Imagem de Bom Jesus chega à Conceição em um catamarã

Procissão partiu no final da tarde da Ponta de Humaitá, após o embargo da galeota Gratidão do Povo pela Marinha

  • D
  • Da Redação

Publicado em 31 de dezembro de 2018 às 18:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Enquanto Dom Murilo Krieger comandava a Missa do Embarque, às 15h, na Igreja da Boa Viagem, um grupo de amigos da Devoção do Senhor Bom Jesus dos Navegantes decidia do lado de fora como seria feito o transporte das imagens de Jesus e de Maria até a Ponta de Humaitá, para colocá-las no catamarã que conduziria a imagem de Cristo, com 379 quilos, até a Igreja da Conceição da Praia no final da tarde desta segunda-feira (31).

Quase já havia se formado um consenso de que a imagem de Nossa Senhora, com 170 quilos, seria carregada pelos devotos e que a de Jesus seguiria no carrinho.“Nada disso, a gente vai  na mão grande mesmo”, decretou o carpinteiro Clóvis dos Santos, 63 anos, conhecido na Boa Viagem como “Boi” e responsável por acender os fogos de artifício que abrem o cortejo, que ganhou este ano esses metros a mais depois que a Capitania dos Portos embargou a utilização da galeota Gratidão do Povo, que vinha sendo utilizada desde 1892.O empréstimo do catamarã Senhor do Bonfim, por um empresário amigo de Expedito Sacramento, presidente da Devoção, permitiu a continuidade da festa secular em que os navegantes pedem proteção divina contra os perigos do mar, mas provocou o atraso de uma hora no cortejo, que partiu de Humaitá por volta das 17h.

“Para a gente, essa mudança não é um problema. Em 1987, a procissão não pôde seguir pelo mar por causa do mau tempo e levamos a imagem em um carro”, lembra o funcionário público Luiz Lopo, que na década de 1980 integrava o grupo de 140 homens, então na faixa dos 30 a 40 anos, que não sentia a menor dificuldade em conduzir as imagens nos pequenos trechos em que isso era necessário. A galeota era levada até o mar por um trilho em frente à igreja e depois só era preciso fazer força de verdade do desembarque ao lado do 2º Distrito Naval até a Igreja da Conceição da Praia. Foto: Betto Jr./CORREIO Envelhecimento Quase 40 anos depois, a turma envelheceu, uma parte se mudou para outros bairros e os filhos não se envolveram com a Devoção como eles fizeram à medida em que seus pais iam morrendo ou perdendo a força física. “Amanhã [hoje], vai ter mais gente, mas hoje alguns ainda trabalharam, explicou o administrador de empresas Roberto “Bobby” Carvalho. 

Antes da partida, os amigos, em número reduzido,  ainda lamentavam a decisão da Marinha de embargar a galeota e calculavam quantas pessoas seriam necessárias para carregar as imagens. Discutiam se oito ou 12 por imagem, mas durante o trajeto acabou se incorporando mais gente.  

Além da redução da quantidade de gente, ano a ano, os membros da devoção se preocupam com a má conservação da igreja. “Nós compramos as camisas como forma de ajudar a levantar fundos, mas é preciso que haja participação do poder público”, diz Bobby. “Para fazer a reforma, seriam necessários pelo menos R$ 100 mil”, calcula o presidente da devoção”, Expedito Sacramento.

 A assessoria da Capitania dos Portos da Bahia informou que a Marinha empregará quatro lanchas e uma moto aquática para garantir a segurança da navegação. Militares do Grupamento de Fuzileiros Navais de Salvador e um navio-patrulha, do Grupamento de Patrulha Naval do Leste, reforçarão a segurança. No total, será empregado um efetivo de 80 militares, entre equipes de terra e mar. Foto: Betto Jr/CORREIO