Maracás: da Cidade das Flores à terra do vanádio

Cidade no interior baiano que tem a única mina do tipo nas Américas está vendo economia florescer

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 20 de setembro de 2019 às 04:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Alan Christian/Divulgação

O vanádio virou nome até de auto-escola na Cidade das Flores. Cinco anos após o início da operação  da Vanádio de Maracás, a produção do minério está redesenhando a estrutura econômica e social da cidade a 370 quilômetros de Salvador. Após o início da operação na mina, o município se tornou o 8º maior gerador de royalties minerais (Cfem) na Bahia, de acordo com dados da Agência Nacional de Mineração (ANM). No ano passado foram pouco mais de R$ 2 milhões. Há cinco anos, foram apenas R$ 56 mil. E antes disso, se quer aparecia na lista.  

Entretanto a importância da atividade econômica em Maracás vai além da arrecadação do Cfem.  Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de empresas ativas na cidade baiana passou de 373 em 2014 para 484 em 2017. A quantidade de pessoas ocupadas passou de 2,2 mil para 3,3 mil no mesmo período. O volume de recursos em circulação na cidade, propiciado pela massa salarial e outras remunerações, praticamente dobrou, passando de R$ 31,4 milhões para R$ 67,1 milhões. 

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A pesquisa que mostra a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios registra que no intervalo entre 2014 e 2016 a economia maracaense experimentou uma expansão de 60%, passando a registrar um PIB de R$ aproximadamente 309 milhões. O PIB da indústria, que engloba a mineração, triplicou, passando de R$ 27 milhões para pouco mais de R$ 91,5 milhões. 

Oportunidade de crescer Foi o vanádio quem definiu o rumo da vida da assistente de departamento pessoal Lindaines, 22 anos. Há dois anos ela entrava na Largo Resources como estagiária. Não fosse a mina, teria tomado o caminho de muita gente na faixa etária dela. “Os jovens de Maracás tinham o costume de concluir o segundo grau e ir tentar a vida em São Paulo ou em Salvador”, conta. 

Formada em Recursos Humanos e com uma segunda graduação em curso, em Contabilidade, Lindaines comemora a possibilidade de trabalhar em sua área de formação. O curso atual é bancado em parte pela Vanádio de Maracás. “Sinto que estou me desenvolvendo aqui. Eu tinha emprego antes. Já trabalhei em um supermercado e numa loja de produtos agropecuários, mas agora posso atuar em minha área de formação”, diz.  Lindaines Santos destaca oportunidades geradas pela mineração em Maracás (Foto: Donaldson Gomes) Ela conta que não foram apenas os funcionários da mineradora os beneficiados pela produção do vanádio. O mineral – que tem o seu uso ligado à produção de um aço mais resistente e mais leve, na indústria aeroespacial e na produção de baterias de alta capacidade – está transformando sonhos em realidade. 

Novas empresas chegaram para prestar serviços à mineradora, o comércio se expandiu, com novos mercados, farmácias e restaurantes, instituições de ensino chegaram, bem como estabelecimentos de hospedagem.  O movimento aparece nos números do IBGE. 

O setor de comércio e serviços da cidade cresceu na mesma proporção que o PIB municipal, passando de R$ 66 milhões para R$ 102 milhões, entre 2014 e 2016. 

Com a possibilidade de crescimento pessoal, Lindaines sabe que agora o céu é o limite. Mas ela tem muita clareza em relação ao horizonte que quer vislumbrar todos os dias. “Nunca quis sair daqui e agora com a mineração tenho a possibilidade de construir minha vida em Maracás”, afirma. E pra fechar com chave de ouro, o vanádio ainda fez o papel de casamenteiro para ela. “Conheci meu marido na Vanádio. Ele veio de Serrinha trabalhar aqui. E a nossa história não é a única deste tipo”, ri. 

Momento certo O prefeito de Maracás Uilson Venâncio diz que a mineração chegou em boa hora para a cidade. “Nós já tivemos uma agricultura muito forte, com o café e legumes, mas muitas áreas agrícolas foram vendidas para o plantio de eucaliptos e isso enfraqueceu a atividade por aqui”, diz. Segundo o prefeito, mesmo com a exploração do vanádio o município enfrenta  dificuldades na área econômica. 

“A nossa cidade cresceu demais após o início da operação da mina. A Vanádio nos ajuda demais. Se hoje temos uma série de dificuldades com a empresa aqui, não quero nem imaginar como seria se não tivéssemos ela”, reconhece Uilson Venâncio. 

Além da renda para os 800 trabalhadores diretos e movimentar a economia local, a empresa atual em projetos sociais, como o Jequiriça, que oferece aulas de judô e jiu jitsu para crianças. Além disso, apoia o  Mulheres Ativas, com cursos e projeto de confecção, corte e costura, além de uma associação para a produção de mel. 

O município a aproximadamente 370 quilômetros de Salvador tem pouco mais de 24 mil habitantes. Até a chegada da mineração, vivia da produção agrícola, pecuária e a produção de flores. 

Longa história Apesar do início da produção ter se dado há apenas cinco anos, a presença do vanádio em Maracás já era conhecida quatro décadas atrás. O mineral foi identificado pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) e o projeto chegou a ser alvo de pesquisas de outras mineradoras. Mas foi apenas com a chegada da canadense Largo Resources que a potencial pôde ser aproveitado. 

“Esta é mais uma história vitoriosa que começou com a CBPM”, destacou o presidente empresa estadual de pesquisa, Antonio Carlos Tramm. Segundo ele, o objetivo da empresa é encontrar produtos como o vanádio em outras cidades baianas. 

Acionista majoritário e presidente do conselho da Largo, Alberto Aras ressaltou a qualidade do produto disponível na Bahia. A mina no interior baiano é a única de vanádio nas Américas. “A nossa fé estava correta”, comemorou, durante um evento para comemorar os cinco anos de operação na Bahia. Antes de colher os frutos, a empresa enfrentou dois anos difíceis – 2015 e 2016 – logo após a implantação.

Titânio e ferro estão na mira da Largo Após o anúncio da expansão na produção de vanádio, que passou de 800 toneladas por ano para mil toneladas, a Largo Resources planeja iniciar a produção de titânio e de ferro-vanádio em sua unidade de Maracás. O projeto de produção do titânio é o mais adiantado e pode ser iniciado em fase piloto até o final deste ano, adianta o CEO da Largo Resources, Paulo Misk. 

“O projeto para começarmos a recuperar o titânio e o ferro-vanádio é mais uma evolução em nosso esforço para agregar valor à nossa produção” destaca Misk. Segundo ele, a atividade de extração do minério do solo representa apenas 25% do que a Vanádio de Maracás realiza na cidade do interior baiano. A estrutura montada lá conta com estruturas para processos de  transformação física e química.

É graças a esta estrutura que a Largo produz na Bahia o produto que é reconhecido mundialmente como o melhor do planeta. “Depois de passar por uma unidade de pirometalurgia e por uma planta química, nós temos um produto que não é mais simplesmente um mineral, é um produto químico com 99,5% de pureza”, diz. 

Além do elevado nível de pureza, o material produzido na Bahia se destaca pelo 2º menor custo de produção do mundo – perdendo apenas para o da China – e por um elevado nível de recuperação do produto, de 80%. Antes de Maracás, o melhor já registrado era de 72%. 

Se a planta-piloto de titânio confirmar as expectativas da Largo, a estimativa da empresa é que o início da operação comercial do produto se dê entre dois anos e dois anos e meio. A empresa calcula a possibilidade de produzir até 46 mil toneladas do produto por ano. 

“Nós temos muito o que crescer em Maracás”, acredita Misk. Segundo ele, atualmente a mineradora utiliza apenas 3,6% da área disponível na cidade. A área sob a concessão da empresa tem extensão de 26 quilômetros (km). 

Segundo Misk, levando-se em conta apenas as reservas que já foram identificadas, a produção mineral na região vai até o ano de 2040. “Nós acreditamos que podemos ampliar este horizonte nos próximos anos. A nossa história por aqui está apenas começando”, avalia. 

*O jornalista viajou até Maracás a convite da Largo Resources