Morte em supermercado: polícia investiga se funcionária mentiu em depoimento

Ela entrou em contradições; há investigados por omissão de socorro

  • D
  • Da Redação

Publicado em 24 de novembro de 2020 às 14:43

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

(Foto: Reprodução) A Polícia Civil do Rio Grande do Sul investiga se uma funcionária do Carrefour mentiu ao depor sobre a morte de João Alberto Freitas, 40 anos, espancado por dois seguranças do local no último dia 19. 

"O que nós observamos é que houve declarações contraditórias. Resta até o final do inquérito (saber) se essas contradições foram motivadas por algo que se queria encobrir ou não", disse à RBS, afiliada da Rede Globo, a delegada Roberta Bertoldo.

Várias contradições foram percebidas pela polícia no depoimento de Adriana Alves Dutra, que aparece nas imagens de blusa branca, próxima à cena e tenta em certo momento intimidar um rapaz que filmava a agressão. Ela era a responsável pelos seguranças da loja.

No depoimento, Adriana disse que o PM temporário, Geovane Gaspar da Silva, era um cliente do mercado. Na verdade, ele eera funcionário da empresa terceirizada que fornecia segurança ao local.

Ela também contou que João Beto empurrou uma senhora ainda dentro da loja, o que não aparece nas imagens obtidas até agora.

Contou ainda que não ouviu a vítima pedir por ajuda, mas nas gravações são audíveis os gritos dele pedindo socorro. 

Ela disse ainda que por várias vezes pediu que os seguranças largassem João, mas as imagens não mostram nada parecido. Ela aparece tentando impedir a gravação que uma testemunha fazia.

Cronologia Adriana contou que estava no setor de bazar quando foi chamada porque havia um conflito entre um cliente uma funcionária, uma fiscal de caixa que aparece usando roupa preta nas imagens. 

Ela disse que quando chegou um cliente, que ela soube ser PM, tentava contornar a situação. Esse era Geovane, o segurança da Vector, terceirizada que presta serviço à Carreour.

A funcionária disse que João era uma pessoa agressiva e que já tinha tido problemas com fiscais antes. Ele foi escoltado para fora da loja e nesse momento teria empurrado uma senhora, segundo o depoimento, mas isso não aparece nas imagens disponíveis.

Depois, ela contou, João deu um soco no PM e os dois "se embolaram". Isso é possível ver nas imagens. Adriana diz que chamou a Brigada Militar e o Samu quando viu que havia sangue da vítima no chão, a essa altura já desmaiada.

Segundo ela, João xingou muito durante a "contenção", em suas palavras, mas em nenhum momento ela o ouviu pedir por socorro. Insistiu também que pediu várias vezes para os "rapazes" soltarem João.

"Se acalma pra gente poder te soltar, a brigada tá chegando aí, tá bom? (...) A gente não vai te soltar pra ti bater em nós de novo?", diz Adriana, segundo é possível ouvir em uma das gravações.

Ela notou que era gravada e tentou intimidar a testemunha. "Não faz isso, não faz isso que eu vou te queimar na loja", diz, se aproximando do rapaz.

Os dois seguranças que espancaram João Alberto foram presos em flagrante e até agora não foram ouvidos. Eles optaram por ficar em silêncio quando foram detidos. A prisão já foi convertida em preventiva. A polícia ainda espera ouví-los.

"Tão logo nós recebamos a autorização judicial, dar acesso a eles ao sistema prisional, para que eles possam esclarecer essas declarações e junto a isso compará-las com aquilo que foi referido pelas próprias testemunhas que estavam no entorno e que também ouviram e viram todas as situações que passaram ali", diz a delegada.

Omissão de socorro Além dos dois seguranças, a polícia investiga outras pessoas, que podem ter cometido crime de omissão de socorro. Os nomes dos investigados, que estavam presentes durante o espancamento e nada fizeram, não foram divulgados. 

"Inicialmente se apontou que João havia agredido fisicamente uma mulher no interior do estabelecimento, mas as câmeras de segurança mostraram que não houve essa agressão, que na verdade houve um certo mal-entendido entre um gesto que ele teria feito a uma fiscal que decorre dessa situação, então inúmeras questões vêm sendo ditas, ou desditas, ou não comprovadas", diz a delegada.

A polícia tenta descobrir se João já tinha tido desentendimentos com funcionários do local. Uma deles afirmou que era "agressivo" e já tinha brigado com fiscais anteriormente. Uma fiscal de caixa disse que soube por colegas que João já havia estado no local embriagado, importunando clientes. As câmeras de segurança de outras datas do local foram solicitadas pela polícia.