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"Mulher preta no poder", clamou a baiana antes do início do desfile
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2019 às 09:07
- Atualizado há um ano
A cantora baiana Larissa Luz foi uma das puxadoras do samba-enredo da Escola São Clemente, no desfile da Sapucaí nesta segunda-feira (4). A São Clemente reeditou um enredo de 1990 para criticar a comercialização dos desfiles das escolas de samba e as mudanças impostas pelo poder financeiro.
Antes da apresentação no sambódromo, Larissa convocou a escola e clamou: "mulher preta no poder". (Foto: Reprodução/Instagram) O enredo "E o Samba Sambou" mostrou como a profissionalização do desfile impôs mudanças às escolas e o carnaval passou a ser regido pelo poder financeiro. O tema foi bem explorado, com fantasias e alegorias compreensíveis, mas a escola sofre exatamente com a falta de dinheiro.
A cantora baiana compartilhou alguns vídeos do desfile em seu Instagram. Ela já voltou a Salvador e, nesta terça-feira (5), se apresenta com Luedji Luna e Xênia França o show Aya Bass, no Pelourinho.
Desfile A comissão de frente da São Clemente trouxe os cartolas do samba definindo o futuro do carnaval em uma virada de mesa, referência que já tinha aparecido no desfile da Grande Rio. As duas escolas lembraram a permanência da própria Grande Rio e da Império Serrano no Grupo Especial, depois de uma decisão em plenário da Liga Independente das Escolas de Samba ter suspendido os rebaixamentos do ano passado.
Fantasiado de Michael Jackson e Madonna, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira apontava a invasão de ícones culturais norte-americanos no carnaval. No abre-alas, o destaque a Marylin Monroe reforçava essa crítica. Marylin apareceu de aplique loiro e sutiã de ícone – marcas da artista na vida real.
A escola ironizou também o luxo dos camarotes e a distribuição de credenciais para amigos de poderosos verem os desfiles, enquanto o povo fica de fora da Sapucaí. O segundo carro mostrou a programação dos camarotes, representando uma festa com DJ e música eletrônica em plena passarela do samba.
Discussões antigas do amantes de carnaval como os enredos e fantasias pagos, a influência da TV e o ego dos carnavalescos e estrelas também voltaram na reedição do enredo de 1990. Com a atualização do tema, as redes sociais entraram na lista, com a proliferação de "especialistas do samba" e intrigas espalhadas sobre as escolas.
A escola defendeu ainda o investimento em cultura, criticando os cortes de verbas que as escolas de samba sofreram nos últimos anos. A São Clemente terminou o desfile em clima de nostalgia, lembrando antigos carnavais. O carnavalesco Jorge Silveira disse que o desfile cheio de críticas e irreverência foi um reencontro da escola com sua essência. Segundo ele, é necessário cuidar para, como diz o enredo, o samba não sambar.
"Muita coisa que ameaçava a gente naquela época continua ameaçando. A coisa só se potencializou. Mas o que mais fere o sambista é deixar o povo fora da jogada. O carnaval é do povo e ele é o protagonista".