Mestre Bimba é homenageado em sala lotada do Museu Udo Knoff

Segundo encontro do circuito Contos e Cantadores reuniu filhos e admiradores do criador da Capoeira Regional

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  • Giuliana Mancini

Publicado em 1 de setembro de 2018 às 17:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

O Museu Udo Knoff, no Pelourinho, ficou lotado na manhã deste sábado (1º). Por lá, todas as pessoas queriam ouvir e dividir histórias sobre Mestre Bimba (1900-1974), reconhecido como o criador da Capoeira Regiona e fundador da primeira academia especializada em capoeira, em 1932.

O baiano foi o homenageado da segunda edição do projeto Contos e Cantadores. Com o tema Ritmos da Regional, o encontro contou com as presenças de Mestre Nenel e da professora de samba de roda Nalvinha, filhos de Bimba, além do neto Abayneh e dos mestres Canguru e Nenel. Os cinco estiveram à frente do bate-papo, com muitas cantorias e lembranças sobre Bimba.

"Eu aprendi a compreender o quão importante meu pai foi para a história da capoeira no mundo. Uma arte tão valiosa não pode morrer, é muito importante deixar as matrizes vivas", diz Nenel.  Abayneh, Mestre Nenel, Mestre Canguru e Mestre Sabiá tocaram músicas em homenagem a Bimba (Foto: Marina Silva/CORREIO) Bimba, ao notar que a capoeira estava perdendo seu valor cultural e se enfraquecendo, decidiu misturar elementos da versão tradicional com o batuque, criando movimentos mais rápidos e mantendo-a acompanhada de música. 

"Ele foi a maior resistência da capoeira, um grande visionário. Em uma época difícil (a capoeira foi considerada arte proibida até a década de 1930), ele conseguiu penetrar na sociedade e tornar o movimento respeitado. Era uma figura corajosa", elogia Mestre Sabiá, idealizador do Contos e Cantadores.

"Se eu tivesse que definir meu pai em duas palavras, seriam 'fantástico' e 'essencial'. Fantástico pois ele nasceu com sua sabedoria - não sabia ler nem escrever e, ainda assim, criou tudo isso. Quando ele tinha que palestrar, pegava o microfone e ia falando, falando... Chegava e dava show", comenta Nenel.  Mestre Nenel resume seu pai em 'fantástico' e 'essencial' (Foto: Marina Silva/CORREIO) "Já essencial é porque eu tive a necessidade de achar toques que meu pai já tinha criado. Como que pode? A cada dia, a gente aprende coisas que ele já fez", segue.

Neto de Bimba, Abayneh nem sempre foi ligado à capoeira: "Quando eu era melhor, gostava mais de ficar no computador. Mas comecei a sentir uma responsabilidade de manter o legado do meu avô. Treinei bastante, fui tocar berimbau... E hoje me sinto orgulhoso em carregar seu sobrenome". Sala do Museu Udo Knoff ficou lotada durante o encontro (Foto: Marina Silva/CORREIO) "Em dias em que estou cansado da batalha diária - e lembro que tem mais batalha pela frente -, músicas dele me dão mais forças", garante Mestre Canguru, formado pela Fundação Mestre Bimba, criada em 1993.

Presença das mulheres Filha do homenageado, Nalvinha relembrou um desejo do pai: "Ele sonhava que as mulheres entrassem para a capoeira. Ele queria me formar com outras mulheres, mas não conseguia pois, muitas vezes, as famílias não queriam. Mas ficava muito feliz quando nos via jogando". Nalvinha contou que o pai sonhava em ver mulheres na capoeira (Foto: Marina Silva/CORREIO) O que ele acharia de hoje, com tanta representante feminina? "Ele estaria muito feliz! Era o que mais queria e, já que ele não conseguiu realizar esse sonho, eu me sinto realizada por ele", garante.

Mestre Patrícia foi uma das pessoas que foram prestigiar o bate-papo e se emocionou com as palavras dos familiares de Bimba:"Se ele tinha esse desejo de ver as mulheres, fico pensando como seria em ele ver isso acontecendo. Estou muito feliz em ter escurado e vivenciado esse encontro". Mestre Patrícia se emocionou com o bate-papo (Foto: Marina Silva/CORREIO) Integrante da Fundação Mestre Bimba há quase 20 anos, Anderson Capacete também fez questão de participar do encontro. "Comecei na capoeira aos 11 anos e, hoje, tenho 30. Respeito tudo sobre o Mestre, ele é vida, dedicação e educação. Não conseguiria viver sem a capoeira".

A primeira edição do circuito Contos e Cantadores aconteceu no dia 18 de agosto no Solar Ferrão e lembrou o Mestre Gato Preto. Os próximos encontros serão no dia 26 de outubro, no Museu Tempostal, e 18 de novembro, no Museu Rodin, com homenagens a Waldemar e João Pequeno.