'Invasão turística': visitantes se antecipam na entrega de oferendas para Iemanjá

Programação da festa começou nesta sexta-feira (1) e vai até o próximo sábado

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 1 de fevereiro de 2019 às 12:04

- Atualizado há um ano

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Véspera de festa é um dia tenso por si só. É o momento de finalizar os últimos detalhes, conferir se está tudo direitinho e fazer aquela contagem regressiva. Para os anfitriões, pode ser um momento desesperador. Será que vai dar tudo certo? Será que os convidados de fato virão? As perguntas podem deixar o dono da festa uma pilha de nervos.

No caso do dia 2 de fevereiro, a festa tem dona e todo o mundo sabe quem é. A realeza de Iemanjá é tão conhecida quanto sua vaidade. Talvez isso explique a agitação do mar na manhã desta sexta-feira (1). Quem é da terra sabe que o mar do Rio Vermelho estava mais agitado que o normal. Quem é devoto diz que a rainha dos mares está ansiosa para sua festa. A instabilidade do clima também denunciou: em menos de duas horas chuva e sol se alternaram pelo menos três vezes.

Contudo, essa instabilidade não pareceu assustar ninguém. Dorival Caymmi cantou que no dia da festa no mar ele queria ser o primeiro a saudar Iemanjá e ao que tudo indica muita gente levou isso a sério. Já nesta manhã, a Casa de Iemanjá estava cheia de gente, principalmente turistas cariocas, que se anteciparam nos pedidos e oferendas para a deusa das águas. No clima dos preparativos, também não foram raros os ambulantes que já estavam por lá para marcar seu lugar na festa.

O casal mineiro Jane Auxiliadora, 62, e João Lúcio dos Santos, 64, vêm à festa há oito anos, aconteça o que acontecer. E sempre dão uma passadinha no dia anterior para um momento mais íntimo.“No dia da festa, é mais complicado. Hoje a gente consegue vir com calma para fazer nossos pedidos, deixar um presente e ter um momento mais íntimo com Iemanjá. Com certeza ela nos entende”, contou Jane. Casal vem de Belo Horizonte para festa de Iemanjá há oito anos (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Difícil mesmo foi encontrar gente baiana por lá. Ao que tudo indica, os baianos estão se guardando para chegar ao Rio Vermelho entre a noite de hoje e o dia de amanhã. Uma outra turista que se antecipou na fé foi a dentista Rosimary de Souza, 58, que saiu de Niterói para aproveitar a festa pela primeira vez. Ela já tinha visitado Salvador no ano passado e decidiu retornar de olho na festa de Iemanjá. Com 3,7 milhões de turistas até março, Salvador tem o Verão mais cheio da década.  Pelo visto, muitos turistas estão aqui pela festa da rainha das águas. Não há dados oficiais sobre a vinda de turistas especificamente para o 2 de fevereiro.“Cheguei ontem à noite e fiquei aqui pertinho porque já vim pensando na festa. Sou espírita, mas admiro e respeito muito a Rainha das Águas. Hoje vim aqui ter esse momento mais de energia e proximidade com ela e amanhã passo aqui de novo para reforçar esse laço”, explicou a carioca. Os hotéis no Rio Vermelho estão lotados no período da festa de Iemanjá. O Hotel Catharina Paraguaçu tem 100% dos seus 29 apartamentos reservados desde o final do ano passado. "Para garantir um lugar aqui, durante a Festa de Iemanjá, é preciso fazer a reserva com cinco meses de antecedência", informa o recepcionista Caio de Carvalho Oliveira, observando que a maior frequência no hotel é de turistas vindos de São Paulo e do Rio Janeiro. Turista de Niterói se hospedou perto da casa de Iemanjá para aproveitar a festa (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) No Mar Hotel, situado na Praia da Paciência, a taxa de ocupação deve ficar em torno de 90%, de acordo com as reservas já confirmadas, informa o gerente Emerson Coelho. "Teremos um bom movimento", disse, aguardando para esta sexta-feira a chegada dos hóspedes que virão principalmente do Rio de Janeiro e Argentina para ocupar 66 dos 75 apartamentos.

"As festas populares são um produto ainda mais valorizado pela gastronomia, cultura e musicalidade, entre outros fatores que atraem turistas em diferentes épocas do ano, contribuindo para fortalecer a economia do Estado. No caso da Festa de Iemanjá, ainda mais relevante por suas raízes no candomblé, na fé e confiança na ação protetora da Rainha do Mar", afirma o secretário estadual do Turismo, José Alves. 

A servidora pública Suzilene dos Santos veio do Rio de Janeiro para curtir a festa. Aos 47 anos, ela contou que vem à festa há quatro anos consecutivos. Se tem Iemanjá na parada, ela dá um jeito e embarca até a capital baiana: e sempre acompanhada de sua família. Ela chegou à Casa de Iemanjá junto de sua mãe, a aposentada Sueli dos Santos e sua filha de nove aninhos, Ana Heloísa dos Santos.  “Tenho um elo muito forte com Iemanjá. Ela é a Rainha das Águas, sabe? Venho e virei sempre que puder. Aproveito para dar uma passadinha antes por vários motivos, tem a questão de minha mãe que já é idosa, minha filha que é pequena e hoje é mais tranquilo para passar aqui”, explica Suzilene. À esquerda, Suzilene vem "de bonde" para festa de Iemanjá há quatro anos (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Confira a programação da festa de Iemanjá

Uma das maiores festas religiosas de Salvador, presente no calendário de eventos da cidade, a Festa de Iemanjá, em saudação à Rainha do Mar, será realizada neste sábado (02). A programação já começou na véspera, às 7h desta sexta-feira (1) aconteceu a abertura do Caramanchão, local onde são colocados os presentes, ao lado da Colônia de Pescadores Z1.

No sábado, antes das homenagens à Iemanjá os devotos saúdam Oxum, orixá das águas doces, às 2h30, no Dique do Tororó. Às 5h, uma alvorada de fogos de artifício marca a chegada do presente principal ao Rio Vermelho. Durante todo o dia, uma enorme fila se forma para a entrega dos presentes.

À tarde, bares e estabelecimentos situados no perímetro da festa promovem eventos e oferecem pratos diversos, principalmente a tradicional feijoada. A procissão para a entrega do presente no mar (que é mantido em segredo pela colônia de pescadores) e dos cerca de 600 balaios com oferendas depositadas pelos devotos e admiradores será às 15h30.

O encerramento da festa ocorre às 18h, mas a parte profana segue durante a noite, até as 22h. O dia ainda é marcado por diversas manifestações culturais, como rodas de capoeira, samba de roda e grupos de bairro.

Proibições Os festejos em homenagem à rainha do mar têm o apoio da Prefeitura na programação cultural e na oferta de serviços municipais. Das 20h de sexta (01) às 22h de sábado (02), 35 agentes da Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) atuarão na fiscalização do evento.

Durante a festa, não será permitido nenhum tipo de faixa, placa, banner ou balão alusivos a marcas ou a políticos, no trecho que vai do Largo da Mariquita à praia da Paciência. Só são permitidas manifestações sociais, culturais ou artísticas, desde que não sejam afixadas em postes ou em qualquer outro imobiliário urbano. 

Sustentabilidade Campanhas de conscientização têm sido realizadas para a preservação do meio ambiente. Uma das correntes defende a não utilização de qualquer material para render homenagens à entidade no mar. Já para quem deseja manter a tradição, a recomendação é de que as pessoas adotem presentes biodegradáveis, como uma forma também de preservar o meio ambiente – exemplos disso são flores naturais e despejo do perfume, sem jogar o frasco no mar.

*Sob supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier