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Gil Santos
Publicado em 14 de janeiro de 2020 às 22:50
- Atualizado há 2 anos
Era noite quando dezenas de homens e mulheres se reuniram no alto de um prédio no bairro do Comércio para debater estratégias para revitalizar a região. A terceira edição do Laje Talks aconteceu nesta terça-feira (14) e pareceu mais uma aula do que uma discussão.>
O evento está na terceira edição e é promovido pela Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis). A logística é simples: um tema é escolhido, autoridades e especialistas no assunto são convidados para debater ideias, e os encontros acontecem no terraço da sede do órgão, na Rua da Grécia. André Fraga disse que o objetivo é debater visões diferentes (Foto: Marcelo Gandra/ Secis) O titular da Secis, André Fraga, disse que o objetivo é reunir pessoas com visões diferentes sobre temas e debater, toda terça-feira. O espaço ficou lotado de estudantes, pesquisadores, moradores e frequentadores da região.>
“A importância do Laje Talks de hoje foi trazer um pouco de conhecimento sobre a história do Comércio, a importância que ele já exerceu na cidade e conversar sobre o futuro, sobre o que a prefeitura e os empresários da região pensam sobre as perspectivas de futuro do bairro. Integrar a sociedade civil, o poder privado e a prefeitura nesse sentido”, afirmou. Francisco Senna deu uma aula sobre a história do bairro (Foto: Marcelo Granda/ Secis) Joia da Coroa O primeiro convidado a falar foi o professor adjunto aposentado da Faculdade Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e membro da Academia de Letras da Bahia, Francisco Senna. Como era de se esperar, ele deu uma aula de história.>
“As intervenções urbanas estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento das cidades. Tomé de Sousa escolheu começar a fundação de Salvador pelo Comércio porque era a região mais adequada para construir uma fortaleza, uma cidade, e um porto marítimo com atividade intensa. Durante séculos essa região foi a mais rica da cidade. Tudo que havia de mais moderno, como mudanças no transporte público ou na pavimentação, por exemplo, começou por aqui. Essa era a joia da coroa”, afirmou. Iuri Barreto aconselha que as pessoas explorem mais a cidade (Foto: Marcelo Gandra/ Secis) O passado parece bem distante da realidade atual, mas, nem tanto. As fachadas dos prédios e a geografia do bairro contam essa história em cada canto do Comércio. Como a região foi aterrada diversas vezes, pelo poder público, pela iniciativa privada e pela igreja, os edifícios mais antigos estão próximos da encosta e os mais modernos do mar.>
Essa experiência, de observar com mais atenção os prédios e as ruas, pode revelar muitas surpresas, e é o que recomenda o autor do Guia do Soteropobretano, Iuri Barreto, também convidado do evento. “Sempre digo que me surpreendo com Salvador. Essa cidade tem muitas histórias. Foi dessa observação que surgiu minha página e ela serviu de inspiração para muitas outras. Andem pelas ruas, explorem a cidade. Vale a pena”, disse. Paulo Marques destacou as belezas da região (Foto: Marcelo Gandra/ Secis) Investimentos>
O olhar mais atento tem ajudado a atrair também a iniciativa privada. O diretor da Fera Investimentos, Paulo Marques, que foi o project manager da revitalização do Fera Palace Hotel, defendeu que a região é um campo a ser explorado. O grupo revitalizou o prédio de 1934, na Rua Chile, e transformou em um hotel boutique. Agora, está planejando intervenções na parte baixa da cidade.>
“Escolhemos empreender do Comércio e tomamos conhecimento de todos os problemas que envolvem o local, mas temos paixão por desenvolver ações que transformam cidades. O Centro está recheado de edifícios maravilhosos e com arquitetura fantástica. Não são apenas ativos, são pérolas”, afirmou. Mara Orge aponta desafios para os empresários (Foto: Marcelo Gandra/ Secis) Ele contou que os desafios são diversos, mas destacou a necessidade de um esforço coletivo para revitalizar a região. A proprietária do restaurante Colon, estabelecimento que está em atividade no bairro há 106 anos, Mara Orge, concordou.>
“Muitas vezes pensamos em desistir e fechar as portas, mas fazemos o trabalho por paixão. As ações que a prefeitura tem desenvolvido são muito importantes para revitalizar o bairro, mas, agora, precisamos também pensar na noite do Comércio, em como atrair pessoas para essa região da cidade durante a noite”, contou. Gustavo Menezes destaca investimentos feitos pela prefeitura (Foto: Marcelo Gandra/ Secis) Esses e outros questionamentos foram respondidos pelo diretor de Parceria Público Privada da prefeitura, Gustavo Menezes. Ele destacou a instalação do Hub Salvador e investimentos em infraestrutura, como a recuperação da Rua Miguel Calmon, e das praças Cayru, da Inglaterra e da Mãozinha, como exemplos.>
“A mudança das secretarias municipais para o Centro é outra forma de fazer os empresários acreditarem na revitalização que estamos desenvolvendo, porque a iniciativa privada não vai investir se o poder público não fizer o mesmo. O Vem pro Centro, por exemplo, é uma iniciativa que está ajudando a levar cultura e lazer para esses espaços”, afirmou.>
Durante o evento o público pode fazer perguntas aos palestrantes. A preocupação com os trabalhadores informais e com os moradores em situação de ruas permeou alguns dos questionamentos.>
Os encontros acontecem no terraço da Secis, um espaço alternativo com 300m² e capacidade para cerca de 80 pessoas, no bairro do Comércio, em eventos em formatos menos convencionais, todas as terça-feiras. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas através do link bit. ly/ LajeTalks.>