Instituto de Química da Ufba é evacuado após vazamento de líquido

Uma funcionária da limpeza foi levada para a UPA dos Barris; atividades permanecem suspensas

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 9 de abril de 2019 às 12:24

- Atualizado há um ano

O Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (Ufba) precisou ser evacuado na manhã desta terça-feira (9), após o vazamento de uma pequena quantidade de pentanotiol, substância que, apesar do forte odor e do caráter inflamável, não apresenta riscos à saúde.

De acordo com o diretor do departamento, Dirceu Martins, assim que foi detectado o vazamento, no quinto andar do prédio, que fica em Ondina, a brigada de segurança da unidade foi acionada e teve início o procedimento de evacuação. “Os profissionais utilizaram máscaras para efetuar a retirada de todos do prédio, além da limpeza do laboratório”, disse.

Ainda segundo ele, o que aconteceu foi a transferência do freezer com os frascos do produto e um deles, com no máximo 50 ml da substância, não foi fechado corretamente, ocasionamento o vazamento de uma pequena quantidade. “O vazamento aconteceu dentro do próprio freezer utilizado na conservação dos produtos. É uma temperatura baixíssima, a menos 70 graus”, explicou.

O químico e pesquisador da Ufba, Maurício Victor, que detectou o vazamento e um dos que ajudaram na limpeza do local, afirmou que não há riscos à saúde nem motivos para o alarde dos alunos. “O máximo que aconteceu hoje foi um forte cheiro de ovo podre, que se espalhou no momento da abertura do freezer. Por isso a necessidade de esvaziamento do prédio, porque o odor pode causar náusea e dor de cabeça, além do uso de máscaras”, disse.

O diretor Dirceu Martins, no entanto, declarou que o produto, em contato com a pele, pode causar vermelhidão e ardência. Já o químico Maurício Victor disse que o contato com o pentanodiol não traz prejuízos à camada cutânea. No entanto, uma funcionária terceirizada da universidade, que trabalha na área de limpeza, precisou ser encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Barris.

“Ela foi socorrida após se queixar de ardência no braço, o que, provavelmente, foi ocasionado em razão do contato com a substância. Quando eu cheguei ao prédio, ela já tinha sido levada para a UPA por uma das professoras”, disse o diretor. 

Maurício Victor contou que, assim que entrou no laboratório onde a substância vazou, chamou a funcionária para passar água sanitária na porta da geladeira e, no momento em que ele abriu o freezer, os dois tiveram contato com o vapor gelado, que tinha concentração do produto, já que houve vazamento.

“Ela estava no laboratório junto comigo. Ela não encostou em absolutamente nada. Quando você abre a porta do freezer, aquilo ali está saturado de vapor, que é mais denso do que o ar. A funcionária, certamente, teve uma reação alérgica ao vapor, o que não aconteceu, por exemplo, comigo, que passei duas horas dentro da sala”, declarou.

De acordo com a Universidade, a funcionária não corre perigo e já foi devidamente medicada. O diretor do departamento de Química afirmou que o Corpo de Bombeiros foi chamado ao local, para proceder com a liberação do prédio. “É provável que as atividades sejam retomadas nesta quarta”, disse Dirceu. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirmou a entrada da funcionária, que tem 50 anos, na UPA, com quadro de irritação cutânea no braço. "A paciente foi avaliada, medicada e recebeu alta", afirmou a pasta ao CORREIO.

A assessoria do Corpo de Bombeiros afirmou que, apesar de ter ido ao local, não atuou na evacuação do prédio. "Quando nós chegamos, a evacuação já havia sido realizada", disse.

O professor e pesquisador de Química ainda ressaltou que todo o produto foi removido com a utilização de água sanitária. “Utilizei 5 litros de água sanitária para fazer a limpeza do laboratório. O espaço continua fechado, aguardando a liberação dos bombeiros, apenas em razão do forte odor - tanto do pentanodiol quanto da água sanitária, que foi em grande quantidade”, explicou Maurício Victor.

Segurança Mesmo com todas as explicações sobre a ausência de risco do produto à saúde humana, os alunos, que foram retirados do prédio e se concentraram na entrada do Instituto de Química, questionaram o método de evacuação utilizado pela universidade.

O doutorando em Química, Oséas Santos, que estava no local no momento em que foi detectado o vazamento, afirmou que o instituto não possui um esquema de segurança confiável e eficaz. “Aqui são cinco andares e o vazamento aconteceu no último. Mas, os alunos ficaram sabendo que alguma coisa tinha acontecido na base do boca à boca, ou seja, sem sirenes ou informações consistentes”, disse.

Ainda segundo o aluno, a ausência do plano de evacuação representa um grande risco à vida dos estudantes, professores e funcionários. “Em uma situação mais crítica, a falta de sirenes e a demora no aviso do risco, pode ser um perigo a todos que compõem o instituto”, ressaltou.

Outro grupo de alunos, que estava ao lado de Oséas, concordou com o colega e disse, ainda, que são cerca de 15 laboratórios por andar, o que totaliza aproximadamente, 75 salas com diferentes tipos de substâncias, muitas delas tóxicas. “Eu, por exemplo, estava com aparelhos ligados no momento do alarde e saí correndo, deixando tudo lá. Depois que soube, de fato, do vazamento, voltei para desligar tudo”, disse uma aluna que preferiu não se identificar.

Em seu site, a Ufba explicou que as atividades foram suspensas na manhã desta terça "em decorrência do forte cheiro da substância química metacaptana, também conhecida por pentatiol. A substância estava armazenada em um freezer, que foi mudado de seu local e ficou desligado durante a noite, provocando a volatilidade, constatada quando o freezer foi aberto".

O prédio é utilizado para pesquisas e atividades administrativas do Instituto de Química, não sendo utilizadas por estudantes do curso, que possuem laboratórios específicos para eles em outros pavilhões. As aulas, portanto, estão mantidas, mas a atividade no prédio está suspensa até a vistoria do Corpo de Bombeiros, que deve ser realizada na manhã desta quarta-feira (10).

A universidade reiterou que o tiol emana odor forte e desagradável, sendo, por isso, utilizado principalmente no gás de cozinha, de modo a servir como alarme para eventual vazamento.

"Logo que foi identificada a ocorrência, a direção do Instituto e a Coordenação de Meio Ambiente da Ufba providenciaram a eliminação do produto, acionando também o Corpo de Bombeiros de Salvador. As atividades da unidade permanecem suspensas até a total dispersão do mau cheiro e os bombeiros retornarão amanhã pela manhã ao Instituto, para avaliação e provável liberação do prédio".

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier