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Da Redação
Publicado em 23 de julho de 2020 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Do mesmo modo que um atleta aguarda ansioso pela chegada das Olimpíadas, um político espera a eleição. Mas este ano as coisas devem ser diferentes no Brasil, acredita o secretário Municipal da Saúde, Leo Prates. Nem mesmo a disputa pelas administrações municipais, prevista para o próximo mês de novembro, deve tirar o foco do poder público do combate ao avanço da pandemia da covid-19, defende. >
“Reconhecerei sempre os méritos dos meus adversários, vou criticar sempre que necessário, mas vou dar as mãos quando as vidas dos cidadãos estiverem em jogo. Seja em eleição, ou fora de eleição essa é minha prioridade”, destacou o gestor municipal durante a sua participação na live Política & Economia, no Instagram do CORREIO (@correio24horas ). Léo Prates foi entrevistado pelo jornalista Donaldson Gomes. “Eu estou trabalhando com o governo federal, com o governo do estado. Isso não quer dizer que eu não possa divergir deles. Eu divirjo do Ministério da Saúde em relação às medidas de restrição”, exemplificou. “Discordo, mas isso não me impede de trabalhar pela vida das pessoas”, ressaltou. O secretário aproveitou para agradecer ao presidente Jair Bolsonaro por 14 respiradores enviados para Salvador. >
“Sou oposição ao governador Rui Costa, mas não posso deixar de reconhecer o trabalho que ele e o secretário Fábio Villas-Boas tem realizado para apoiar a Secretaria Municipal de Saúde”, destacou. “Não é da minha índole desmerecer pessoas que estão em outro campo”, disse. >
Prioridade máxima Segundo o secretário, todas as energias da Prefeitura de Salvador são gastas no combate à covid-19. Como exemplo, ele cita que só com a tenda um do hospital de campanha do Wet'n Wild o município gastou R$ 30 milhões nos últimos meses. A chegada da pandemia do novo coronavírus provocou um grande aumento na demanda pelos serviços públicos, ao mesmo tempo em que provocou uma grande queda na arrecadação municipal. >
“Na hora da crise, a primeira coisa que a pessoa deixa de pagar quando não tem condições são os impostos. Estamos vivendo um momento em que muita gente precisou abrir mão dos seus planos de saúde e passou a depender da estrutura pública”, destaca. Prates conta que o maior desejo da administração municipal é um rápido retorno à normalidade, desde que isso não aumente os riscos à vida da população. >
O secretário contou que todos os investimentos que estão sendo feitos pela Prefeitura de Salvador estão sendo direcionados à saúde, independente de repasses federais. “Mesmo que os recursos federais cheguem, eles são insuficientes para cobrir a demanda por leitos de saúde”, disse. Segundo Prates, o governo federal repassa R$ 1,6 mil por leito, mas o município ainda acrescenta outros R$ 800, para garantir o funcionamento da estrutura. >
“Ainda há um processo burocrático e nem todos os nossos leitos estão habilitados hoje pelo governo federal. Não estou fazendo nenhuma crítica porque sei que há um processo burocrático e controles para garantir o bom uso do dinheiro do cidadão, mas a decisão do prefeito ACM Neto foi de abrir os leitos e, se precisar, pagar só com recursos municipais”, contou. >
Prates destacou o esforço da administração municipal na ampliação da estrutura para o atendimento à população. “Em abril, nós tínhamos 158 leitos de UTI dedicados à covid-19. Hoje, no dia 16 de julho, temos 657 dedicados. Estamos preparados para qualquer eventual pico”, destaca. >
Reabertura Para Leo Prates, colocar em posições antagônicas as políticas para a preservação da saúde e as ações para o fortalecimento da economia é equivocado. “Não existe economia sem pessoas. Ninguém vai trabalhar passando mal, ninguém ganha com os trabalhadores hospitalizados ou entubados. No fim, não existem empresas sem pessoas”, afirma. >
“Essa dicotomia é fruto, muito mais, de um posicionamento ideológico que científico e baseado no que se conhece de saúde pública”, diz. >
Salvador está entrando na fase 1 da retomada econômica, que prevê a reabertura de shoppings, centros comerciais, comércio de rua acima de 200 metros, que estavam fechados, templos religiosos e igrejas e drive-in. O secretário ressalta que este movimento não representa uma volta à normalidade. “Nós estamos vendo os indicadores todos se estabilizando e caindo”, conta. >
O número de novos casos apresentou recuo de 61% pela média móvel, comparando a média dos últimos sete dias com os 14 dias, disse. No caso dos óbitos, o recuo foi de 17%. A taxa de crescimento, que esteve acima de 10% em abriu, segundo ele está em 0,5%. “Nós somos uma das capitais com uma das menores taxas de letalidade, com cerca de 3,7% a 3,8%”, conta. >
O processo de reabertura começa com uma ocupação de 73% dos leitos de UTI. O início da primeira fase estava previsto com uma ocupação de 75%, lembra. “Vamos testar de maneira reponsável por 14 dias e acompanhar o desenvolvimento da doença”, conta. “Nem eu, nem o prefeito, nem o governador inventamos essa doença. Mas temos que enfrenta-la”, defendeu. >
Segundo o secretário, o processo de reabertura será baseado em decisões científicas. >
A definição das áreas em que vai se dar o processo de flexibilização foi definida com base nos riscos relacionados a cada atividade, explicou o secretário de Saúde. >
“Eu sou um defensor ardoroso da educação, porém temos uma cultura da proximidade. Você imagine como controlar o distanciamento nas escolas. Há uma série de questões envolvidas que fazem com que as escolas nos preocupem tanto”, diz. >
Leo Prates lembra que o sucesso do processo de reabertura dependerá da participação de todos, entretanto ressalta que a decisão da Prefeitura de iniciá-lo foi tomada com base em condições favoráveis. “Não adianta a prefeitura fazer a parte dela se a população não contribuir, os comerciantes também não participarem deste processo. Se houver necessidade, sim, nós vamos fechar tudo de novo. Existe um risco, mas é mínimo caso os protocolos sejam respeitados, com o cumprimento das regras de isolamento social”, explica. >
“Para que nós tenhamos que retroceder, seria necessário um aumento na ocupação de leitos dos atuais 73% para 80%. Não temos essa tendência neste momento, mas ressalto também que ainda temos 24 novos leitos de UTI para abrimos até o dia 7 de agosto”, disse. Segundo ele, Salvador vai chegar a um total de 250 novos leitos e deve se tornar a capital que mais expandiu a oferta.>
Leo Prates apresentou a expectativa de um crescimento de 3 a 4 pontos no total de casos logo após a abertura, com uma tendência de estabilização e queda em seguida. Ele ressalta que não se trata de um estudo científico, mas de uma análise com base no acompanhamento dele da pandemia. Segundo ele, mesmo que o cenário se confirme, a estrutura de saúde instalada em Salvador hoje é capaz de suportar. >
“Temos uma estrutura pronta para suportar uma situação até bem mais grave do que a que estamos analisando”, diz, ressaltando que o trabalho aponta para um cenário bem diferente deste. “Todos os protocolos, inclusive o de retorno, foram estabelecidos para que este cenário não aconteça, mas estamos preparados para uma guerra”, avisa. >
Para o secretário, Salvador deve alcançar a última fase de reabertura no mês de novembro. Ele explica que cada uma das etapas de reabertura devem gerar impactos momentâneos. Num “cálculo pessimista”, ele acredita até 23 de agosto a situação deve se estabilizar na primeira fase. “Eu acho que, sendo pessimista, chegamos à ultima fase em novembro. Mas isto depende de cada um de nós. Se só sairmos de casa quando necessário e adotarmos o isolamento social como regra, fatalmente abriremos antes”, acredita. >
Projeto adiado O secretário contou que estava desde o ano passado tentando construir uma candidatura à Prefeitura de Salvador. Assumiu a SMS há pouco mais de um ano e em novembro acreditou ter condições de entrar na disputa, mas conta que os planos foram brecados pela pandemia do novo coronavírus. Em fevereiro, Leo Prates, que é deputado estadual licenciado, filiou-se ao PDT, mas em março a covid-19 tomou conta da agenda. >
“No dia 13 de março, veio a pandemia. A ideia era sairmos em abril, mas como secretário municipal de Saúde isso não foi possível. Em 4 de junho, reavaliamos o cenário e vimos que seria muito ruim deixar o trabalho naquele momento”, conta. Segundo ele, as pesquisas colocavam ele em boas condições para a disputa. “Entendi que era mais útil na Secretaria da Saúde”, diz. >