Líder do BDM, Jão de Pirajá, foi morto com tiros no tórax e pescoço disparados pela polícia

Ele foi baleado dentro de flat na Orla de Salvador durante confronto, diz SSP

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  • Eduardo Dias

Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 08:58

- Atualizado há um ano

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João Teixeira Leal, líder da facção criminosa Bonde do Maluco (BDM) em Pirajá, que morreu na manhã de terça-feira (17), após uma megaoperação da polícia dentro de um flat no Jardim de Alah, na Orla de Salvador, foi atingido por disparos na região do tórax e pescoço. As informações são do boletim de ocorrências do posto policial do Hospital Geral do Estado (HGE), para onde Jão de Pirajá  foi socorrido pelos policiais.

Ainda segundo o boletim, ele se opôs ao cumprimento do mandado de prisão, estava armado e agindo com violência contra os policiais, "que revidaram dentro da proporcionalidade". O traficante foi levado para a unidade médica pelos policiais do Centro de Operações Especiais da Policia Civil (COE), mas morreu horas após ser baleado. A morte foi confirmada pela Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), horas após o início da ação.

Jão foi surpreendido ainda na madrugada por pelo menos seis policiais do COE, que invadiram os apartamentos do Flat Jardim de Alah, na Avenida Octávio Magabeira, na Praia de Jardim de Alah, em Salvador, no cumprimento do mandado de prisão em desfavor do traficante.

João era conhecido como líder do Bonde do Maluco em Pirajá, e havia sido preso em setembro de 2014, num sítio na cidade de Amélia Rodrigues, com R$ 20 mil em espécie e um tablete de maconha. À época, o traficante respondia a 13 processos por tráfico de drogas e homicídios e tinha um mandado de prisão em aberto.

O corpo de Jão, até a manhã desta quarta-feira (18),  ainda aguarda no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues. A família do traficante ainda não havia comparecido até as 9h para o processo de liberação do corpo.

Pagode e facção Jão de Pirajá usava uma banda de pagode para lavar dinheiro da facção. A informação foi divulgada pela Polícia Civil, na manhã de terça-feira (17), durante apresentação do balanço da operação que resultou na morte do traficante e na prisão de 13 pessoas acusadas de envolvimento no grupo criminoso. Ao todo, cerca de 450 policiais civis, militares, técnicos e rodoviários federais participaram da operação que ocorreu na Bahia e no Maranhão - onde é atribuída à facção o ataque a uma agência bancária em Bacabal, de onde foram levados R$ 100 milhões, 

“Durante as nossas investigações, constatamos que ele era dono de uma banda de pagode que era usada para lavar dinheiro. E a gente tem constatado muitos isso. Traficantes usam essas bandas para tal prática porque é muito fácil. Se declara que houve 100 pessoas num show, quando na verdade foram 20”, declarou o delegado Marcelo Sansão, diretor do Departamento de Combate ao Crime Organizado (Draco) da Polícia Civil. Ele preferiu manter o sigilo sobre o nome da banda.

Jão de Pirajá estava no crime há mais de 20 anos e o seu patrimônio vai além de casas, fazendas, apartamentos e carros em Salvador. “Pelo tempo, não há dúvida que ele tem muito mais do que isso, mas estávamos cruzando as informações. Essa operação foi iniciada há um ano e meio e ainda estamos levantando muitas informações. Muita coisa precisa ser feita. Sabemos que os imóveis não estão no nome dele e para isso precisamos de todo o levantamento dos cartórios”, disse o delegado.  Traficante Jão de Pirajá reagiu a abordagem policial e foi baleado (Foto: Divulgação/SSP) Apesar de fazer uso uma tornozeleira eletrônica, e por isso tendo os passos monitorados, ele continuava a comandar ações da BDM em Pirajá e parte do Parque São Bartolomeu. Temendo uma represália, a Patamo ocupou as duas localidades afim de evitar toque de recolher e ataques a ônibus. 

Jão de Pirajá ocupava a terceira posição no organograma da facção, juntamente com George Ferreira Santos, o Neguinho, que teve o mandado de prisão cumprido nessa operação em uma unidade prisional do estado do Maranhão.

Ele recebia ordens do atual líder da facção Cristiano da Silva Moreira, o Dignow, conhecido também por Maluco ou Azuado, o Às de Ouro do Baralho do Crime, que assumiu o topo da organização criminosa após a morte do fundador do BDM, José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, no dia 4 deste mês do Mato Grosso do Sul. 

“Aqui, na Bahia, Jão era o responsável por administrar a distribuição de drogas e armas da facção. Ele já foi preso mais de uma vez e era solto depois pela Justiça”, disse o delegado Marcelo Sansão, diretor do Departamento de Combate ao Crime Organizado (Draco) da Polícia Civil. 

BDM Um dos cinco grupos criminosos mais atuantes na Bahia, e considerado o mais violento, o Bonde do Maluco (BDM) surgiu em 2015 no pavilhão V do Presídio Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura. Liderada pelo assaltante de banco Zé de Lessa, nasceu como uma ramificação da facção Caveira, comandada por Genilson Lima da Silva, o Perna. A investida contra a facção se acirrou em 2017, quando em agosto foi morto em confronto com a polícia Marcelo Batista dos Santos, o Marreno. 

A origem exata do BDM, dentro do presídio, é um tanto incerta. Porém, a facção começa a despontar no fim de 2015, justamente quando Zé de Lessa já está foragido. Inicialmente, ela fora criada para desviar atenção da facção Caveira, de quem era uma ramificação. 

O promotor Edmundo Reis, da Unidade de Monitoramento de Execução, acompanha o sistema prisional e a movimentação das facções. Ele explica que todo o esforço do estado estava concentrado na manutenção de Genilson Lima, o Perna, no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. “Portanto, surge o BDM, como forma de atrair essa atenção. Ele (Zé de Lessa) sempre foi aliado de Perna e passou a ter uma atuação marcante com esse desmembramento da Caveira em BDM”, afirmou. Hoje, o BDM saiu da Bahia. Já está em pelo menos outros dois estados: Sergipe e Alagoas. Era em Maceió, por exemplo, que vivia Marreno. Morto em confronto com a polícia em agosto do ano passado, Marreno era o número 2 do BDM e atuava como líder da facção no estado. 

Segundo o delegado Fábio Marques, da Polícia Federal, uma das características do BDM é justamente o fato de que, quando os líderes passam a ser procurados pela SSP-BA, mudam de estado. 

Desde a morte de Marreno, porém, além da própria família, é difícil apontar quem seja o maior responsável pelo BDM na Bahia, e agora na ausência de Zé de Lessa. "Tem alguns nomes, como Colorido (Antônio Dias de Jesus); Rafael (Almeida de Jesus), que está preso; Cristiano (da Silva Moreira), que está foragido. A gente não sabe quem é de fato o líder do BDM hoje", explica o delegado da PF Fábio Marques. Ao contrário da maioria dos acusados de tráfico de drogas que dominam o noticiário, Zé de Lessa era mais velho. Aos 55 anos, teve um destino diferente da maioria dos jovens que perdem a vida em confrontos ligados ao tráfico de drogas. “Pela idade, ele persistiu, porque muitos foram morrendo. Acho que ele durou muito tempo também porque ficou muito tempo preso. Desses todos, quem ficou mais tempo preso foi ele. Nunca correu muitos riscos estando fora como os outros”, pondera o delegado Cleandro Pimenta. Além disso, o promotor Edmundo Reis destaca que os supostos líderes e ex-líderes de facções criminosas brasileiras também não são jovens. É o caso de Fernandinho Beira-Mar (Comando Vermelho), com 51 anos; Marcola (PCC), com 50; Claudio Campanha (CP), também na casa dos 50, e do próprio Perna. “São pessoas encasteladas pelo próprio crime”, diz o promotor. 

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier