'Monotemática e estereotipada', diz Pitty sobre axé dos anos 90

Em entrevista ao CORREIO, cantora fala sobre a fértil cena baiana que tem dominado os festivais do país

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  • Laura Fernades

Publicado em 9 de outubro de 2018 às 12:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Maria Laura Moura/Divulgação

A Bahia está com a bola toda e a presença cada vez maior de artistas locais nos principais festivais nacionais só reforça o bom momento da música contemporânea. No próximo fim de semana, por exemplo, diferentes representantes da cena baiana vão compor a grade do Festival Mada, que acontece em Natal, no Rio Grande do Norte, sexta (12) e sábado (13), para comemorar 20 anos de história. Pitty, BaianaSystem, Attooxxa e Larissa Luz fazem parte da programação que inclui a banda escocesa Franz Ferdinand, pela primeira vez no Nordeste.

O que justifica essa cena fértil atual? "A guerrilha de sempre", garante a cantora Pitty, 40 anos, que vai apresentar a turnê Matriz, que recentemente passou por Salvador. Outro fator que explica o alcance nacional desses novos artistas é que "eles não passaram pelo boom da explosão do axé nos anos 90 (enquanto artistas)", justifica Pitty. "Isso dificultava muito qualquer tipo de interlocução com a própria cultura local, porque ficou aquela coisa monotemática, segmentada e estereotipada", garante. Confira a entrevista completa.

Em sua última passagem por Salvador, você disse que a turnê Matriz é uma ponte entre seu "quartinho dos fundos com violão de nylon, em Salvador, até os dias atuais, usando programação e beats nas músicas novas". Por que essa volta à matriz? Na verdade não é uma "volta" porque não fica só lá. É uma ponte entre lá e aqui. A turnê visita esse lugar de forma a trazer alicerce e conceito para o que é feito hoje musicalmente; com os novos arranjos, composições, participações etc. Dar uma olhada nessa origem me fez compreender a minha produção musical e artística de agora.Como será o repertório do show no Festival Mada? O show é bem amplo, é uma ponte. Ele passa por esse lugar da concepção e se volta para uma nova estética. É um show completamente diferente do anterior. A montagem de palco, a disposição dos instrumentos, o cenário. Temos desenhos e artes da Eva Uviedo. O repertório é feito das músicas dessa nova fase, como Te Conecta, Contramão e talvez alguma inédita do disco, junto com as antigas que as pessoas conhecem, com novos arranjos.Outros baianos fazem parte da programação do festival e só reforçam o que se tem observado nos últimos anos: uma cena baiana bastante fértil. Para você, que já tem uma trajetória consolidada, o que justifica esse momento da música baiana? A guerrilha de sempre; acrescido de uma característica que faz com que esse movimento de hoje possa dialogar e se apropriar mais dos símbolos e ritmos tradicionais: eles não passaram pelo boom da explosão do axé nos anos 90 (enquanto artistas). Isso dificultava muito qualquer tipo de interlocução com a própria cultura local, porque ficou aquela coisa monotemática, segmentada e estereotipada. Então era natural que as bandas e os artistas daquela época fugissem de qualquer associação e procurassem a sua voz. Hoje essa nova nova cena se apropriou desses ritmos e dessa cultura de um jeito muito legítimo, conseguindo colocar isso no seu som de forma orgânica, para além das exigências de mercado e dos estereótipos. Juntando com a cultura de rua, com o soundsystem, com ritmos eletrônicos.Muitos artistas, assim como você, deixaram Salvador em busca de novos rumos, seja em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Ainda é necessário migrar para ser visto? Não sei, acho que depende do seu som e do seu objetivo de carreira. Se seu som é integrado aos ritmos regionais é possível que se encontre espaço na cena local para sobreviver, fazendo disso até uma bandeira. Mas se sua música é mais universal, é natural que se procure uma antena que possa propagar esse diálogo com mais amplitude.De toda a programação do Mada 2018, quem você destaca? Pode citar o que mais gosta nesses artistas/bandas? Vixe, tá difícil. O line up tá bem foda. Difícil mesmo, cê me botou numa sinuca de bico agora hahaha. A volta do Cordel, show do Baiana que é sempre um estouro, Larissa Luz que é incrível no palco; tô bem curiosa pra ver show do Attooxxa, que nunca vi ao vivo. Rincon também nunca vi ao vivo, mas curto o som, fico a fim de ver. E todos os outros, tem uma pá de banda que a boa é justamente conhecer, tenho curiosidade sobre todos eles. Tô até pensando em ficar pro dia seguinte pra ver o show do Franz Ferdinand. Eles são bem bons de palco, o lance é animado.

Serviço

O quê: Festival Mada - 20 Anos Quando: sexta (12) e sábado (13) Onde: Natal, Rio Grande do Norte Ingresso:

R$ 120 | R$ 60,00  (+ taxa) | PISTA SEXTA (12/10) R$ 140 | R$ 70,00  (+ taxa) | PISTA SABADO (13/10) R$ 240 | R$ 120,00  (+ taxa) | PISTA TEMPORADA (SEXTA E SÁBADO) R$ 80,00  (+ taxa) | PISTA SEXTA INGRESSO SOCIAL R$ 90,00  (+ taxa) | PISTA SABADO INGRESSO SOCIAL R$ 140,00  (+ taxa) | PISTA TEMPORADA INGRESSO SOCIAL R$ 180 | R$ 90,00  (+ taxa) | ROCKSTAGE SEXTA (12/10) R$ 200 | R$ 100,00  (+ taxa) | ROCKSTAGE SÁBADO (13/10) R$ 360 | R$ 180,00  (+ taxa) | ROCKSTAGE TEMPORADA

Vendas: https://www.sympla.com.br