Mercado São Miguel começa a ser reconstruído e terá 74 boxes

Centro comercial da Baixa dos Sapateiros ficará pronto em março de 2020

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  • Nilson Marinho

Publicado em 12 de março de 2019 às 15:41

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Há um ano e meio Maria Viana, 42 anos, perdeu o boxe onde trabalhava, no Mercado São Miguel, na Baixa dos Sapateiros, por causa de um incêndio que destruiu parte da estrutura. Desesperada, ela não sabia como iria continuar trabalhando.

Duda Mel, como prefere ser chamada, ficou atuando na região como ambulante até que, meses depois, uma amiga emprestou um boxe, onde ela trabalha atualmente. A vendedora comemora a notícia de que o mercado passará por uma reforma. O anúncio foi feito pelo prefeito ACM Neto, em uma cerimônia que aconteceu na manhã desta terça-feira (12), no próprio local, onde o gestor assinou uma ordem de serviço para início imediato das obras.

O local, que tem apenas 11 boxes e uma barbearia funcionando, passará a contar com 74 boxes ativos e receberá investimento de R$ 5,1 milhões. A obra deve ser finalizada em março de 2020. 

Haverá reforma total do mercado, principalmente na ala esquerda, que ficou completamente destruída no incêndio. Já a parte frontal será recuada para que possa ser feita uma área verde, que abrigará vendedores, chaveiros e outros prestadores de serviço. Duda Mel perdeu tudo no incêndio de 2017 (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) “Ficamos felizes com a notícia porque, em 2017, foi o maior desespero acompanhar as chamas consumindo todo o meu boxe. Espero que a estrutura possa trazer um maior conforto pra gente”, disse a comerciante.Duda Mel não sabe mensurar o prejuízo que teve com o incêndio, mas, só com o dano do freezer, ela perdeu um investimento de R$ 4 mil.

De acordo com o novo titular da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), Felipe Lucas, todos os permissionários que atuam no local serão realocados para outros espaços da cidade nos próximos dias. Segundo ele, os que já atuam serão priorizados na realocação para o novo espaço construído. Os locais para onde irão só serão definidos após uma reunião entre a pasta e os licenciados, sem prazo para acontecer.

De acordo com a pasta, atualmente existem 45 permissionários licenciados, porém, atualmente, estão em atividade somente 28. 

“Vamos tentar equalizar para que eles sofram o mínimo de impacto possível, mas não há outra forma. Neste momento é preciso fazer o sacrifício temporário que valerá a pena, sem dúvida. Aqueles que a gente puder manter na região, vamos manter, mesmo durante as obras, em áreas seguras. Os outros, vamos fazer um estudo e apresentar as alternativas", explicou o titular.

Como haverá ampliação no número de boxes, a Semop identificará novos permissionários que possam ter o perfil para atuar no mercado. As datas do processo de seleção e como ele será realizado não foram informados pela pasta. Barbeiro Antônio está ansioso com a revitalização (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) O barbeiro Antônio de Jesus Neves, 75, é um deles. Ele, que trabalha no mercado há 48 anos, comemorou quando soube da requalificação do centro comercial. O idoso lembra que, na década de 80 e 90, o espaço movimentava o comércio na região da Baixa dos Sapateiros, mas, ao longo dos anos, a estrutura deteriorada acabou afastando clientes e visitantes. “Era um local bem movimentado, com muitos comerciantes e clientes, mas, aos poucos, tudo foi acabando. Espero que, com a reforma, tudo possa melhorar”, acredita o barbeiro.“Já esperava há muito tempo essa ação e, graças a Deus, chegou agora. Aqui já teve muitos boxes, carregava mercadorias da Ceasa para cá, tinha muita gente, mas o movimento caiu com o tempo. A expectativa é que tudo seja bem melhor pra gente. Vai ser beleza, mesmo”, completou. Prefeito ACM Neto já autorizou início das obras (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Projeto O novo mercado, segundo explicou Tânia Scofield, presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FML), responsável por planejar o projeto, abrigará, em uma área de 4.460 m², 74 boxes - 28 destinados à comercialização de produtos hortifrutigranjeiros e 31 para itens diversos que, segundo ela, precisam ter relação com o que já era comercializado no mercado anteriormente, para preservar a identidade do local, como itens para comida baiana, como azeite de dendê e camarão, e ervas usadas em rituais religiosos do candomblé.

O local terá também 9 espaços para serviços e 6 que funcionarão como bares e restaurantes, além de um novo ambiente para roda de capoeira. A fachada será composta por uma estrutura metálica e a área construído do mercado será recuada, para que espaços inutilizados do terreno sejam usados.  Como ficará novo mercado (Foto: Divulgação) “Teremos um jardim que abre um espaço verde para a Avenida J.J. Seabra. Um local pensado para a festa de São Miguel e a festa de Santa Bárbara, preservando a cultura do local. Ou seja, ele é mais que um mercado, tem um valor cultural e uma tradição importantes para a cidade de Salvador”, comentou Tânia.  Novo mercado também ganhará área verde (Foto: Divulgação) Também será construído um pequeno anfiteatro onde acontecerão apresentações de capoeira e um estacionamento com capacidade para 30 veículos, além de um santuário dedico a São Miguel. Outro ponto ressaltado é que o local ganhará itens de acessibilidade.

Apesar de manter as tradições, o Mercado de São Miguel será modernizado. De acordo com o prefeito ACM Neto, não é possível manter a estrutura do imóvel devido às más condições do local, que apresenta fiação exposta e rachaduras. 

"Este é um mercado que, ao longo do tempo, passou por um processo de degradação e de abandono. Um mercado que, no passado, já teve muita tradição, que tinha a expressão da força do comércio da Baixa dos Sapateiros e o que essa região representou para a capital baiana no passado”, declarou ACM Neto.

"Nós passamos algum tempo discutindo esse projeto. Queríamos uma coisa que pudesse conciliar a harmonia dessa região da cidade com a projeção do futuro, que fosse atrativa para todos que, diariamente, passam por aqui, e que realizam suas atividades comerciais", completou.  

O prefeito lembrou, ainda, que a demora para a reforma acontecer se deu porque, há seis anos, o governo da Bahia solicitou a transferência de alguns equipamentos para a esfera estadual, incluindo o Mercado São Miguel. Como identificou que o local não seria reformado, foi enviado por ACM Neto um comunicado oficial informando que a Prefeitura assumiria de volta o mercado, já que tinha firmado um compromisso com a comunidade.

O CORREIO procurou a assessoria de comunicação do Governo da Bahia, que não se manifestou até a publicação desta reportagem.

O mercado foi construído em 1965 e possuía mais de 100 boxes instalados em uma área de, aproximadamente, 1,6 mil m². O espaço viveu seu auge nos anos 90 e decaiu junto com a Baixa dos Sapateiros, devido á baixa frequência de consumidores. O imóvel faz parte de uma área tombada, juntamente com o Pelourinho, como Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Como ficará novo mercado (Foto: Divulgação) Outras obras O vice-prefeito Bruno Reis e atual titular da Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra) informou que, além do Mercado São Miguel, a licitação para a intervenção para o Mercado de São Cristóvão está pronta. “A nossa expectativa é que, até o mês de abril, a gente inicie as obras”, disse.

Além disso, ele adiantou também que há a possibilidade da Caixa Econômica Federal aprovar, ainda esta semana, o projeto de intervenção do Mercado Modelo. 

Outro local que passará por reforma é o Centro Histórico. Dois terminais serão requalificados: o da Barroquinha, com projeto a ser finalizado ainda neste mês de março, e o do Aquidabã, com projeto que tem prazo de conclusão para maio.

“Isso significa que, no próximo ano, vamos ter essa região da cidade amplamente requalificada e que compõe esse amplo conjunto de investimentos da Prefeitura no Centro Histórico”, disse Bruno Reis.

* Com supervisão da subeditora Fernanda Varela