'Não socorri porque precisava continuar coletando o lixo', diz gari sobre empresário

Vídeo mostra momento em que vítima é agredida em rua na Pituba

  • Foto do(a) author(a) Nilson Marinho
  • Nilson Marinho

Publicado em 12 de junho de 2018 às 12:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

"Eu não socorri porque precisava continuar coletando o lixo", disse em depoimento à polícia o motorista de caminhão de coleta Gerson Amorim Góes, 50 anos, acusado de não prestar socorro ao economista e empresário Luciano Rodrigues Vieira, 43, após ele ser espancado por três garis na madrugada de sábado (9).

As agressões, que acabaram levando Luciano à morte, ocorreu na Rua Engenheiro Adhemar Fontes, no bairro da Pituba, na porta da casa da vítima. Gerson Amorim Goes, 50, Fábio do Amor Divino Borges, 35, Ediney Silva Santos, 26, e Diony Silva Santos, 28, foram presos (Foto: Divulgação/ Polícia Civil) A polícia chegou a Gerson, Fábio do Amor Divino Borges, 35, e os irmãos Ediney Silva Santos, 26, e Diony Silva Santos, 28, depois de ter acesso às imagens de uma câmera de segurança de um prédio que mostram o momento em que os garis descem do caminhão de coleta e começam a espancar a vítima.

Após as imagens serem divulgadas [ver vídeo abaixo], a polícia entrou em contato com a empresa, que disponibilizou o roteiro do veículo. A polícia então chegou até o motorista, que foi encaminhado para uma unidade policial.

Os três garis se apresentaram na delegacia nessa segunda-feira (11) na presença de advogados. Inicialmente, apenas um havia confessado o crime. 

[[publicidade]]

Os agentes de limpeza fazem parte da empresa Revita, que presta serviços à Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb). O CORREIO procurou a assessoria de comunicação da Limpurb, que informou que a Revita não vai mais se posicionar sobre o ocorrido, mas que está à disposição da polícia para contribuir com as investigações. Também não foi informado se os quatro ainda fazem parte do quadro de funcionários.

Depoimento O motorista confessou ter presenciado os colegas de trabalho agredindo o empresário logo após uma discussão de trânsito. Ele afirmou também não ter socorrido a vítima, mesmo depois de ter percebido que ela estava desacordada.

"A vítima caiu ao solo, desfalecida, e o pior de tudo: o motorista, que não agrediu, também participou de toda a ação porque no momento que ele viu que os colegas estavam agredindo a vítima, não houve a intenção de apaziguar, separar ou salvar a vítima", diz a delegada Maria Selma, titular da 16ª Delegacia (Pituba), responsável pelas investigações.

Ainda de acordo com a delegada, o crime teria acontecido após o caminhão ter passado muito próximo à vítima. Os acusados alegaram legítima defesa."O empresário estava passando pela calçada quando o caminhão entrou na rua. O caminhão teria passado muito rente a ele. A vítima, ao ficar chateada, teria batido no caminhão e reclamado. Os garis que estavam atrás do carro, na parte trazeira, desceram e foram para cima dele, começando as agressões", conta Maria Selma.Para a delegada, mesmo não tendo descido do caminhão e participado das agressões, o motorista também teve sua contribuição na ação, já que poderia ter evitado o crime. "O rapaz ficou caído ao solo e ele ainda foi embora com o veículo para pegar o lixo da cidade junto com os demais", acrescentou. Vídeo Nas imagens, é possível ver o momento em que os três garis descem do veículo e seguem em direção ao empresário. O motorista continua dentro do caminhão, enquanto os três agentes de limpeza espacam a vítima. Após o crime, eles seguem sem prestar socorro e continuam a coleta.

Ainda em depoimento à polícia, o motorista disse que não prestou socorro porque precisava "continuar coletando lixo", mas que teria pedido a um porteiro para chamar uma ambulância.

Na gravação, também é possível ver que outras pessoas, que passavam pela rua, presenciaram o crime, mas, ainda de acordo com a delegeda Maria Selma, não foi possível encontrar testemunhas. 

Enquanto isso, afirma a delegada, os quatro continuam detidos na sede da 16ª Delegacia. "Foi pedida a prisão preventiva de 30 dias, mas, caso necessário, vamos pedir mais 30 dias até que as investigações sejam concluídas", explica a delegada. 

O CORREIO entrou em contato com a assessoria da Limpurb, mas, até a publicação da reportagem, não recebeu um posicionamento da empresa. 

Socorro e transplante Luciano foi socorrido e encaminhado para o Hospital Geral do Estado (HGE). Ele chegou na unidade de saúde na madrugada de sexta pra sábado, por volta de 2h15. 

No domingo (10), teve a morte cerebral confirmada. A família dele autorizou a doação do coração da vítima a um homem de 36 anos. A captação de órgãos foi feita durante a madrugada dessa segunda no Hospital Ana Nery, no bairro da Caixa D'água. Segundo a assessoria do hospital, além do coração, que já foi transplantado, as córneas, os rins e o fígado foram captados e aguardam a realização das cirurgias.

Esse foi o segundo transplante de coração que aconteceu no estado desde 2015. Em março, o CORREIO denunciou que a Bahia tinha 15 pacientes aguardando transplante cardíaco, segundo a Central Estadual de Doação de Órgãos.

Com a supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier*