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Incêndios na Linha Verde atingem área de 20 campos de futebol


 

Há nove dias, a Reserva Klaus Peters, em Praia do Forte, vem sendo atingida pelas chamas

  • Saulo Miguez

Publicado em 07/03/2017 às 07:00:00
Atualizado em 16/04/2023 às 21:06:04

Os incêndios que atingem áreas de mata na Linha Verde, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), já devastaram o equivalente a 20 campos de futebol. A informação foi divulgada pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil da cidade de Camaçari.

Desde a última segunda-feira (27), a Reserva Klaus Peters, na Praia do Forte, tem sido atingida pelas chamas. Já em Guarajuba, em Camaçari, o fogo começou no último sábado (4). Apesar dos grandes estragos ambientais, não houve vítimas e apenas três residências, todas em Guarajuba, foram atingidas, nenhuma com gravidade.

Em Praia do Forte, a área queimada está nas proximidades do Resort Iberostar. Segundo informações do Corpo de Bombeiros, ao todo cerca de 80 pessoas estão trabalhando para debelar o incêndio. Além do militares, estão na operação agentes da Guarda Civil Municipal de Mata de São João e funcionários do hotel.

"Houve uma mobilização muito grande da comunidade de Praia do Forte. Empresários, agentes da prefeitura, muita gente está se empenhando no combate. Isso certamente contribuiu para que o incêndio não tomasse uma dimensão ainda maior", contou o major Valdir, do 10º Grupamento de Bombeiros Militar (GBM/Camaçari).(Foto: Divulgação/Defesa Civil - Camaçari) Já em Guarajuba, o fogo tem sido combatido por agentes do Corpo de Bombeiros e funcionários da Defesa Civil de Camaçari, totalizando 40 pessoas. "Estamos com equipes 24 horas e usamos quatro viaturas combatendo os pequenos focos e monitorando as chamas", explicou o major Ramon Diego, do 3º Grupamento de Bombeiros Militar.

Causas do incêndioEm ambos os casos, o fogo ocorreu predominantemente em uma vegetação conhecida como junco, que é encontrada em fundos de lagoas. Segundo a coordenadora de licenciamento ambiental de Mata de São João, a bióloga Yuka Fujiki, as condições climáticas favoreceram o aparecimento das chamas.

"Como está tudo muito seco, por conta da falta de chuva, a matéria orgânica seca, se acumula e o ambiente se torna propício à combustão", explicou Yuka. Ainda segundo a bióloga, o fogo começa no subsolo, sobe até à superfície e é espalhado pelo vento.

Além dos fatores ambientais, ações humanas também contribuem para a propagação das chamas. De acordo com Ivanaldo Soares, coordenador da Defesa Civil de Camaçari, bitucas de cigarros e outros objetos descartados de forma inadequada funcionam como combustível para o surgimento das chamas.

"Muitas pessoas jogam latas, garrafas de cerveja e outros pedaços de vidro na mata e aí esses objetos esquentam e em contato com a vegetação seca provoca uma labareda. Isso é suficiente para gerar um incêndio de grandes proporções", contou Soares.

Ainda de acordo com o coordenador, os donos das casas atingidas pelas chamas são também responsáveis pelo estrago. Isso porque, segundo Soares, o acumulo de materiais na área externa dessas residências de certo modo favoreceu a disseminação das chamas.

"As pessoas precisam tomar consciência manter seus terrenos sempre limpos", pediu. Ele explicou ainda que é necessário que se faça um corte, conhecido como acero, nos arredores da área externa do terreno para impedir que o fogo se espalhe para além daquela fronteira.

Combate às chamasO acero, aliás, tem sido usado pelo Corpo de Bombeiros para debelar os incêndios na Linha Verde. De acordo com o major Valdir, pelas características do ecossistema atingido, esta é a única maneira de debelar as chamas completamente.

"Com essa técnica a gente isola o fogo e deixa queimar toda a matéria que tem lá, então ele é finalmente extinto", disse. Os brigadistas, por sua vez, estão utilizando ainda abafadores, mochilas costais e linhas de combate tático, que são grande mangueiras que ficam em locais estratégicos, como nas proximidades das residências, e que podem ser acionadas facilmente pelos agentes.

O major explicou ainda que, nesta segunda-feira (6), os fatores climáticos ajudaram os brigadistas. "Hoje ventou pouco e a umidade permaneceu baixa, carca de 54%, isso favoreceu bastante o trabalho", disse.

Na terça-feira (7), o trabalho irá prosseguir nas áreas atingidas. Em Praia do Forte, a partir das 5h, 40 bombeiros e três viaturas se revezarão no trabalho. Já em Guarajuba, o mesmo contigente, entre militares e agentes da Defesa Civil, se revezarão em quatro viaturas.

Além disso, equipes permanecem de plantão durante a madrugada. "Só iremos deixar a área quando não houver mais risco nenhum de reignição. Até lá, estaremos de prontidão durante 24 horas", contou o major Dieggo.  

Ivanaldo Soares pede que a população seja os olhos das autoridades no combate aos focos de incêndio. Segundo ele, muitas vezes as pessoas identificam os incêndios, mas não acionam a Defesa Civil ou os bombeiros. "Quem vêm um foco de incêndio, precisa ligar 199 (Corpo de Bombeiros) ou 193 (Defesa Civil). Todos têm que se engajar nesse combate.

Prejuízo ambientalAté o momento, ainda não é possível dimensionar os prejuízos ambientais totais resultante das queimadas. Segundo o biólogo Fábio Lima, responsável pelo parque Klaus Peters, na reserva 80% da área atingida foi de junco e 20% de restinga.

O especialista disse ainda que dentre as espécies animais aquelas que mais sofrem nessas situações são as de deslocamento lento. "Muitas iguanas, tartarugas, cobras, tatus acabam morrendo nessas queimadas", disse. Além disso, muitos ovos de aves também são destruídos pelas chamas.

Segundo Lima, a recuperação das áreas afetadas depende fortemente dos fatores climáticos. "Se chover o que se espera que chova, essa área poderá se recuperar em até quatro meses, porém, essas coisas não muito exatas", explicou.   Bombeiro resgata bicho preguiça em área atingida por incêndio(Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros) Fogo também atinge a ChapadaAlém das áreas na RMS, incêndios também têm sido combatidos na Chapada Diamantina. Há quatro dias, o Corpo de Bombeiros luta contra as chamas no município de Rio de Contas. Segundo a corporação, a área queimada ainda não foi mensurada pois todos os esforços estão direcionados ao combate às chamas.

Ainda de acordo com os bombeiros, na segunda-feira o efetivo na região foi 26 combatentes. O efetivo está distribuído e atento para contenção de novos focos. Além dos Bombeiros Militares e Brigadistas da região, um helicóptero da Operação Bahia sem Fogo também auxilia no trabalho.

A aeronave, além de deixar os combatentes próximo aos locais de combate (reduzindo o tempo de resposta), lança àgua em pontos mais relevantes através do “Bambi Bucket”, uma espécie de bolsa onde captam a água.

Bahia registrou mais de 1400 casos de incêndio em vegetação em 2016De acordo com o Corpo de Bombeiros, em 2016, o estado da Bahia registrou ao todo 1497 ocorrências de incêndio em vegetação. Desse total, 1.069 foram em regiões do interior do estado, enquanto 428 na capital e Região Metropolitana.

Já em 2017, ainda segundo o Corpo de Bombeiros, somente no mês de janeiro, a Bahia registrou 425 ocorrências de incêndio em vegetação. Dessas ocorrências, 198 aconteceram em Salvador e Região Metropolitana e 227 no interior do estado.