Mama Muxima! Padroeira de Angola é recebida com missa em Salvador

Imagem foi entregue por uma comitiva africana à Arquidiocese neste domingo

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 21 de outubro de 2018 às 15:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

Uma famosa santa africana atravessou o oceano atlântico e desembarcou esta semana em Salvador. Vestida de branco e com um manto azul sobre a cabeça e os ombros, Mama Muxima, a Padroeira de Angola, é a nova moradora da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho.

Uma comitiva deixou a África e trouxe pessoalmente a imagem para ser entregue à Arquidiocese de Salvador. O arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, e o bispo de Angola, Dom Vicente Kiaziku, fizeram uma celebração conjunta de entronização da santa na igreja na manhã deste domingo (21). Bispo de Angola falou em estreitar laços entre os países (Foto: Marina Silva/ CORREIO) O templo ficou lotado de fieis e algumas pessoas tiveram que assistir à missa de pé, do lado de fora da igreja. Os membros da Irmandade dos Homens Pretos compareceram em peso e suas vestes negras se destacaram na multidão. Dom Murilo contou que Mama Muxima equivale a Nossa Senhora da Conceição, no Brasil, e que a cerimônia é uma forma de estreitar os laços entre os dois países.

“A gente sabe que Salvador tem marcas profundas deixas pelos negros que vieram para cá, infelizmente, como escravos. Agora, cabe lembramos que temos lanços muito mais profundos de fraternidade e irmandade, filhos do mesmo Deus, e é importante que eles se exteriorizem através de gestos. Então, a entronização dessa imagem, de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira da Angola, vem nos lembrar que somos irmãos”, disse. Dom Murilo Krieger recebeu a imagem e presidiu a missa (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Angola Mama Muxima tem um santuário que fica a 160 km da capital Luanda que é motivo de peregrinação. A fé é tamanha que o governo angolano criou uma ponte ligando as duas regiões. A igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, onde a réplica vai ficar, era frequentada por negros impedidos de frequentar as mesmas igrejas dos senhores em Salvador.

Durante a celebração desde domingo o bispo Vicente afirmou que a entrega da réplica da santa à Salvador faz parte também das comemorações pelos 50 anos da criação da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé. “A partir de hoje ela não é só de Angola, passa a ser também do Brasil e da Bahia”, afirmou. Igreja ficou lotada para a solenidade (Foto: Marina Silva/ CORREIO) A cerimônia deste domingo foi tão importante que outras irmandades também marcaram presença, como a de Nossa Senhora do Amparo, de Santo Amaro, a de Nossa Senhora da Boa Morte, em Cachoeira, ambas no recôncavo da Bahia, além da angolana. Mesmo com dificuldade para caminhar, Ebominice Espíndola, 80 anos, fez questão de participar.

“Sou integrante da Irmandade dos Homens Pretos e da Boa Morte e só tenho a agradecer pelo dia de hoje. A presença de Mama Muxima é importante para a fé e motivo de muita honra. Ela tem um olhar de mãe, um olhar acolhedor, e será muito bem acolhida aqui, tenha certeza”, contou. Santa é carregada por comitiva de Angola (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Festa Fogos de artificio marcaram o início da missa e os momentos mais importantes da celebração. Os cânticos alternaram entre as melodias das igrejas dos dois países, acompanhados de atabaques, pandeiros e palmas.

A música se espalhou pela ladeira do Pelourinho atraindo a atenção de um grupo de turistas em excursão que fazia fotos na fachada da Casa de Jorge Amado. Eles desceram a ladeira e a igreja ficou ainda mais lotada. O sacerdote angolano da Congregação Capuchinho Paulo Cacola explicou porque escolheram a capital baiana como morada para a santa.

“A imagem vem para Salvador para simbolizar essas origens. Sabemos que muitos afrodescendentes que vivem em Salvador vieram de Angola, sobretudo da região onde se encontra o santuário da Mama Muxima, então, é a mãe que veio ao encontro de seus filhos”, disse. Ebominice, 80 anos, fez questão de participar (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Antes de entrar na nave do templo carregada nos ombros por integrantes da irmandade de Angola, a santa ficou na sacristia em frente a uma das três imagens de Nossa Senhora do Rosário que existem na igreja. Rodeada de rosas bancas e amarelas, ela foi alvo de muitas selfs e até de pedidos.

O missionário Betinho de Saunbara integra a Irmandade de Nossa Senhora do Amparo, em Santo Amaro, e viajou até Salvador apenas para assistir a cerimônia. “É uma grande honra receber essa santa no Brasil e uma ação muito importante para a nossa fé. É também uma forma de nos aproximar mais da África”, disse.   Procissão seguiu pelas ruas do Pelourinho após a missa (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Na entrega oficial, Mama Muxima passou por baixo do grande rosário que pende do alto do templo e também carregava nas mãos um terço de pedras brancas. Por volta das 12h, uma procissão saiu pelas ruas do Pelourinho carregando as imagens da padroeira africana e a de Nossa Senhora do Rosário, a peregrina, com mais de 1,5 metros de altura.

A imagem de Mama Muxima ficará no altar, na parede oposta a imagem de São Domingos, até que seja construído o local de adoração da santa. A estimativa é de que fique pronto até dezembro, no lado direito do templo. A visitação da igreja custa R$ 3.