Monte o quarto das crianças fugindo do padrão 'de menino' e 'de menina'

Arquitetas dão dicas e pesquisadoras apontam motivos para escolher a quebra de padrão

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  • Daniel Silveira

Publicado em 17 de março de 2018 às 12:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Rosa ou azul parecem certezas quando se pensa em decorar quartos de menina ou menino, respectivamente. Mas é possível fazer diferente. Uma decoração neutra no ambiente onde os pequenos dormirão é saída para pais e mães  que não querem estimular estereótipos. “Primeiramente, antes do sexo, a gente precisa pensar na criança”, explica a arquiteta Hannah Brauer, do escritório RBP Arquiteturas e Interiores (@rbp_arquitetura). Por isso, Hannah indica decorações temáticas, que são mais universais e neutras, para fugir da dicotomia azul/rosa. “Por exemplo, fizemos um quartinho navy, com cara de barco, usamos muito mapa, que é mais  neutro e remete ao mar”, lembra a arquiteta. Temas como navegações e universo ajudam a fugir do padrão (Foto: Divulgação) Cadastre seu e-mail e receba novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza e decoração:

A psicóloga Rita Calegari concorda. “Por que não usar temas mais assexuados como animais, natureza, céu? Isso tudo acolhe tanto meninos quanto meninas”, conta a profissional que trabalha na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo. Ela vai além. A dica de Rita para os pais é fazer de conta que ainda não sabem o gênero. Para ela, a tecnologia atual acelera o conhecimento dos pais sobre os filhos e isso pode ser bom, por um lado, mas ruim por outro. “Os pais começam a lidar com um bebê imaginário”, diz. Ela lembra que, no passado, isso não era comum e usava-se a neutralidade naturalmente. “Por isso, mesmo sabendo o sexo, tente fazer o quarto sem imaginar que tem uma menina ou menino”. “Por que não usar temas mais assexuados como animais, natureza, céu? Isso tudo acolhe tanto meninos quanto meninas”, questiona a psicóloga Rita Calegari.Elas escolheram Grávida de quatro meses, a pediatra Tatiane Martins já sabe que terá uma menina, mas preferiu não investir  em uma decoração “de princesa”. Seu motivo para fugir do clássico rosa para o quarto de Marina é porque  acredita que, em uma próxima gravidez, se for menino, vai poder aproveitar muita coisa.“A gente teve a ideia de fazer uma coisa lúdica e pensamos que bichinhos seriam legais porque ela iria aprender também”, explica a médica.Foi a mesma coisa que a jornalista Rita Batista pensou quando decidiu decorar o quarto do seu primeiro filho. “Optamos por um papel de parede tracejado para que  ele pinte, brinque, rabisque...”, afirma. A decoração do quarto de Martim usa muitos elementos brancos, a mais neutra das cores.“Queria branco ou variações como pérola e off-white, até para contrariar essa história de azul e rosa, já que nunca me adaptei a essa ideia”, rememora  a jornalista. A jornalista Rita Batista optou por decoração “simples e lúdica” para seu primeiro filho (Foto: Marina Silva/CORREIO) Cores neutras podem ser saída para quem pensa como Rita, é o que diz a arquiteta Sandra Sampaio, do Escritório Sandra Sampaio e Lissandra Ribeiro. “Podemos fazer um quarto todo em tons de bege, cinza e branco”, conta. Outra possibilidade é explorar elementos como a madeira. “Quando colorido, normalmente usamos tons pastel”, completa a profissional. Para Hannah, cores podem ser exploradas em outros elementos. “Dá para usar tons mais neutros e abusar da criatividade nos móveis tanto na cor quanto nos formatos”, conta. 

A opção demonstra, segundo Rita, “uma filosofia de vida de não limitar pelo rosa ou azul mas dar todas  as cores do arco-íris”, completa. Temas como o céu são amplos e cabem tanto a meninas quanto meninas, desfazendo a ideia de que é preciso padronizar esses ambientes (Foto: Divulgação) [[publicidade]]

Todas as cores Ela afirma que decorar o quarto com temas que não reforcem estereótipos é muito mais significativo para os pais e pessoas que convivem com o bebê do que para a própria criança. “Acho que essa preocupação é importante para o adulto, para ampliar a percepção a respeito dos rótulos”, comenta. “A criança já é assim, mas isso ajuda pais a lembrarem-se de não limitar os filhos”, completa.Siga o Bazar nas redes sociais e saiba das novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, decoração e pets: Pode também ser uma boa oportunidade para propor uma educação mais universal para as crianças, como esclarece a pedagoga e mestra em Cultura e Sociedade pela Ufba (Ufba) Carla Freitas. “Entendendo que esse padrão é uma construção através da linguagem e da cultura, é possível estabelecer outras dinâmicas diferentes das que já estão naturalizadas”, comenta. “Acho que essa preocupação é importante para o adulto, para ampliar a percepção a respeito dos rótulos”, comenta Rita.Ela também reforça a ideia de usar temas para fugir do padrão. “É preciso neutralizar essas cores, que são símbolos muitos fortes, até que possam ser ressignificadas, além de todos os elementos dessa decoração”, complementa a pedagoga. “Por que não uma borboleta num quarto de menino?”, sugere. Ela lembra que coisas como a selva, os astros, o universo “são sempre muito atrativos e interessantes”. 

Para os maiores E quando a criança já pode optar ou começa a escolher os elementos que ela quer no quarto? “A gente precisa estar atento a essa criança, pois a educação se torna muito mais importante do que a decoração”, reflete Rita. “É bom não limitar as crianças àquilo que chamam de masculino e feminino”, pontua. “Temos que permitir a experimentação de todos os brinquedos”, alerta Carla.Ela diz que os pais precisam escutar os desejos dos filhos e não se chocarem quando meninos pedirem bonecas ou meninas, carrinhos. “Os pais precisam ter consciência de que podem ser os maiores limitadores e não atrapalhar”, conta. A única coisa que se deve levar em conta é a classificação indicativa de idade, que vem escrita nos rótulos. “De resto, é bom tentar levar a criança e deixar ela transitar livremente, escolher”, completa. Branco e madeira dão toque escandinavo à decor, que pode também ser uma saída para quem quer fugir do padrão (Foto: Divulgação) Para Carla, faz parte dessa construção de identidade mais respeitosa com relação aos gêneros que as crianças brinquem sem preconceitos. “Temos que permitir a experimentação de todos os brinquedos”, alerta. Ela acredita que isso resultará em adultos mais cientes da igualdade entre os gêneros. “A gente precisa plantar agora para colher pais mais responsáveis e uma educação mais crítica”, comenta. “Eu acho que isso é pensar no adulto que queremos ter, inclusive como um sujeito formado a partir de você. Que homem e mulher são esses que eu quero para o mundo? Que tipo de criança a gente está criando?”, questiona a professora.