Lucas Santtana realiza neste domingo (28) audição coletiva de novo álbum no Parque da Cidade

Modo Avião é o sétimo disco do músico, que lança também um livro de mesmo nome

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  • Roberto Midlej

Publicado em 27 de maio de 2017 às 06:05

- Atualizado há um ano

Lucas Santtana gravou oito canções em seu novo álbum (Foto: Edu Pimenta/divulgação)

Modo Avião, do músico baiano Lucas Santtana, 46 anos, é livro e é disco. Mas o criador dos dois produtos prefere chamar seu novo projeto de “audiofilme”. As letras das oito canções do álbum Modo Avião (Natura Musical) correspondem exatamente ao texto do livro, que sai pela editora Lote 42 e foi escrito em parceria com o escritor João Paulo Cuenca.

“O livro e o disco são separados, independentes. Você pode apenas ouvir as músicas ou somente ler o livro. Mas é legal também ouvir o disco acompanhando as letras no livro”, explica Lucas. Se para o leitor a ideia é confusa, amanhã é a chance de entender o projeto, que será apresentado em Salvador, no Parque da Cidade, a partir das 13h.

TempoA audição será coletiva e as sessões acontecerão em intervalos de uma hora e dez minutos, às 13h, 14h10, 15h20, 16h30 e 17h40. Serão entregues fones de ouvido a até 70 visitantes por sessão e as pessoas sentarão em pufes, para se dedicarem calmamente à experiência . A ideia é ir na contramão da tendência atual, em que, devido ao excesso de informação, poucas pessoas param para se concentrar em uma mesma atividade por um tempo razoável.

“Hoje, ninguém consegue ficar sem tirar o celular do bolso. Isso é sinal de um ‘buraco’ existencial que a gente vive. Precisamos de um tempo pra não fazer nada, porque é nesse momento que nós paramos e olhamos para dentro de nós”, defende o compositor.

Para ele, a necessidade que temos de nos distrair o tempo inteiro é uma fuga: “As pessoas tomam muita tarja preta porque não querem encarar a realidade. Querem rebater a vida com álcool ou joguinhos no celular”.

O assunto empolga o músico, que continua: “Nós hoje não paramos para refletir e é isso que provoca essa polarização na internet. Precisamos de tempo para pensar, mas neste mundo acelerado nós somos vítimas de dizer apenas ‘sim’ ou ‘não’. E isso é muito primário”, reclama.

A história do livro - e, por consequência, das músicas - é sobre um passageiro que, ao embarcar num voo internacional, conversa com outros passageiros sobre ansiedade, o tempo frenético e o atual enfraquecimento das relações humanas.

“Este disco é mais que um produto; é uma experiência, um convite para as pessoas pararem um pouco. Tá ficando cada vez mais difícil acordar e resistir a ligar o celular. Centenas de pessoas já morreram porque, enquanto tiravam selfie, se distraíram e sofreram um acidente”, diz Lucas, em tom que mistura indignação e surpresa.

BinauralAs oito canções foram gravadas com um microfone binaural. Com essa tecnologia, ainda pouco usada no Brasil, a experiência de ouvir uma música é diferente da tradicional: enquanto os microfones comuns permitem ao ouvinte uma audição 180 graus, o binaural permite uma audição 360 graus.

Os sons gravados com um microfone binaural proporcionam uma escuta surround, como acontece nos cinemas. Por isso, a experiência no Parque da Cidade, amanhã, com um equipamento de qualidade, é tão atraente. Hoje, a audição coletiva será em Recife, no Parque Santana.

Além das canções, o disco tem diálogos entre os personagens, interpretados por atores profissionais, como Patrícia Pillar, Georgette Fadel e Mariana Lima. Não há pausa entre as canções, já que há uma relação entre elas. No entanto, o ouvinte pode escutá-las separadamente. “É como se cada faixa fosse uma cena, como num filme. Uma faixa está ligada à outra”, explica Lucas Santtana.

Seis canções do álbum foram compostas por Lucas especialmente para o trabalho, mas outras duas, Árvore Axé e Streets Bloom, ambas de autoria do músico, já haviam sido gravadas.

A primeira já tinha ganhado a interpretação de Jussara Silveira e a outra havia sido composta especialmente para Céu, que a cantou no disco Caravana Sereia Bloom, de 2012. “Adoro cantar em inglês e, se soubesse, cantaria e comporia também em outras línguas. Acho que cada idioma tem uma sonoridade própria”.

O livro Modo Avião foi escrito com o carioca João Paulo Cuenca, 38 anos, frequentemente apontado como um dos grandes talentos da prosa brasileira contemporânea. Cuenca é o autor de Corpo Presente e O Dia Mastroianni, além de ter dirigido o filme A Morte de João Paulo Cuenca. Lucas diz por que o chamou: “Eu já tinha lido alguns livros dele e eu queria sair um pouco do universo da música. Ele é escritor, mas havia feito cinema e estava na mesma inquietação que eu. Então, o convidei”.

Lucas criou o argumento da história e Cuenca o desenvolveu. “Ele me devolvia e eu colocava umas coisas minhas, mas a gente estava o tempo inteiro trocando umas ideias. Eu escrevia umas falas, ele reescrevia...”. Mas Lucas acabou contribuindo tanto com a criação, que o colega pediu que o músico assinasse como coautor do livro. As ilustrações são de Rafael Coutinho e o design é de Iansã Negrão.