Mochila mais pesada: preços devem sofrer reajuste de até 15% em 2018

Com o aumento no preço do material escolar, o jeito é bater perna e pesquisar muito. Confira na reportagem

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  • Priscila Natividade

Publicado em 6 de janeiro de 2018 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor
Tatiane Conceição, mãe da pequena Ana Paula, 6º ano, que conseguiu convencer os pais a comprar uma mochila Capricho de R$ 260

Depois de passar para o 6º ano, Ana Paula chegou com jeitinho e conseguiu convencer o pai, o pedreiro Genivaldo dos Santos, a comprar a tão sonhada mochila da Capricho – linda, rosa e “top”, segundo ela – mas que custa R$ 260. “Não está barato, mas filho a gente sempre tenta agradar”, afirma. “Vamos levar, mas a condição é não comprar outra tão cedo”, completou a mãe da menina, Tatiane Conceição.  

O acordo foi necessário depois do susto com a lista de materiais, que deve ficar mais salgada em até 15% para os produtos importados e de 5% a 8% sobre os demais itens. A estimativa da Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares e de Escritório (Abfiae) leva em consideração os preços praticados em janeiro e fevereiro de 2017.

O setor chega a movimentar, por ano, algo em torno de R$ 8 a R$ 10 bilhões e tem expectativa de crescer 5% com a volta às aulas 2018. Segundo o diretor de Relações Institucionais da entidade, Ricardo Carrijo, a variação do dólar e o preço de matérias-primas como o plástico e papel contribuíram para o reajuste.

“O aumento no preço dos importados será bem significativo, sobretudo em mochilas, estojos e materiais de escrita por conta da variação cambial. Já os materiais gráficos como as agendas, por exemplo, que dependem mais do mercado nacional, o preço vai ficar mais estável”.

Para manter o orçamento no azul, Genivaldo e Tatiane fizeram bem a lição de casa quando começaram a juntar dinheiro desde janeiro de 2017. No total, gastaram R$ 2 mil com livros e materiais dos dois filhos. Com o pagamento à vista, deu até para chorar um desconto de 5% que vai para a nova reserva pensando no ano seguinte. “Guardamos nossas economias todo mês. É bem melhor do que fazer dívida”, afirma o pedreiro.

Pesquisa O movimento nas lojas começa a animar o comércio. Na Papelaria 2M, localizada na Avenida Joana Angélica, a vendedora Cristina Menezes perdeu as contas de quantos orçamentos tem feito por dia. “Tá esquentando”, diz. Quanto aos preços, ela notou que os cadernos de personagens estão ainda mais caros do que no ano passado. “Um básico com dez matérias custa R$ 16,90. Se for um caderno de personagem isso vai para R$ 32 só por causa da capa. Quase o preço de dois cadernos”, avalia. 

Para a vendedora da Papelaria Monteiro, localizada na mesma região, os personagens queridinhos do ano já foram escolhidos. Os meninos mantêm a preferência pelos super-heróis. As meninas não tiram a Barbie do posto de favorita nunca e ainda abriram a guarda para a heroína Lady Bug. Na loja, o valor das mochilas de carrinho dos personagens mais procurados varia entre R$ 143,90 (Lady Bug) a R$ 407,90 (Barbie). Ir para a escola acompanhado dos heróis da Marvel vai custar R$ 139,95. “O filho chora e eles levam o personagem. Dividem em dez vezes no cartão, mais levam”.

No entanto, a técnica de enfermagem Amanda de Queiroz não deve ceder aos apelos da pequena Maria Julia,  6. “Está tudo muito caro. Vou nos mais baratos mesmo. Estou pesquisando os melhores preços desde novembro e ainda assim gastei R$ 1,4 mil hoje só com os livros. Nem cheguei ainda no material”. Amanda conta que no ano passado gastou R$ 1,2 mil. “Quase metade do meu salário acabo usando para pagar o material”, reclama.

E o bolso? A lista de material escolar compromete bastante o orçamento da família. A pedido do CORREIO, o educador financeiro Ângelo Guerreiro fez o cálculo de uma projeção de quanto esse custo pode representar dentro da planilha mensal. A conta levou em consideração uma família com dois filhos com renda de 3 a 5 salários mínimos que chegou a gastar por filho R$ 1 mil (livros, material e fardamento). “Temos aí uma família que comprometeu entre 35% a 40% da sua renda só com materiais, o que exige dos pais um esforço ainda maior em economizar se não o orçamento arrebenta logo no início do ano”, destaca.

Para amenizar as despesas, o conselho é aumentar o poder de barganha: “Juntar um grupo de pais, pedir orçamento em papelarias e negociar na base da compra em quantidade”. Vale também fugir dos produtos licenciados. “O objetivo é ler, escrever, apagar, aprender sem prejudicar o bem-estar da família. E não desfilar com os personagens. Isso faz diferença na conta final”, recomenda Guerreiro.

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Preço do caderno varia até 79% entre lojas Quem quer reduzir o peso da lista de material no bolso vai ter que bater perna de loja em loja em busca do valor mais em conta. O CORREIO passou por cinco lojas que comercializam itens de livraria e papelaria localizadas entre a Rua do Paraíso e a Avenida Joana Angélica e encontrou uma variação no preço do caderno universitário de dez matérias simples, sem personagens famosos, que chegou a 79,17% de um estabelecimento para o outro.

Na Le Biscuit, o produto em questão da marca Tilibra custava R$ 9,99. Logo mais à frente, o caderno da mesma marca na Papelaria Monteiro sai por R$ 11,40. No  estabelecimento ao lado, na Livraria e Papelaria Lapa, o caderno da marca São Domingos com o mesmo padrão está custando R$ 17,90. A Papelaria 2M vende o produto por R$ 16,90. Na outra loja mais próxima, a Livraria Multi Marcas, o preço sobe novamente - R$ 17,90.

“As crianças e adolescentes precisam ser colocadas neste planejamento. O material escolar é muito bonito aos olhos delas, que precisam conhecer a renda da família. É colocar tudo isso no papel e definir quanto pode ser gasto. Junto com a pesquisa de preço são pequenas atitudes que garantem uma economia bem significativa no final”, aconselha a educadora financeira da Dsop, Andreza Stanoski.

A especialista dá mais algumas dicas para os pais: “Customize o material. Use a criatividade e monte, por exemplo, a capa do caderno com o personagem que seu filho gosta sem ter que comprar o da marca licenciada que custa quase o dobro”. Procon aponta 26 itens proibidos na lista escolar Itens de uso coletivo e administrativo não podem ser exigidos nas listas de materiais das escolas. Com a proximidade do início do período em que os pais vão às compras, a Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-BA) alerta mais uma vez para os pedidos abusivos. São 26 itens, entre eles colas em geral, álcool líquido ou em gel, fita adesiva e brinquedos e jogos.

Segundo o diretor de Assuntos Especiais do Procon-BA, Paulo Teixeira, as exceções são para os itens que tenham a utilização justificada no planejamento pedagógico. “Se a escola justifica o pedido com base no plano pedagógico, ela pode pedir. O ideal é que os pais tenham em mãos o plano pedagógico que a escola está obrigada a oferecer”, explica. As escolas também não estão autorizadas a indicar locais de compra nem determinar marcas específicas.

A cobrança da taxa de material é outra prática ilegal. “Os pais não precisam entregar todo o material de uma vez só. Podem fazer isso parcelado em um prazo de oito dias antes da atividade. De forma alguma, a instituição de ensino pode concentrar a venda do material escolar”.

A orientação para os pais que se sentirem lesados é, inicialmente buscar a escola e questionar o item. “Ele precisa pedir que a escola explique por que está exigindo aquele material e qual será sua aplicação. Tem que ter este diálogo”. Se não houver conversa, é partir para um dos canais de denúncia do Procon pelo e-mail [email protected] ou pelo aplicativo do órgão disponível para plataformas iOS e Android.