Na quarentena, profissionais burlam o tédio apostando na criação

A arte é a melhor forma de expressão

Publicado em 23 de maio de 2020 às 10:00

- Atualizado há um ano

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Criar é caminhar rumo ao novo. E, nessa quarentena, muitos profissionais encontraram na arte a melhor forma de expressão. Burlaram o tédio com originalidade, buscando outras experiências, mesmo com as limitações recorrentes por conta desse momento de covid-19. Nessa nova realidade pensada, eles descobriram subsídios para uma renovação, e, quem sabe, quando esse período caótico terminar não acumulam um material genial? O diretor de arte e figurino, Mauro Braga, a fotógrafa Tati Freitas e o designer Jeferson Ribeiro, são algumas dessas mentes engenhosas que poderão idealizar projetos incríveis pós-pandemia. E como afirmou, certa vez, o inventor americano Alan Kay: “A melhor forma de prever o futuro é inventando-o”.

Janela indiscreta Tati Freitas, 43 anos, é fotógrafa especializada em gastronomia e também fez fama pelo longo portfólio em eventos sociais. Cumprindo a quarentena, percebeu que todos esses dias em casa estavam se transformando em tédio. “Jornadas longas que se resumiam a cozinhar, dormir e ler um livro”, revela. Então, decidiu transformar a inquietude em algo positivo. 

“Querendo entender esse período de aprisionamento, passei a observar a rotina das pessoas e a perceber que poderia capturar o momento histórico que estamos vivendo através da minha janela e das minhas lentes”, conta. Assim nasceu a Janela Indiscreta, uma série de fotografias que contam todas essas histórias. “Deixei a máquina pronta para registrar, de forma gráfica, os diversos comportamentos de uma vida que segue, apesar desse tempo de isolamento”, explica. Em suma: a melancolia virou imagem.

Colando sentimentos À frente do laboratório criativo Viva Bossa e com um currículo invejável em várias áreas, inclusive na moda, o inquieto diretor de arte Mauro Braga, 39 anos, encontrou no tempo o seu melhor amigo nessa época de isolamento. “Reclamamos muito sobre a falta dele. Mas o que fazer com a sobra do mesmo? Como transformar o ócio em produção?”, questiona. Foram esses pensamentos que o levaram a se reinventar. 

“Além de meditar muito e procurar entender de uma forma ampla o momento em que estamos passando, tenho usado meu tempo dando ressignificado a materiais usados em cenografia”, conta. Assim, papéis coloridos viraram colagens sobre sentimentos de fases diferentes nesses dias de quarentena. Gravetos e cordas se transformaram em objetos. Vasos antigos foram modificados. A árvore ganhou uma arara. A partir do reaproveitamento criativo, ele lançou um novo olhar sobre criações. Algo que sempre quis fazer, mas como todos nós, nunca tinha o tal do tempo.

Ideias livres O designer Jeferson Ribeiro, 34 anos, passou as três primeiras semanas de quarentena vivendo um bloqueio criativo. Nem os anos de experiências com criação de moda foram suficientes para aliviar criativamente nesse período difícil. Ele precisava do que mais lhe faltava: liberdade. ”Com o passar dos dias, compreendi a quarentena não como total restrição, mas um momento em que as ideias eram livres, mesmo que o corpo não fosse”, explica Jeferson.

Assim, começou a olhar o que tinha em casa. “Tenho ilustrado e criado objetos. Uma amiga arquiteta fez a reforma de seu apartamento e retirou todo o taco de madeira. Quando fui acompanhar a reforma, vi aquela preciosidade e guardei algumas caixas com eles”. Dessa forma, surgiram  placas com mensagens positivas para serem penduradas na parede. E não para por aí. Também tem feito desenhos e ilustrações. Se os tempos nebulosos exigem um grande exercício de ressignificação, esse é o caminho que o designer pretender seguir. “Continuo criando a partir do insignificante, das coisas pouco observadas e dos olhares marginais.”, filosofa.