Livro da fotógrafa Iêda Marques tem o povo da Chapada como inspiração

O lançamento é na próxima terça-feira, às 19h, no foyer do Teatro Castro Alves, com exposição das fotos que compõem a publicação

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  • Da Redação

Publicado em 4 de maio de 2012 às 10:34

Nilma Gonç[email protected] Euclides da Cunha (1866-1909) escreveu que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”, no clássico Os Sertões, ele ratificou uma verdade absoluta sobre esse povo. No livro Lembranceiras, Imaginário e Realidade (Solisluna Editora/R$ 100/151 páginas), a fotógrafa baiana Iêda Marques transforma essa força em beleza, através de imagens e textos sobre suas vivências na Chapada Diamantina. O lançamento é na próxima terça-feira, às 19h, no foyer do Teatro Castro Alves, com exposição das fotos que compõem a publicação e apresentação do Reisado Terno das Ciganas, grupo de Caeté-Açu, no Vale do Capão. A mostra fotográfica segue até 18 de maio e é aberta ao público.

Nascida em Boninal, município da Chapada localizado a cerca de 500 quilômetros de Salvador, Iêda Marques se apaixonou pela fotografia em 1976, quando fez seu primeiro curso profissional - apesar de ainda se definir como uma “fotógrafa intuitiva”. A obra é fruto da dedicação, desde essa época, até os dias atuais.  “Trabalho com as tradições culturais. Esse projeto é um retorno às minhas origens”, ressalta ela, que morou em Barreiras, Salvador, São Paulo e Londres, mas fez questão de preservar as raízes sertanejas. “Minha família é toda da roça, então isso sempre foi muito forte em mim”.  No foco de sua lente, o povo humilde da Chapada - queimado de sol, com feições sofridas, magro e, ainda assim, belo. “Existe uma ideia de que o pobre é feio... Meu trabalho é contra isso. A pobreza material é ruim, mas não impede de a gente ser bonito, de a gente ser decente”, filosofa.  Segundo ela, a intenção, além de reverenciar sua gente, foi fugir da obviedade de retratar a natureza abundante da região. “A beleza física da Chapada virou grife. Eu prefiro trabalhar com o mundo rural, com as pessoas”. Líder comunitária    A fotógrafa também é uma espécie de líder comunitária. Desde 1975, desenvolve e executa projetos de educação ambiental e de agricultura familiar nas imediações de Boninal, para onde retornou de vez em 1998.  “A cidade grande passou a me enjoar. Decidi voltar para cuidar dos meus dois filhos - um casal, já adulto - e criá-los nesse nosso mundo”.Na região, Iêda Marques é conhecida ainda como ‘a retratista’. É pra ela que os moradores correm quando tem casamento, aniversário e até velório. “Já fui chamada para fotografar velórios na zona rural e na cidade. Houve um que as pessoas se juntaram ao redor do caixão e precisei de uma cadeira para ter maior visão”, brinca ela, que usa a bicicleta como meio de transporte.  Radiante com o trabalho e seus resultados, o próximo passo é morar com a mãe, dona Rosalina, 94, em Rocinha, próximo a Boninal. Lá, Iêda cria abelhas nativas brasileiras, ocupação de onde vem parte de seu sustento material, já que o espiritual vem da fotografia.