Moradores relatam momentos de terror com explosão em agência da Fazenda Grande do Retiro

Câmeras registraram pelo menos quatro mascarados fortemente armados que levaram uma quantia em dinheiro ainda não revelada

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  • Bruno Wendel

Publicado em 20 de outubro de 2020 às 17:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

Ainda trêmulo, um homem tira do bolso da bermuda a cápsula de um fuzil AK 47. "Peguei em frente ao banco. Foram, pelo menos, três tiros dela antes do estrondo", disse ele, depois de guardar um dos vestígios da madrugada de terror vivida por moradores da Fazenda Grande do Retiro, nesta terça-feira (20), quando encapuzados puseram abaixo, com uma explosão, a área destinada aos terminais eletrônicos da agência da Caixa Econômica Federal.  Pelo menos quatro homens foram flagrados pelas câmeras. Eles levaram uma certa quantidade de dinheiro após dinamitarem um dos quatro caixas eletrônicos. O equipamento foi totalmente destruído. O caso é investigado pela Polícia Federal (PF). Até o momento a PF não se posicionou sobre a investigação e o valor do roubo. A Polícia Civil foi acionada para dar apoio. Segundo o Sindicato dos Bancários, foram dez ataques esse ano a instituições bancárias na Bahia, contra 31 no ano passado. Bandidos explodiram a área que é destinada aos terminais eletrônicos (Foto: Nara Gentil/CORREIO) A agência da Caixa funciona no andar térreo de um prédio de três andares na Rua Melo Morais Filho, a principal do bairro, e, por isso, está cercada de residências e de estabelecimentos comerciais. A fachada ficou com marcas de tiros e as paredes de vidros foram destruídas. Com a explosão, o teto foi abaixo e fiações ficaram expostas. Metais e plásticos foram arremessados.  Era por volta das 3h quando os assaltantes chegaram. O CORREIO ouviu o relato de alguns moradores, que descreveram o terror que foi esta madrugada. Pelo menos 40 pessoas estavam em uma fila formada em frente ao banco, mas do outro lado da rua, aguardando a distribuição de senhas para atendimento gratuito com um ortopedista na igreja Ministério Pentecostal Amor Divino, vizinha à agência. “Todas as terças têm essa fila. São pessoas muito carentes, que não podem pagar uma consulta e esse médico atente de graça. As senhas são distribuídas logo no início da manhã para o atendimento que começa 8h”, contou uma moradora que preferiu não revelar o nome.  A moradora estava dentro de casa quando escutou uma movimentação atípica para o horário. “Apesar da quantidade, as pessoas que ficam na fila nunca incomodaram. Só que escutei uma correria, gritos e fui à janela no escuro mesmo e vi dois homens na porta do banco, cada um com duas armas grandes e na hora pensei: ‘vão explodir o banco’. Foi quando peguei a minha filha e nos abrigamos no quarto do fundo e escutamos os três primeiros tiros e depois a explosão. Parecia que o mundo estava acabando”, contou ela. Os mesmos disparos foram ouvidos por um outro morador. “Foram três tiros sequenciais. A gente escuta tiros todos os dias e não eram armas comuns. Eram armas mais potentes. Impossível alguém não ter escutado. Ninguém quis sair para ver, mas nem era preciso. Com a explosão, tudo mundo já sabia que era uma das agências”, disse ele. A pouco metros da Caixa, há uma agência do Bradesco.  E entre os bancos, está a Lanchonete Altas Horas que, segundo os moradores, funciona 24 horas. De acordo com eles, o estabelecimento estava cheio quando os criminosos chegaram gritando e apontado as armas para todos. “Eles botaram todo mundo para correr e mandaram a dona fechar tudo”, relatou mais um morador entrevistado que também não quis se identificar.  Uma senhora, que mora no bairro há mais 30 anos, disse que acordou com a explosão e, ao chegar na sala, encontrou a entrada da agência toda destruída. “Pelo barulho que foi, cheguei a pensar que não havia restado nada da estrutura do banco. Essa não é a primeira vez que isso acontece. Essa agência já foi atacada umas três vezes ou mais. A outra agência (Bradesco) também já foi alvo de bandidos. Minha casa está no meio das duas e a sensação é de constante pânico”, revelou.  Ainda de acordo com os moradores, os bandidos fugiram em dois grupos, cada um em um veículo, atirando para o alto. Eles também espalharam pelo asfalto peças de metal perfurante para atrasar a chegada da polícia. Um carro seguiu pela Rua Candinho Fernandes, que liga a Fazenda Grande do Retiro à Avenida San Martin. O outro carro seguiu pela Rua Cleriston Andrade, em São Caetano. A Polícia Militar foi acionada e chegou por volta das 4h, apenas para isolar a agência até a chegada da Polícia Federal, responsável por investigar crimes em instituições federais. Polícia Federal Os policiais federais chegaram à agência no início da manhã. “Dos quatro caixas eletrônicos, eles levaram o dinheiro apenas de um, onde colocaram os explosivos. O valor ainda não sabemos, mas não foi pouco. Com a explosão, algumas notas de R$ 100 e de R$ 50 foram deixadas pelos criminosos, provavelmente por causa do sistema de segurança que espalha uma neblina quando o caixa é violado e impossibilita a visualização, o que também evitou o explosão dos demais caixas”, explicou, sem se identificar, um dos agentes da Delegacia de Repressão a Crimes contra o Patrimônio e ao Tráfico de Armas (Delepat), unidade da PF.  As câmeras posicionadas na entrada da agência e na área dos terminais eletrônicos estavam funcionando e vão ajudar os federais na caçada aos criminosos. “Sim, as câmeras pegaram boa parte da ação. Nas imagens coletadas até agora, a gente consegue ver quatro homens, todos mascarados, com luvas pretas, usando armas de grosso calibre. Dois estavam dentro da agência e os outros dois do lado de fora. Dá pra ver o momento exato que um deles atira em direção a um carro para causar pânico às pessoas”, disse o agente da Delepat.     Câmeras de segurança captaram boa parte da ação (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Ainda de acordo com o agente, a quadrilha é especializada em roubo a bancos. “Nas imagens dá para ver que um deles coloca o explosivo a uma certa distância e não coloca no caixa eletrônico. Isso é para evitar uma maior quantidade de células destruídas”, explicou. 

Pouco depois das 10h30, agentes do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) da Polícia Civil estiveram no local. "A investigação é da PF. Estamos aqui só para dar um apoio", disse um dos policiais civis.