Leituras para exorcizar 2020

Conheça oito autores que, este ano, colocaram a Bahia no mapa dos principais prêmios literários do país

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  • Kátia Borges

Publicado em 19 de dezembro de 2020 às 11:00

- Atualizado há um ano

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Parafraseando Drummond, o fim do ano bate na aorta. E a venda de livros dos mais diversos gêneros não para de crescer. Pudera, nada melhor que uma boa leitura para servir como abrigo nesses dias de pandemia e angústia, que também são de esperança. Então, para ajudar você a estabelecer as suas rotas subjetivas de fuga, selecionamos títulos de oito autores baianos que brilharam em 2020, seja figurando entre os finalistas ou como vencedores em alguns dos principais prêmios literários do país.

Torto Arado (Todavia, 264 p., R$ 43, 94)

Escrito pelo baiano Itamar Vieira Junior, 41, que é formado em Geografia e doutor em Estudos Étnicos e Africanos, pela Universidade Federal da Bahia, Torto Arado encabeça a lista dos mais vendidos no país desde o início deste ano e vem obtendo excelente recepção crítica e de público. Premiado internacionalmente — venceu o Leya 2018 — e editado no Brasil no ano passado, foi contemplado com o Jabuti 2020 na categoria Melhor Romance e com o Oceanos, duas das premiações literárias mais significativas. Mas, afinal, qual é o segredo do sucesso dessa história? O livro é ambientado no Sertão da Bahia e de suas páginas emergem as tensões e emoções de um Brasil profundo que poucos conhecem, universo das protagonistas Belonísia e Bibiana, duas irmãs unidas pelo sangue e pela herança de uma sociedade machista e escravocrata.

A ordem interior do mundo (7Letras, 152 p., R$ 49)

Nascido na cidade de Araci, interior da Bahia, o jornalista e escritor Franklin Carvalho, 52, despontou no cenário nacional após ganhar três prêmios literários importantes, praticamente em sequência. Ao vencer o Sesc em 2016, com o romance Céus e Terra, ele publicou pela editora Record, uma das maiores do país, e foi contemplado com o prêmio São Paulo de Literatura, na categoria Autores Estreantes, já no ano seguinte. Em 2020, seu livro de contos, A ordem interior do mundo, venceu o Prêmio Nacional da Academia de Letras da Bahia e foi editado pela 7Letras. Franklin é autor ainda de Câmara e Cadeia (2004) e O encourado, publicado em 2009, ambos em edição independente. No novo livro de contos de Franklin, o leitor encontra oito histórias ambientadas no interior do Brasil, envolvendo personagens e situações inusitados.

As solas dos pés de meu avô (Patuá, 120 p., R$ 40)

Nascido em Salvador e formado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, o poeta Tiago D. Oliveira, 36, é um dos mais jovens autores de nossa lista. Seu livro, As solas dos pés de meu avô, foi um dos dez finalistas ao Prêmio Oceanos 2020, um dos mais concorridos do país, e vem sendo considerado pela crítica como um dos melhores do ano no gênero. Neste volume, o poeta revisitam a origem familiar nordestina, desde a infância até os ritos que envolvem a morte do avô, e transformam essas vivências e esse legado em lirismo de alta voltagem. Com participação em diversas antologias publicadas no Brasil, Espanha e Portugal, onde morou e estudou, durante certo período, na Universidade Nova de Lisboa, Tiago é também autor dos livros Distraído (2014), Debaixo do Vazio (2016) e Contações (2018).

Antônia e a caça ao tesouro cósmico (Artera, 109 p., R$ 44)

O autor deste romance, Alan Alves Brito, 42, é baiano de Vitória da Conquista e doutor em Astrofísica Estelar pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atualmente coordena o Observatório Astronômico de Porto Alegre. Este ano, o seu livro Astrofísica para a educação básica: a origem dos elementos químicos no Universo (2019), escrito em parceria com a também pesquisadora Neusa Teresinha Massoni, foi finalista ao Jabuti, na categoria Ciências. Ainda em 2020, Alan lançou o infanto-juvenil Antônia e a caça ao tesouro cósmico, voltado para um público acima de 10 anos, que tem como protagonista uma menina negra que, guiada pela curiosidade, usa a sua inteligência na compreensão dos mistérios do Universo e do seu próprio lugar no planeta Terra.

Contos dos Orixás (Edição do autor, 120 p., R$ 45)

O baiano Hugo Canuto, 34, também esteve entre os finalistas ao Jabuti deste ano com o seu Contos dos Orixás, que concorreu na categoria Histórias em Quadrinhos. Arquiteto, ilustrador e quadrinista, Canuto se lançou a este projeto com mil ideias na cabeça e um financiamento coletivo nas mãos. Deu tão certo que ele conseguiu bancar os custos nada baratos da publicação — trata-se de uma graphic novel de 120 páginas em papel couchê colorido — e ainda ajudar algumas instituições sociais de Salvador. Também autor do roteiro, o artista buscou inspiração nos heróis da Marvel para criar uma trama que se passa em tempo perdido, no qual os deuses e os homens convivem em um mesmo plano. Os orixás são os protagonistas da história, uma aventura que envolve muita ação, reviravoltas, combates entres mocinhos e vilões e poderes mágicos.

Mônica vai jantar (Dublinense/Não Editora, 71 p., R$ 32)

Doutor em Escrita Criativa pela PUC-RS e jornalista formado na Faculdade de Comunicação da Ufba, o escritor baiano Davi Boaventura, 34, foi finalista no Prêmio São Paulo de Literatura 2020, na categoria Melhor Romance de Ficção de Estreia, com Mônica vai jantar. Autor de Talvez não tenha criança no céu, lançado em 2012, uma narrativa sem concessões sobre a transição melancólica entre a infância e a adolescência, Davi constrói em Mônica uma ficção inquietante, e que chegou a ser classificada por alguns críticos como experimental. Na trama, a protagonista é surpreendida por um incidente que altera a lógica de seu cotidiano: o homem com quem mantém um relacionamento amoroso é flagrado se masturbando dentro de um coletivo. O autor lança mão de um fluxo de consciência contínuo para enredar o leitor na história.

Teoria, crítica e criação literária: o escritor e seus múltiplos (Civilização Brasileira, 208 p., R$ 25)

Professora titular de Teoria da Literatura do Instituto de Letras da Ufba, e a primeira mulher a presidir a Academia de Letras da Bahia (ALB), no biênio 2015-2017, a pesquisadora baiana Evelina Hoisel, 74, ficou em terceiro lugar no Prêmio Mario de Andrade, da Biblioteca Nacional este ano. Neste livro, compilação de ensaios sobre criação literária, Evelina lança luz sobre o trabalho dos chamados “escritores anfíbios”, ou “intelectuais múltiplos”, aqueles que estão sempre em trânsito entre a crítica, a produção literária e à docência, atuando simultaneamente nessas diversas áreas. Numa perspectiva analítica e multidisciplinar, os textos abordam o trabalho de autores como Silviano Santiago, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Affonso Romano de Sant’Anna, Evandro Nascimento e Judith Grossmann, entre outros.

Ganhadores - A greve negra de 1857 na Bahia (Cia. Das Letras, 456 p. R$ 59)

Historiador e professor do programa de pós-graduação em história da Ufba, João José Reis, 68, ficou em segundo lugar, este ano, no Prêmio Sérgio Buarque de Holanda, da Biblioteca Nacional, na categoria Ensaio Social. O mesmo livro também foi finalista ao Jabuti, em Ciências Humanas. Vale lembrar que este pesquisador baiano, reconhecido internacionalmente por seus estudos sobre a escravidão, já tem na bagagem dois Jabutis (um coletivo e um individual), um Machado de Assis (pelo conjunto da obra) e um Casa de Las Américas, entre outros. Ganhadores retrata a greve de dez dias dos carregadores baianos, negros escravizados e libertos, em reação às imposições abusivas da Câmara Municipal, que estabelecia a cobrança de taxas e o “emplacamento” dos trabalhadores, então responsáveis pelo transporte de todo tipo de mercadorias na cidade.