Mesmo com óleo nas praias, busca por turismo na Bahia no verão aumentou

Procura por passagem para o verão em Salvador, por exemplo, cresceu 36% em outubro

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  • Thais Borges

Publicado em 25 de outubro de 2019 às 14:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Desde que o óleo que atinge as praias do Nordeste chegou à Bahia, no início de outubro, hotéis, pousadas e agências de viagens têm enfrentado pedidos de cancelamento e de transferência de reserva para o mês de outubro. No entanto, mesmo contra quase todas as possibilidades, as expectativas para o movimento turístico no verão de 2020 foram pouco abaladas.

As buscas por passagens para o verão em Salvador – com origens em aeroportos de todo o Brasil – cresceram 36% em outubro, em comparação com setembro. O número é emblemático por dois motivos: o mês de outubro ainda não acabou e as manchas de óleo chegaram à Bahia no dia 4.

As buscas por passagens para Ilhéus e Porto Seguro no verão também cresceram: 11% e 22% em comparação a setembro, respectivamente. Dos dois municípios, apenas Ilhéus também tem registros de manchas – o óleo chegou lá nos últimos dias.

Os dados fazem parte de um levantamento exclusivo do Kayak, buscador para localizar voos, hotéis, aluguel de carros e pacotes. A pedido do CORREIO, o Kayak buscou por voos de ida e volta com saída de todos os aeroportos do Brasil com destino aos aeroportos baianos de Salvador, Ilhéus e Porto Seguro.

Na comparação, foram analisados preços médios e a média diária de buscas de passagens de outubro de 2019 com os do mês passado referentes a viagens programadas de 21 de dezembro a 21 de março do ano que vem.

Os preços das passagens também aumentaram: o valor médio para ir a Salvador passou de R$ 1.024 em setembro para R$ 1.074 em outubro. Quem quiser ir a Ilhéus entre dezembro e março do ano que vem também vai pagar um pouco mais caro do que no mês passado – a variação positiva foi de 4,64%.

O único destino, entre os três pesquisados, que teve redução no preço das passagens foi justamente o que ainda não foi afetado pelo óleo – Porto Seguro. Em setembro, a tarifa média custava R$ 1.220 para a alta estação. Agora, em outubro, fica por R$ 1.132.

A pesquisa foi feita no dia 25 de outubro e, por isso, os preços estão sujeitos à alteração e à disponibilidade.

Reservas mantidas Os números estão de acordo com o que tem sido dito pelo trade turístico. A Associação Brasileira de Agências de Viagens – Seção Bahia (Abav-BA), por exemplo, informou que não identificou cancelamentos. “Não mudou nada. Não afetou”, garante o vice-presidente da entidade, Jorge Pinto.

Em Salvador, inclusive, a média de reservas para o verão tem se mantido nos mesmos parâmetros do ano passado, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-BA), Glicério Lemos.

“As reservas continuam as mesmas. A preocupação existe porque o óleo ainda pode atrapalhar, mas, como tudo que chegou foi solucionado, a gente não está tendo nenhuma retração”, explica Lemos.

Alguns cancelamentos têm sido registrados em alguns hotéis, mas, segundo o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Silvio Pessoa, a expectativa é de que isso não aconteça mais nas próximas semanas.

“Hoje mesmo, em Salvador, estamos com 89% de ocupação. É uma ocupação fantástica, mas também em função dos jogos universitários. Acreditamos que em 10, 15 dias, as correntes marítimas devem levar isso (o óleo) embora”, opina Pessoa.

No entanto, para garantir que a vinda de turistas não seja mesmo afetada no verão, Pessoa acredita que é preciso investir em campanhas publicitárias. “Precisamos de campanhas de esclarecimento para o Sul e o Sudeste mostrando que os problemas estão sendo combatidos diariamente”, diz.

Procurados pelo CORREIO, alguns dos principais hotéis da capital indicaram que também não tiveram reservas afetadas por cancelamentos ou transferências para o período do verão. Foi o caso de empreendimentos como o Wish Hotel da Bahia e o Deville Prime.

Já a Costa do Sauípe afirmou que mesmo com "registros leves" de manchas, já devidamente retiradas, não houve impacto nas vendas e cancelamentos de hospedagem. Diz ainda que a equipe do resort "continua fazendo monitoramento" em relação ao assunto. 

Em Baixio, em Esplanada, a proprietária do Hotel Recanto Lagoa Azul, Raimunda Vieira, contou que não teve cancelamentos para o verão. No entanto, ela diz que as reservas estão menores do que no ano passado.

“No ano passado, para o Réveillon, já tínhamos 50% de reservas adiantadas. Esse ano, temos 10%. Mas já estava devagar antes do óleo, então não acho que tenha relação. O turismo está muito difícil esse ano, mas tem muita gente que deixa para última hora. Esperamos que seja isso”, afirma.

Além da praia Em nota, a Secretaria de Turismo do Estado (Setur-BA) destacou que a "exposição deste desastre ambiental não é boa para nenhum destino turístico do Nordeste, pois trata-se de uma área importante para a economia e geração de emprego e renda". No entanto, o órgão informou que o governo do estado vem desenvolvendo uma ação transversal e trabalhando para minimizar os impactos naturais e econômicos deste acidente.  

"A ação envolve parcerias com prefeituras, sociedade civil e ONGs, para que a situação volte o mais breve possível à normalidade. Com essa iniciativa já foram retiradas 231,507 toneladas  do produto que está poluindo as praias. Também ressaltamos que a Bahia tem 13 zonas turísticas com os mais diversos atrativos turísticos para além do sol e praia", completam. (Foto: Divulgação) Entre os destinos, a Setur destaca a Chapada Diamantina; o Vale do São Francisco; o recôncavo da Bahia; a região de Paulo Afonso, com os cânions do São Francisco; as fazendas de cacau em Ilhéus e os conjuntos arquitetônicos e o turismo religioso em Salvador.

Já a secretária municipal de Turismo de Cairu informou que o fluxo de turismo no município continua dentro do previsto para o período. “Até o momento não temos registro de redução dos acesso de turistas a Morro de São Paulo e Boipeba. Não estamos sentindo os impactos, porque as desistências foram pontuais. Acreditamos que o verão não será impactado”, disse Diana Farias. “O que tem ocorrido são consultas, o que é natural. Os turistas estão ligando para saber o que está acontecendo. Nós informamos que todo o material chegado a nossas praias foi devidamente recolhido pelas equipes da prefeitura  e voluntários que estão a postos 24 horas por dia, trabalhando  de forma enérgica na limpeza dos locais atingidos. Aqui a ordem é: se sujar a gente limpa”, completou.