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Mulheres de ouro: brasileiras fizeram campanha histórica em Tóquio


 

Atletas brilharam e garantiram o melhor desempenho feminino em uma edição dos Jogos

  • Giuliana Mancini

Publicado em 09/08/2021 às 05:00:00
Atualizado em 22/04/2023 às 12:59:04
. Crédito: Ricardo Bufolin/CBG

A Olimpíada de Tóquio foi a Olimpíada das mulheres. Nunca antes a delegação feminina foi tão protagonista em uma campanha do Time Brasil. Das sete medalhas de ouro conquistadas pelo país, três vieram com elas (42,9%). Incluindo a baiana Ana Marcela Cunha, nos 10km na prova de maratona aquática, além de Martine Grael e Kahena Kunze, na vela, e Rebeca Andrade, na ginástica artística. 

Por pouco, o número no Japão não seria ainda maior. No último dia de competições, a seleção feminina de vôlei chegou à final, assim como a soteropolitana Beatriz Ferreira, no boxe, mas conquistaram a prata.

No Rio-2016, Londres-2012 e Pequim-2008, as atletas haviam faturado dois ouros.  Em Atenas-2004 e Sidney -2000, as mulheres não levaram medalhas douradas. E em Atlanta-1996, na primeira vez que elas subiram ao pódio, conseguiram uma: no vôlei de praia feminino, com Jackie Silva e Sandra Pires.

O desempenho da delegação feminina não foi excelente só nos ouros, mas em medalhas no geral. Dos 21 pódios conquistados pelo Brasil em Tóquio, nove foram de mulheres ou equipes de mulheres (42,9%). É um recorde. Até então, a maior marca era de Pequim-2008, quando faturaram sete medalhas.

Elas, aliás, quebraram várias marcas inéditas e importantes no Japão. Por exemplo, foi de uma dupla feminina, Luisa Stefani e Laura Pigossi, o primeiro pódio brasileiro do tênis. Também foram as responsáveis pelo primeiro ouro na maratona aquática, com Ana Marcela, e a medalhista brasileira mais jovem da história, com Rayssa Leal, de apenas 13 anos. O patamar expressivo foi uma representação importante do poder das mulheres.

Rebeca Andrade Rebeca Andrade se despede de Tóquio com o nome escrito na história. Aos 22 anos, a paulista foi a primeira ginasta feminina do Brasil a subir ao pódio olímpico. Aliás, não só quebrou a marca, como fez em dose dupla e com direito a um ouro, no salto, além da prata no individual geral. Recorde que a tornou a primeira mulher do país a conquistar duas medalhas em uma única edição dos Jogos. Ainda alcançou a um honroso quinto lugar na final do solo, com seu Baile de Favela. Com a melhor e mais vitoriosa campanha de uma ginasta brasileira em uma Olimpíada, foi a porta-bandeira do Brasil na cerimônia de encerramento do evento. Rebeca e as duas medalhas conquistadas na ginástica em Tóquio (Foto: Ricardo Bufolin/CBG) Ana Marcela Cunha  Eleita seis vezes a melhor maratonista aquática do mundo, Ana Marcela Cunha já possuía um currículo estrelado, com 11 medalhas em Campeonatos Mundiais e ouro nos Jogos Pan-Americanos. Mas faltava algo a ser conquistado: um pódio olímpico. Não mais. A baiana fez uma prova perfeita e venceu a disputa dos 10km nas águas abertas de Tóquio. Se tornou a primeira brasileira, entre homens e mulheres, a levar o ouro da modalidade nos Jogos, e ainda se tornou a primeira atleta do país a ganhar uma disputa da natação feminina olímpica. Ana Marcela Cunha faturou o primeiro ouro da maratona aquática para o Brasil (Foto: Júlio César Guimarães/COB) Martine Grael e Kahena Kunze  Cinco anos depois de faturarem o ouro na Rio-2016, Martine Grael e Kahena Kunze mostraram que, quando o assunto é vela, elas são as especialistas. A dupla confirmou o favoritismo e conquistou o bicampeonato olímpico da classe 49erFX, mantendo a tradição familiar – Martine é filha de Torben Grael, dono de cinco medalhas dos Jogos, enquanto Kahena é filha de Claudio Kunze, campeão mundial juvenil nos anos 1980. Com o resultado, elas também se tornaram as primeiras brasileiras, entre homens e mulheres, a levar dois ouros olímpicos seguidos na vela. Kahena e Martine se tornaram bicampeãs olímpicas da vela (Foto: Jonne Roriz/COB) Beatriz Ferreira Pela primeira vez nas Olimpíadas, o Brasil teve uma mulher em uma final do boxe. Campeã mundial do peso leve (até 60kg), a baiana Beatriz Ferreira conquistou em Tóquio a prata, após perder na última luta para a irlandesa Kellie Harrington, ouro no Mundial de 2018, por decisão unânime dos juízes. Apesar de assumir que queria o primeiro lugar do pódio, Bia foi a responsável por uma medalha inédita. Até então, o melhor resultado de uma atleta feminina no esporte havia sido o bronze de Adriana Araújo em Londres-2012 – a primeira Olimpíada com disputa das mulheres no ringue. Beatriz, aliás, havia sido a sparring de Adriana há cinco anos, no Rio de Janeiro, e, em Tóquio, competiu pela primeira vez nos Jogos. E já prometeu que estará em Paris-2024: “Tá logo ali. Aguardem”, disse, à TV Globo, após o combate contra Kellie. Bia Ferreira conquistou a medalha de prata inédita para o boxe brasileiro feminino (Foto: Jonne Roriz/COB) Vôlei feminino A seleção feminina de vôlei chegou a Tóquio desacreditada por muitos. No Rio-2016, tinha feito seu pior resultado em 28 anos, quando caiu nas quartas de final. No ciclo olímpico atual, o grupo foi atormentado por lesões e aposentadorias, além do sétimo lugar no Mundial de 2018. Mas a desconfiança foi superada pela equipe, que chegou ao mata-mata de forma invicta. Nas quartas, bateu a Rússia por 3 sets a 1 e, na semi, despachou a Coreia do Sul por 3 sets a 0. Na decisão, a seleção perdeu para os Estados Unidos, por 3 sets a 0 (25/21, 25/20 e 25/14), e se ficou com o vice-campeonato, o primeiro da história. A prata foi a quinta medalha olímpica da equipe, que somava os ouros de 2008 e 2012 e os bronzes de 1996 e 2000. A seleção feminina, aliás, foi a única do vôlei a conquistar um pódio no Japão, já que a masculina terminou na quarta posição e as duplas da praia foram eliminadas cedo. Vôlei feminino foi de equipe desacreditada à medalha de prata (Foto: Gaspar Nóbrega/COB) Rayssa Leal  Rayssa Leal chegou ao Japão como a atleta mais jovem da história do Brasil nos Jogos. De tão nova, sua mãe, Lilian, recebeu uma autorização especial para entrar na Vila dos Atletas e ter acesso irrestrito em Tóquio. Mas a Fadinha não atravessou o mundo a passeio. Saiu de lá como a mais nova medalhista olímpica brasileira, entre homens e mulheres de todas as modalidades. Aos 13 anos, seis meses e 21 dias, a maranhense conquistou a prata do skate street, batendo o recorde de Rosângela Santos, que foi bronze dos 4x100m do atletismo em Pequim-2008, aos 17 anos. Rayssa é a mais jovem medalhista olímpica brasileira (Foto: Wander Roberto/COB) Mayra Aguiar  Mayra Aguiar escreveu de vez seu nome no rol dos maiores atletas olímpicos do Brasil. Ao conquistar o bronze em Tóquio, a judoca se tornou a primeira mulher a faturar três medalhas dos Jogos em modalidades individuais pelo país. Antes, a gaúcha já havia conquistado o bronze em Londres-2012 e na Rio-2016. De quebra, ela se tornou a primeira atleta do judô brasileiro a conquistar três medalhas na história da Olimpíada e ainda igualou a marca da jogadora de vôlei Fofão, até então a única mulher brasileira medalhista em três Jogos diferentes. Mayra Aguiar conquistou o bronze pela terceira vez (Foto: Júlio César Guimarães/COB) Laura Pigossi e Luisa Stefani  Última dupla feminina inscrita no último dia possível, com campeãs de Grand Slams no caminho e tentando conquistar uma medalha inédita para o Brasil. O caminho era tortuoso, mas nada que abalasse a confiança de Luisa Stefani e Laura Pigossi. Com a confiança em alta, as duas foram derrubando adversárias atrás de adversárias e conquistaram o primeiro pódio brasileiro na história do tênis olímpico. O bronze, aliás, veio em um jogaço, em que Luisa e Laura salvaram quatro match points contra as russas Elena Vesnina e Veronika Kudermetova, garantindo uma virada histórica e memorável. Laura e Luisa faturaram a primeira medalha brasileira no tênis olímpico (Foto: Rafael Bello/COB)