Na última segunda-feira do ano, fiéis pedem proteção a São Lázaro e Omolu

Tradicional celebração levou multidão a templo; veja galeria

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  • Maryanna Nascimento

Publicado em 25 de dezembro de 2017 às 20:46

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Já se aproximava das 16h quando os fiéis começaram a entrar na Igreja de São Lázaro, bairro da Federação, em Salvador. Em frente à fachada de origem românica, Vó Matilde dava banhos de pipoca. “Jesus, José, Maria e o anjo da guarda te abençoem. Paz e saúde em nome de Obaluaê”, orava. No pescoço, carregava fios de conta ao lado de uma medalha de Nossa Senhora Aparecida. Vó, ou Matilde Alves de Souza, assume com vivacidade os 93 anos e resume o que são as segundas-feiras na capela rural: sincretismo e fé. Na última do ano, dia 25 de dezembro, o clima era de renovação.

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O cesto de pipoca - ou dorubu, comida de Omolu - não está em frente ao santuário à toa. O orixá da renovação é associado a São Lázaro, que tem o poder da cura e da enfermidade. Vanessa Lemos, 38, é uma das fieis que acredita nesse sincretismo. Há duas décadas ela vai na última segunda-feira de cada ano à igreja. Lá, a turismóloga faz orações e depois toma o banho de pipoca. “Venho para agradecer e pedir proteção para o ano seguinte”, contou.

Na fila para a bênção também estava um casal de mineiros que nunca haviam pisado na capital baiana, mas sabiam o significado de ter os caminhos abertos. Érica Augusta contou que há cerca de cinco anos foi a um terreiro de candomblé e tomou o banho de pipoca. Na época, ela estava com problemas financeiros na sua empresa e as coisas se resolveram. “Creio em Deus, acredito que existe bem e dentro do bem estão tanto os santos católicos quando os orixás”, explicou. Fiel recebe banho de pipoca em frente à Igreja de São Lázaro (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Além do banho No topo das escadarias, as imagens de São Roque, São Lázaro, São Jorge e Santa Bárbara dividem espaço com Omolu, patuás, velas de orixás e fitinhas do Senhor do Bonfim. Sentada preguiçosamente em uma cadeira plástica, Vera Lúcia Santos, 57, sabe de cor o que cada elemento simboliza. Apesar de estar rodeada por símbolos do candomblé naquele espaço cativo em frente à igreja, a comerciante diz que é católica.

Próximo a ela, mesmo atrasado alguns minutos para o início da missa, Gilson Carlos do Santos foi sem pressa para o banho de Omolu. Aniversariante do dia, ele foi comemorar os 63 anos na capela e diz que frequenta o local há décadas, “desde criancinha”. O motivo da devoção em dose dupla? “Tenho fé que dá mais energia”, respondeu à reportagem e, só então, correu para a celebração eucarística. Nas mãos, que exalavam o cheiro do pó de pemba, ele carregava uma penca de fitinhas do Senhor do Bonfim que ganhou de presente.