Médium baiano já vendeu mais de 260 mil livros; Gisele Bündchen está entre fãs do autor espírita

Nascido em Riachão do Jacuípe, no interior da Bahia, o médium e professor de História Maurício de Castro, 34 anos, psicografa livros desde 2004

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  • Jorge Gauthier

Publicado em 28 de setembro de 2014 às 09:02

- Atualizado há um ano

Maurício psicografa livros em sua casa usando um computador.O primeiro livro foi psicografado à mão (Foto: Marina Silva)As dores eram fortes, constantes e tomavam todo o corpo franzino de 13 anos. As visitas aos médicos eram quase diárias, mas eles nada encontravam. Sentado na sala de sua casa, na cidade de Riachão do Jacuípe, a 186 quilômetros de Salvador, o menino Maurício de Castro viu um homem pegar fogo na sua frente.  A casa estava cheia. Mas só ele conseguiu ver a cena, que jamais saiu da sua memória. Delírio febril? “Nada disso, ele está louco. Tem que ir ao psiquiatra”, diziam.Socorrido no Centro Espírita Jesus Nosso Mestre, também em Riachão,  veio o diagnóstico: nada de doença, Maurício era médium - tinha o dom de ver, ouvir e incorporar espíritos. Naquele momento, as dores sumiram, mas, desde então, as visões e diálogos com os seres de luz se tornaram companheiros inseparáveis.Por dez anos, Maurício se dedicou aos estudos do espiritismo e desde então é usado  para psicografar relatos de outras vidas.  Desde 2004, já foram  18 livros escritos - 10 já publicados e cerca de 262 mil exemplares vendidos no Brasil, Portugal, EUA e Espanha. Um deles - Donos do Próprio Destino (2012) - atravessou as fronteiras da Bahia e foi parar nas mãos da  übermodel brasileira Gisele Bündchen.“Há um mês eu estava olhando a internet e me deparei com uma foto de Gisele segurando meu livro  (na saída de um café em Nova York). Ela falou que gostava do autor  e  romances espíritas”, conta Maurício, que há duas semanas recebeu um e-mail da produção de Gisele pedindo seus contatos, pois ela gostaria de conhecê-lo.O encontro ainda não aconteceu e Maurício não sabe como o seu livro chegou às mãos da top  brasileira. “Ela já deu entrevistas dizendo que era fã de literatura espírita, principalmente de romances, que é o estilo que eu psicografo. Acredito que ela possa ter comprado em algum aeroporto”.A história que virou leitura preferida de Gisele, segundo revela Maurício, é um relato da vida de uma empresária dona de muitos negócios na Europa, que culmina em uma disputa de bens e reflete outros conflitos dos personagens em vidas anteriores.No romance, a empresária vai  para um convento do Sul da Itália, onde são reveladas situações de adultério, homossexualidade entre padres e aborto de freiras. “Nesse livro, fica uma reflexão de que cabe a nós mesmos fazermos as escolhas para as nossas vidas, pois todos os atos têm consequências futuras”, destaca Maurício.  O CORREIO procurou Gisele, através da sua  assessoria de imprensa, mas não teve retorno até o fechamento dessa reportagem.AmizadeO livro lido por Gisele foi ditado para Maurício pelo espírito de Hermes, seu mentor espiritual. Ele era um jovem banco, loiro, de olhos verdes, que desencarnou aos 25 anos, em São Paulo, na década de 1920.“De 1994 a 2004, ele apareceu para mim. Nós conversávamos quase diariamente. Ele me dava conselhos sobre a vida cotidiana, mas nunca sequer falou seu nome. Eu passei dez anos estudando sem saber quem ele era, mas isso mudou em janeiro de 2004 quando ele me propôs que escrevêssemos juntos romances espíritas”.O contato com Hermes, segundo Maurício, acontece de forma coloquial. “Converso com ele da mesma forma que estou conversando aqui com você. Na primeira vez que ele me ditou um livro, eu estava meditando e ele pediu que eu levantasse e pegasse papel e caneta. Passei uma hora escrevendo e quando acabou, vi que era o primeiro capítulo de um romance”, conta Maurício que passou quatro meses escrevendo o livro  O Amor Não Pode Esperar (2006). Com Hermes,  já escrevi 16 livros.  Ele psicografa usando um computador. Apenas seu primeiro livro foi escrito à mão.Os textos de Hermes - com linguagem coloquial, mas por vezes rebuscada - sempre versam sobre a doutrina espírita com lições e ensinamentos de amor ao próximo e respeito  às escolhas livres. Além de Hermes, Maurício psicografa textos passados por outro espírito: o de Saulo, que foi trazido para sua vida em 2011 por Hermes. Com Saulo - um cigano de origem turca -  Maurício escreveu  três livros e está começando a escrever o quarto. O estilo de Saulo é mais denso do que o de Hermes e os relatos têm uma carga dramática maior como em Ninguém Domina o Coração (2012), onde ele descreve as maldades de uma  jovem rica.“As histórias que os espíritos me passam são reais que aconteceram em outras vidas. Algumas têm relação com  pessoas próximas a mim ou até mesmo de outras encarnações minhas. Mas, eles geralmente mudam algumas informações como o nome de pessoas”.LiberdadeApesar do grande número de livros escritos e vendidos, Maurício não interfere nos textos. “Só uma vez sugeri a Saulo o título de um livro. Mas, sempre respeito os textos do jeito que os espíritos me passam”, revela o médium que, apesar do contato com a literatura admite que não tem capacidade para escrever textos autorais. “Acho que não consigo”, argumenta.A presença dos espíritos na vida de Maurício, hoje com 34 anos,  vai além. “Ser médium requer equilíbrio e uma vida dedicada à doutrina. Não posso cometer excessos”, resume Maurício, que é solteiro,  tem um filho de 14 anos e vive com a mãe, a professora Dalva Adelina. “Até para ter um relacionamento é mais difícil, pois a pessoa precisa entender a minha condição e realidade”.Junto com os estudos da doutrina espírita, Maurício se formou em História pela Faculdade de  Tecnologia e Ciências (FTC), em Riachão do Jacuípe. Maurício, que leciona a disciplina  em escolas da cidade,  não revela quanto ganha com os livros, mas diz que boa parte do arrecadado é usada em trabalhos no Centro Espírita Cascata de Luz, onde  dá orientações.“Nesse momento  tem sempre alguém comigo. Ou meu mentor espiritual (Hermes) ou algum espírito de luz que venha para ajudar. A filosofia espírita auxilia as pessoas em diversas situações, mas hoje as principais queixas são depressão e ansiedade”.