'Não consigo me olhar no espelho’, diz jovem espancada e torturada por filho de prefeito na BA

Filipe Pedreira tentou arrancar unhas de Clara Vieira, que terminou casamento há 15 dias

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 16 de maio de 2018 às 03:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Reprodução)

'Não consigo me olhar no espelho', relata Clara, que foi agredida com socos, chutes e mordidas pelo ex-companheiro (Foto: Reprodução) No último domingo, dias das mães, um silêncio que durava três anos foi quebrado. Não pela vítima, mas pela sua irmã. “Feliz dia das mães! É desse jeito que exponho a minha dor no dia de hoje. Cansei! Cansei de ‘considerar’ os pedidos para esconder”, escreveu no Facebook, junto com imagens fortes. As fotos da mulher espancada, com hematomas por todo o corpo, são da jovem Clara Emanuele Santos Vieira, 20 anos, filha do prefeito de Muniz Ferreira.

Ela acusa o seu ex-companheiro, Filipe Fernandes Pedreira, 19, que é filho do prefeito de Salinas das Margaridas, de tê-la agredido no último dia 8, apenas mais uma das diversas violências que sofreu em três anos de relacionamento. Segundo Clara contou aos familiares, amigos e a uma rádio local, ela teve o apartamento invadido pelo rapaz. Ao chegar, o acusado a teria agredido com xingamentos, socos, chutes, além de ter cortado seus cabelos, dedos e mordido diversas partes do seu corpo. Irmã da vítima quebrou o silêncio no dia das mães (Foto: reprodução) Em um áudio enviado ao CORREIO com a entrevista que concedeu à rádio, Clara conta que os dois haviam terminado a relação havia 15 dias, após três anos entre namoro e casamento. “Eu tava estudando, fazendo um trabalho, quando Filipe chegou falando que eu tinha outro. Ele me bateu muito. Falava o tempo todo que ia me deixar careca e que nenhum homem ia me querer. Meu rosto ficou deformado. Não consigo me olhar no espelho”, disse, chorando. [[saiba_mais]] Em seguida, depois que Clara conseguiu fugir para o apartamento de uma vizinha, Filipe foi atrás da família da jovem e usou spray de Pimenta para agredir o sogro. O spray também atingiu o filho do casal, de apenas 1 ano. “Ele foi levado quase desmaiado para o hospital”, narrou. “Não é a primeira vez que acontece. Só que dessa vez a vizinha ouviu e chamou a polícia. Consegui fugir e ele foi atrás de minha família”. Agressor também tentou arrancar as unhas da vítima (Foto: Reprodução) Clara faz faculdade em Santo Antônio de Jesus, onde mora em um imóvel alugado. Ela contou que já havia sido agredida várias vezes pelo companheiro, inclusive quando estava grávida. “No decorrer do meu relacionamento eu já apanhei, já chorei e já perdoei Filipe diversas vezes. Ele sempre foi muito ciumento. Inclusive na Semana Santa me deu uma surra porque eu liguei a luz do quarto e ele acordou transtornado. Deu um tiro na parede. Me bateu muito e eu fiquei toda roxa”.

As agressões foram tão violentas que a vítima sofreu derrame em um dos olhos. Clara diz que nunca denunciou por vergonha. “Não queria ver minha família sofrendo. Sinto vergonha quando olho para meu pai e para meu filho. Não queria estar fazendo minha família passar por isso”. Filipe e Clara se casaram em dezembro de 2016.  “Meu pai fez um casamento lindo para mim. Sempre ficava suportando as coisas para não dar desgosto a meu pai”.   Os hematomas mostram que o agressor mordeu Clara em diversas partes do corpo (Fotos: Reprodução) O perfil no Instagram “Todos por Clara”, criado nesta terça-feira (15), já tem mais de sete mil seguidores. Os amigos da jovem pedem Justiça e querem ver Filipe preso. Clara denunciou as agressões na 4ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin) de Santo Antônio de Jesus. A jovem também passou por exames no Departamento de Polícia Técnica (DPT). A 5ª Promotoria de Justiça solicitou à Justiça uma medida protetiva, que acabou deferida no dia 11. Na medida, o juiz determina o afastamento de Filipe por 180 dias “do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida”.

Algumas condutas também estão proibidas, como a aproximação da vítima, fixado o limite mínimo de distância de 100 metros, pessoalmente, por outra pessoa ou por qualquer meio de comunicação, além da “frequentação dos lugares costumeiramente frequentados pela ofendida, a fim de preservar sua integridade física e psicológica”. A decisão proíbe ainda que Filipe mantenha contato com filho do casal, “devendo manter distância mínima de 100 metros por 90 dias”. Clara, de 20 anos, e Filipe, de 19, se casaram em dezembro de 2016. O filho do casal tem apenas um ano (Foto: Reprodução) [[publicidade]]

Veja onde buscar ajuda em casos de violência doméstica: Cedap (Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa) – Atendimento médico, odontológico, farmacêutico e psicossocial a pessoas vivendo com HIV/AIDS. Endereço: Rua Comendador José Alves Ferreira, nº240 – Fazenda Garcia. Telefone: 3116-8888. 

Cedeca (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan) – Oferece atendimento jurídico e psicossocial a crianças e adolescentes vítimas de violência. Endereço: Rua Gregório de Matos, nº 51, 2º andar – Pelourinho. Telefone: 3321-1543/5196. 

Cras (Centro de Referência de Assistência Social) – Atende famílias em situação de vulnerabilidade social. Telefone: 3115-9917 (Coordenação estadual) e 3202-2300 (Coordenação municipal) 

Creas (Centro de Referência Especializada de Assistência Social) – Atende pessoas em situação de violência ou de violação de direitos. Telefone: 3115-1568 (Coordenação Estadual) e 3176-4754 (Coordenação Municipal) 

Creasi (Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso) – Oferece atendimento psicoterapêutico e de reabilitação a idosos. Endereço: Avenida ACM, s/n, Centro de Atenção à Saúde (Cas), Edifício Professor Doutor José Maria de Magalhães Neto – Iguatemi. Telefone: 3270-5730/5750. 

CRLV (Centro de Referência Loreta Valadares) – Promove atenção à mulher em situação de violenta, com atendimento jurídico, psicológico e social. Endereço: Praça Almirante Coelho Neto, nº1 – Barris, em frente a Delegacia do Idoso. Telefone: 3235-4268. 

Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) – Em Salvador, são duas: uma em Brotas, outra em Periperi. São delegacias que recebem denúncias de violência contra a mulher, a partir da Lei Marinha da Penha. 

Deam Brotas – Rua Padre José Filgueiras, s/n – Engenho Velho de Brotas. Telefone: 3116-7000. 

Deam Periperi – Rua Doutor José de Almeida, Praça do Sol, s/n – Periperi. Telefone: 3117-8217. 

Deati (Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso) – Responsável por apurar denúncias de violência contra pessoas idosas. Endereço: Rua do Salete, nº 19 – Barris. Telefone: 3117-6080. 

Derca (Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente) Endereço: Rua Agripino Dórea, nº26 – Pitangueiras de Brotas. Telefone: 3116-2153. 

Delegacias Territoriais – São as delegacias de cada Área Integrada de Segurança Pública. Segundo a Polícia Civil, os estupros que não são cometidos em contextos domésticos devem ser registrados nessas unidades. Em Salvador, existem 16 (http://www.policiacivil.ba.gov.br/capital.html). 

Disque Denúncia – Serviços de denúncia que funcionam 24 horas por dia. No caso de crianças e adolescentes, o Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos oferece o Disque 100. Já as mulheres são atendidas pelo Disque 180, da Secretaria de Políticas Para Mulheres da Presidência da República. Fundação Cidade Mãe – Órgão municipal, presta assistência a crianças em situação de risco. Endereço: Rua Prof. Aloísio de Carvalho – Engenho Velho de Brotas. 

Gedem (Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher do Ministério Público do Estado da Bahia) – Atua na proteção e na defesa dos direitos das mulheres em situação de violência doméstica, familiar e de gênero. Endereço: Avenida Joana Angélica, nº 1312, sala 309 – Nazaré. Telefone: 3103-6407/6406/6424. 

Iperba (Instituto de Perinatologia da Bahia) – Maternidade localizada em Salvador que é referência no serviço de aborto legal no estado. Endereço: Rua Teixeira Barros, nº 72 – Brotas. Telefone: 3116-5215/5216. 

Nudem (Núcleo Especializado na Defesa das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar da Defensoria Pública do Estado) – Atendimento especializado para orientação jurídica, interposição e acompanhamento de medidas de proteção à mulher. Endereço: Rua Pedro Lessa, nº123 – Canela. Telefone: 3117-6935. 

Secretaria Estadual de Políticas Para Mulheres Endereço: Alameda dos Eucaliptos, nº 137 – Caminho das Árvores. Telefone: 3117-2815/2816. 

SPM (Superintendência Especial de Políticas para as Mulheres de Salvador) – Endereço: Avenida Sete de Setembro, Edifício Adolpho Basbaum, nº 202, 4º andar, Ladeira de São Bento. Telefone: 2108-7300. 

Serviço Viver – Serviço de atenção a pessoas em situação de violência sexual. Oferece atendimento social, médico, psicológico e acompanhamento jurídico às vítimas de violência sexual e às famílias. Endereço: Avenida Centenário, s/n, térreo do prédio do Instituto Médico Legal (IML) Telefone: 3117-6700. 

1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar – Unidade judiciária especializada no julgamento dos processos envolvendo situações de violência doméstica e familiar contra a mulher, de acordo com a Lei Maria da Penha. Endereço: Rua Conselheiro Spínola, nº 77 – Barris. Telefone: 3328-1195/3329-5038.