Maior premiação do teatro baiano acontece nesta quarta-feira (15)

Jorge Amado é o principal homenageado do Prêmio Braskem de Teatro, que terá transmissão ao vivo pela TVE

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  • Laura Fernades

Publicado em 15 de maio de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Já imaginou como seria se os personagens de Jorge Amado (1912-2001) vivessem na Bahia de hoje? O que diriam Gabriela, Dona Flor e Vadinho sobre os problemas atuais? A resposta está na cerimônia do 26º Prêmio Braskem de Teatro que acontece nesta quarta-feira (15), às 20h, no Teatro Castro Alves, para convidados. Com direção de Luiz Marfuz e transmissão ao vivo pela TVE, o espetáculo de entrega do prêmio revisita a obra do escritor baiano que foi traduzido para 49 idiomas e inspirou novelas, filmes e peças de teatro.

“Não é uma representação de cenas da obra de Jorge. O que a gente quer é refletir, por exemplo, sobre o lugar do povo preto na sociedade. Como era na época que Jorge abordava e como é hoje?”, compara Marfuz, 65 anos, diretor da premiação cujo tema é Jorge Amado na Batida da Cena. Marfuz conta que, além de refletir sobre negritude e miscigenação, o espetáculo toca em outro tema abordado pelo autor: a intolerância religiosa, “que continua existindo de forma violenta”.

É assim, portanto, que o evento com duração de 1h40 está estruturado. Esquetes provocativas são apresentadas no intervalo dos anúncios dos vencedores, narrados por Paloma Amado, filha de Jorge Amado. A cerimônia conta, ainda, com uma homenagem à fluminense Zezé Motta e ao baiano Hilton Cobra, dois atores que já interpretaram personagens de Jorge e se destacam “por extrapolar a cena para uma militância na vida”, defende Marfuz.

Para guiar o quebra-cabeça cênico que mistura música, dança, teatro e projeções audiovisuais, a apresentação conta com os atores Frank Menezes, Amaurih Oliveira e Zeca de Abreu, além da atriz e cantora Larissa Luz. Com estilos distintos, os quatro mestres de cerimônia conduzem as intervenções e o coro de atores que cantam e dançam ao longo da premiação, como a própria Larissa e Zezé, que vai cantar três músicas. Os atores Zezé Motta e Hilton Cobra são homenageados no Prêmio Braskem de Teatro (Fotos: Daniel Fontana/Divulgação e Valmyr Ferreira/Divulgação) Liberdade Sem revelar quais, para não estragar a surpresa, Zezé, 75 anos, muda de assunto, ao telefone, para contar como conheceu Jorge Amado. “É uma história que estou contando em primeira mão, viu?”, anuncia, rindo, sobre o reponsável por apresentá-la ao escritor baiano: um namorado francês que conheceu durante as filmagens de Jubiabá (1986), em Cachoeira. Baseado no romance homônimo de Jorge, o filme de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018) foi o primeiro em que a atriz gravou inspirado na obra do escritor. Dez anos depois, veio Tieta, de Cacá Diegues.

“Minha experiência foi um privilégio e só emoção”, lembra Zezé, sobre ter almoçado com Jorge. “A mãe do Henri fazia a tradução para o francês de figuras ilustres como ele, João Ubaldo e Chico Buarque. Nessa, tive o privilégio de almoçar com Jorge Amado diversas vezes. Não tenho do que reclamar da vida, né?”, gargalha, com seu jeitão bem-humorado.

Mas quando o assunto é a atualidade da obra de Jorge, a atriz deixa o humor de lado para alertar que “infelizmente vivemos em um país que quando as questões parecem estar avançando, elas retrocedem”.“Nosso povo está sofrendo, mas temos que torcer para que tudo dê certo. O papel do teatro é denunciar e não desistir nunca de lutar pelo que acreditamos: liberdade de expressão para discutir racismo, intolerância religiosa, machismo, feminicídio. É nosso papel”, defende Zezé.Ao lado de Zezé Motta, que considera “uma das expressões negras mais extraordinárias da música, do teatro, do cinema, da televisão”, Hilton Cobra, 63, também terá sua história celebrada no Braskem. Nesses  40 anos de carreira, o ator participou da minissérie Pastores da Noite (2002), inspirada no romance de Jorge, e  protagonizou a peça Traga-me a Cabeça de Lima Barreto, cujo texto de Marfuz venceu o prêmio ano passado.

Quando lê uma obra de Jorge Amado e vê a riqueza de detalhes da vida baiana, Cobra conta que fica “feliz de fazer parte desse estado chamado Bahia”. “O teatro é uma arte difícil de ganhar dinheiro, mas é prazerosa. O Prêmio Braskem é o reconhecimento dessa dramaturgia, da cultura de um povo da Bahia. Isso é um marco”, comemora o ator radicado no Rio de Janeiro há 35 anos, sobre a principal premiação do teatro baiano.

Arte em jogo O encontro de hoje propõe um jogo cênico guiado pelas lentes de Jorge. “Ele sempre foi antenado com as questões do seu tempo. Foi autor da lei contra a intolerância religiosa, tomou partido do povo marginalizado e isso aumenta a atração das artes por Jorge Amado”, destaca Marfuz. “Então, como seriam os personagens nessa Bahia do século XXI? O que muda e o que não muda diante dessa sociedade multifacetada e diversa?”, convida.

Além do troféu, os vencedores das categorias Espetáculo Adulto, Infantojuvenil e Espetáculo do Interior receberão um prêmio no valor de R$ 30 mil, cada, e os demais receberão R$ 5 mil. “O Prêmio Braskem só se sustenta porque temos pessoas com talento, são as pessoas que alimentam o prêmio. Vemos a vocação que o estado tem para isto”, acredita a gerente de Marketing Institucional da Braskem, Ana Laura Sivieri.

Confira os indicados ao 26º prêmio Braskem de Teatro:   ESPETÁCULO ADULTO - As Tentações de Padre Cícero - Em Família - Oxum - Por que Hécuba? - Teatro La Independência   ESPETÁCULO INFANTOJUVENIL - Gramelôs e Garatujas - O Barão Nas Árvores - O Mundo Das Minhas Palavras - Ponta D’areia, Pedaço Do Céu - Quem Vai é O Coelho   ESPETÁCULO DO INTERIOR DA BAHIA - Encarceradas (Feira de Santana) - Enquanto os Dias São Mortos (Paulo Afonso) - Mulheres Malês - Nas Margens do Rio (Lauro de Freitas) - O Grande Yorick (Ilhéus) - O Teatro é de Cordel (Jequié)   TEXTO - Gil Vicente Tavares, por As Tentações de Padre Cícero - Paulo Atto, por Teatro La Independência - Vinicius Bustani, por Criança Viada Ou De Como Me Disseram Que Eu Era Gay - Fernando Santana, por Frida Kahlo - Wanderley Meira, por O Mundo Das Minhas Palavras   DIREÇÃO - Diego Pinheiro, por Quasilhas - Gil Vicente Tavares, por As Tentações de Padre Cícero - Leonardo Santolli, por Consertam-se Imóveis - Luis Alonso, por Teatro La Independência - Marcio Meirelles, por Por que Hécuba?   ATOR - Genário Neto, por Memórias do Mar Aberto - Medéia Conta Sua História, Titus - Uma Reverberação da Obra de Shakespeare e Madame Satã - João Guisande, por Por Esse Amor e Retratos Imorais - Lúcio Tranchesi, por As Tentações de Padre Cícero - Marcos Lopes, por O Barão Nas Árvores - Rui Manthur, por Enfermaria Nº 6   ATRIZ - Chica Carelli, por Por que Hécuba? - Evelin Buchegger, por Teatro La Independência - Kátia Leal, por As Centenárias e Consertam-se Imóveis - Marcia Lima, por Medéia Negra - Vivianne Laerte, por Memórias do Mar Aberto – Medéia Conta Sua História   REVELAÇÃO - Bárbara Lais, pela Atuação em Jackie – A do Mal ou Nem Tudo é O Que Parece - Natalie Souza, pela Atuação em A Rede – Memórias Compartilhadas - Sophia Colleti, pela Direção de Enfermaria Nº 6 - Vagner Jesus, pela Atuação em V de Viado   CATEGORIA ESPECIAL - Ubiratan Marques e André Oliveira, pela Direção Musical de Quasilhas - Andrea Rabelo e Joice Aglae, pelo Figurino de Confabulações - Luciano Bahia, pelo Conjunto das Direções Musicais do Ano de 2018 - Thiago Romero, pela Direção de Arte de Oxum - Mônica Nascimento, pela Direção de Movimento nos espetáculos O Último Capítulo, O Mundo das Minhas Palavras, Consertam-se Imóveis e Enfermaria nº 6