate (isso mesmo, o nome dele é Resgate), que hoje atua como cão farejador, tem uma história semelhante a dos animais que estão sendo achados em Brumadinho.  Há dois anos, foi encontrado em um caminhão de lixo em São Paulo e adotado. Os donos logo perceberam que ele tinha um bom faro e treinaram ele para o ofício. Achado em lixo, vira-lata Resgate hoje ajuda nas buscas em Brumadinho (Foto: Mariana Queiroz/Globonews) Segundo o G1 Minas gerais, Resgate é do grupo de voluntário Resgate Sem Fronteiras, Ong da qual faz parte seu tutor, Benedito Rodrigues Correa. Na quarta-feira (30), o vira-lata ajudou o Corpo de Bombeiros nas operações. "Nós demos uma força aqui para os bombeiros, e ele colocou dois pontos para os bombeiros fazerem a retirada de entulho, onde poderia haveria corpos", disse Benedito, em entrevista à GloboNews.

O dono, que ajudou também nos trabalhos no desastre de Mariana, há três anos, conta que o faro de Resgate ainda não está no máximo de sua capacidade: "80%", calcila. O treinamento tem ajuda de um policial amigo. "Tem um policial colega nosso, ele é que treina ele na realidade, eu também faço o treinamento, passado por ele, para achar corpos", explica.