Lulu lança álbum com canções de Rita Lee

Ovelha Negra virou um reggae e Agora Só Falta Você, um funk carioca

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  • Roberto Midlej

Publicado em 31 de outubro de 2017 às 06:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Leo Aversa/divulgação

Roberto de Carvalho, o marido de Rita Lee, disse que Baby Baby (Universal Music), novo álbum de Lulu Santos que traz versões de 12 canções da maior roqueira brasileira, é “uma obra de amor”.

A excitação e a alegria de Lulu ao falar do trabalho mostram que Roberto está certo. Fã de Rita Lee, o músico carioca de 64 anos assume que há uma grande dose de afetividade em seu mais recente trabalho: “Para mim, não houve peso nenhum ao escolher as canções que integrariam o álbum. Nem fiz pesquisa. A escolha foi completamente afetiva. Tanto que a música que abre o álbum é Disco Voador (do álbum Babilônia/1978), que não é exatamente conhecida, mas no meu hit parade pessoal é uma das que mais gosto”.

Lado B e Hits Há também outras canções do lado B de Rita, como Fuga nº 2 (Mutantes, 1969) e Paradise Brasil (Reza, 2012). Mas há ainda uma dose bem farta de hits de várias fases da artista: Ovelha Negra (Fruto Proibido,1975), Mania de Você (Rita Lee, 1979), Baila Comigo (Rita Lee, 1980) e Desculpe o Auê (Bombom) são alguns. 

A produção é assinada pelo próprio Lulu, que convocou uma turma grande para coproduzir, como o DJ Memê, Silva, Hiroshi Mizutani, Tranquilo Soundz (Breno LT, Marcelinho Da Lua e Marcio Menescal) e Fancy Inc (Adriano Dub e Matheus Rodrigues).

A ideia de gravar um disco todo dedicado à nossa Rainha do Rock era antiga. Nelson Motta lembrou recentemente a Lulu que há cerca de 20 anos eles dois tiveram uma conversa em que o músico falava sobre esse desejo, reaflorado durante a leitura da autobiografia de Rita Lee, lançado no ano passado. Lulu estava na primeira semana daquele que seria um ano sabático, quando o livro lhe fez descobrir que cada música de Rita havia marcado um tempo de sua vida.

“Rita e eu temos esse fato em comum: somos da geração baby boomer (bebês nascidos no período pós-Segunda Guerra), né? A gente viveu a década de 50, basicamente com a mesma formação cultural. A gente vem da mesma tradição. E acho que há um encaixe entre o que eu venho fazendo e o que ela vem fazendo”, diz Lulu. 

O músico reforça a relação de fã que tem com Rita: “Sem dúvida, é a artista de música brasileira de quem mais sei músicas decoradas e canto sem esforço”. Lulu diz que também se lembra das letras de Gil, Caetano e Milton, por exemplo. Mas as de Rita, segundo ele, são lembradas sem esforço, muito naturalmente.

Roberto e Erasmo

Em 2013, Lulu lançou outro álbum de regravações, Lulu Canta & Toca Roberto e Erasmo, dedicado à dupla de compositores revelada na Jovem Guarda. Mas, segundo o músico, aquela foi uma experiência bem diferente deste novo trabalho: “Fiz aquele disco a convite de uma empresa e integrava um projeto de regravações. Ali, apliquei a minha estética de rhythm and blues. Mas agora é uma coisa mais orgânica, até porque sou mais parecido com Rita”.

Baby Baby é pop em sua essência, o que é uma marca da carreira de Lulu. “Tem um pouco de Beatles, de Stones... de tudo que formatou o pop brasileiro. Tá tudo condensado”, diz o cantor. A diversidade de ritmos chama a atenção: Baila Comigo é marcada por uma acentuada latinidade; Ovelha Negra virou reggae; Agora Só Falta Você ganhou uma batida do funk carioca. “Cada canção traz sua própria roupagem, sua leitura. Alguém diz que nunca imaginou Ovelha Negra como reggae. Mas eu digo que é reggae e ainda tem uma batida como a do Olodum”, afirma o músico, rindo.

Para Lulu, essa diversidade sempre ocorreu de forma natural em sua carreira. “Cada canção pedia uma solução e algumas soluções vieram de forma muito orgânica, como o reggae em Ovelha Negra”, diz. Mas faz uma ressalva: “As gravações da primeira fase solo dela eram comprometidas por um senso ruim de ritmo”.

Despido de vaidade, Lulu diz que não se preocupa em deixar sua marca de autor nos discos de regravações: “Eu não me esforço para isso, porque o que me mantém fazendo esses trabalhos é o prazer de fazer. Quem trabalha com música não se preocupa em conceituar. Essa conceituação não é uma preocupação intelectual do músico”.

Depois de realizar mais um disco de regravações, Lulu se prepara para estar do outro lado: em breve, canções dele próprio ganharão versões em funk, em um projeto comandado pelo DJ Sany Pitbull e as vozes de Tati Quebra Barraco, Naldo e MC Pocahontas.