Manuela Rodrigues lança O Grito, trabalho autoral e intimista

No EP, cantora diz que foi mais sombria e reflete sobre ser mulher negra, artista e mãe

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 26 de abril de 2022 às 05:50

. Crédito: Foto: Sara Regis

Um piano nas mãos, uma ideia na cabeça e muitos gritos para colocar no mundo. Assim Manuela Rodrigues fez o seu novo disco, o EP 'Grito', com 5 faixas que mostram uma versão mais sombria (ou seria humana?) da cantora com uma obra e personalidade tão solar. 

A ideia de Manuela foi mesmo desabafar neste que é o seu quinto trabalho em mais de 20 anos de carreira. O projeto nasceu de uma experiência acadêmica, mas acabou resgatando uma canção que fez em 2005, depois da difícil experiência de uma das duas paralisias faciais que sofreu. 'Grito' nomeia o EP e ganhou outros significados na voz e melodia dessa mulher, humana, com muita coisa para gritar.

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O formato minimalista do disco deixa tudo muito cru e vivo. As canções inéditas foram gravadas ao vivo, em trio, onde se junta aos músicos Alexandre Vieira (baixo) e Marcos Santos (bateria).

"O processo criativo do disco foi um pouco atípico porque ele veio a partir de uma experiência acadêmica, o mestrado profissional em música que fiz entre 2017 e 2018. Estudava como se dava meu processo criativo junto ao piano", iniciou Manuela, direto de seu carro após um dia de engarrafamento em Salvador, em conversa por telefone com o CORREIO.

Ela completa o raciocínio: "Aí, nasceram músicas novas e todas vinham com essa coisa do desabafo, aparecendo muito mais a minha sombra do que meu lado mais solar. É um disco que me expõe muito, de certa forma. Fala de minhas dores, como é atravessar diversas dores de uma mulher na sociedade, mãe solo, todas as minhas lutas como artista também que convergem nas lutas de todo o mundo e como elas passam por mim", contou a artista.

A recepção ao disco faz a versão solar de Manuela florescer. "Fiquei muito feliz com as mensagens que tenho recebido. Muito emocionada mesmo. Tinha tempo que eu não lançava um trabalho do tipo e ter esse retorno tão afetivo é algo que me agrada", explicou."Eu sou uma pessoa solar, alegre, se olhar meus discos anteriores tem um quê de humor e graça e o Grito vem para dizer que existe um outro lado em todos nós, um lado menos luminoso, menos alegre, mas ainda assim humano. Aparece a minha humanidade nesse disco", explicou Manuela.O disco foi gravado, mixado e masterizado no Estúdio Cada das Máquinas, por Tadeu Mascarenhas, velho parceiro de Manuela e produtor de três dos seus CDs. As fotos da capa do EP e da divulgação são da artista Sara Regis e o visual é assinado por Erich Gutmann. O encarte é do artista visual Don Guto. Além do EP, também houve o lançamento do “Bastidores do Grito”, com direção de Larissa Lacerda. O filme está disponível no YouTube de Manuela. Assista no player abaixo.

Os títulos dos discos anteriores de Manuela Rodrigues parecem convergir até grito de uma forma que surpreende. Manuela buscou suas Rotas (2003) para não mais ser Uma Outra Qualquer Por Aí (2011) e fazer sua voz ser escutada enquanto mulher, mãe solo, negra e artista. Essa busca se fez estudando, compondo, experimentando, cantando. É como "Se A Canção Mudasse Tudo" (2016) e ela vai conseguir trilhar seus caminhos do jeito que quer, nem que seja no Grito (2022).

Faixa por faixa: escute e entenda

1. Grito A canção-título do EP “Grito” foi composta pela artista após um episódio em que ela teve uma Paralisia Facial, conhecida como Paralisia de Bell. Na ocasião a cantora não podia cantar porque parte do seu rosto não se movia e os olhos não fechavam. A faixa possui um ambiente experimental ousado que contrasta com a formação tradicional piano, baixo e bateria.

2. Pra Afugentar o Medo Manuela Rodrigues tem síndrome do pânico e faz tratamento para contorná-la. Na segunda faixa, ela tenta fazer um exorcismo de seus medos, se libertar deles. E a música é uma aliada poderosa. Inclusive, a segunda é a favorita da cantora.

3. Olhe Pra Cara das Pessoas Composição escrita antes da Pandemia, que acabou ganhando outro sentido após o isolamento social. A música fala sobre a necessidade de sair das telas, se referindo ao uso excessivo do celular e sugerindo a valorização do encontro, do olho no olho.

4. Siga na Pista Aqui, Manuela traz as relações amorosas que classifica como voláteis e que se dão à partir dos encontros online nas redes  sociais.

5. Marcha do Renascimento Única não-inédita do EP, foi gravada no álbum anterior da artista, “Se a Canção Mudasse Tudo”, e agora surge na versão voz e piano.

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