Não valeu o esforço: comércio de rua fechou cedo e amargou prejuízos na greve

Sem ônibus e passageiros, lojas e ambulantes faturaram pouco: 'quase zero'

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 24 de maio de 2018 às 03:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO
Lojas fechadas na Baixa dos Sapateiros por Foto: Betto Jr./CORREIO

  Funcionário de loja no Centro fecha as portas duas horas antes do previsto: 'Era melhor ter ficado em casa' (Foto: Betto Jr./CORREIO)   O café chega esfriou no quente-frio do carrinho de Sebastião. “Vendo uns 300 cafezinhos por dia. Hoje, não vendi nem 100”. Ivanei recolheu os chapéus da barraca de camelô três horas mais cedo. “Ficar aqui pra quê? Não passa ninguém”. Em “dia de Federal”, o jogo do bicho de Joice, no Centro, foi miado. “Dia de quarta faço uns R$ 400. Até agora, meio da tarde, fiz só R$ 78”. Sem buzu, o bicho pegou para o comércio de rua de Salvador. 

Da vendedora de milho verde e pamonha às gigantes Ricardo Eletro e Lojas Americanas; dos feirantes da Joana Angélica às grandes redes de farmácias; dos pastéis chineses da Carlos Gomes às sanduicherias Subway, o esforço de abrir as portas não valeu à pena.“Não só não valeu à pena como deu prejuízo. Gastei luz, combustível e paguei funcionário para não vender nada. Zero!”, disse Ruy Barbosa, dono de uma loja de confecções na Baixa dos Sapateiros.Presidente da Associação dos Lojistas da Baixa dos Sapateiros e Barroquinha (Albasa), Barbosa calcula que o prejuízo chegou perto de 100%. “A Baixa dos Sapateiros quase já não passa ônibus. Imagine com greve. Você tá vendo alguém comprando?”, perguntou o comerciante.

Ali, a maioria das lojas abriu tarde e fechou cedo. Com muito esforço, funcionários chegaram atrasados. Outros não conseguiram chegar. 

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“Dos meus seis funcionários, só vieram dois. Um de carona e o outro a pé mesmo. A gente reconhece o esforço deles. Mas não valeu a pena nem abrir”, disse o comerciante Altemário Barbosa, dono de dois estabelecimentos na Baixa dos Sapateiros. Nessa quarta sem ônibus, ele só abriu uma das lojas. E, às 14h30, estava pensando em fechar. “Muita gente já fechou. Daqui a pouco baixo as portas”, avisou. 

Ivanei não tinha portas para fechar. Camelô na Avenida Sete de Setembro, às 15h já recolhia seus bonés, chapéus e viseiras que comercializa em uma transversal, a Rua da Forca. Morador do Barbalho, usou uma bicicleta para trabalhar. Mas, também nesse caso, não valeu a pena. “Não vendi nem uma peça”, disse, ao lado de várias barracas que não foram montadas. “Esse pessoal aí é de Pernambués. Como é que vem sem buzu?”. Sem clientes, Ivanei recolhe mercadorias mais cedo na Rua da Forca (Foto: Betto Jr./CORREIO) Irreconhecível O Centro de Salvador estava irreconhecível. Não havia multidões driblando os camelôs da calçada ou nas transversais da Avenida 7. Até a confusão de feirantes no meio da rua, na Avenida Joana Angélica, deu uma trégua. O trânsito também fluía. Isso pode significar mais tranquilidade. Mas significa, principalmente, prejuízo. “Eu, como feirante, gosto de ver isso aqui bombando. Hoje tá fraco demais”, disse Vitória Helena, 23 anos, que na sua barraca improvisada vendia apenas mamões. “As outras frutas não chegaram porque os meninos da entrega não conseguiram chegar no trabalho”.      

De cafezinho em cafezinho - a R$ 1 ou R$ 0,70 - Sebastião Rodrigues fatura uns R$ 100 todos os dias. Nessa quarta, preferia nem contar. “Com essa greve ninguém vem pra rua. Aí me quebra, né?”, reclamou Sebastião, que estava com pressa para voltar logo para casa. De repente, dava uma requentada no café do quente-frio e ele mesmo tomava. Sem conseguir vender café, Sebastião só tinha uma coisa a comemorar. “Vou a pé com meu carrinho. Ainda bem que moro perto”. Sebastião não chegou nem perto dos R$ 100 que fatura diariamente vendendo cafezinho no Centro (Foto: Betto Jr./CORREIO) Os estabelecimentos grandes também sentiram o baque. A Lojas Americanas da Baixa dos Sapateiros estava às moscas. Dos dez funcionários, só apareceram três. Um deles mora na Avenida Suburbana e mostrou que tem moral com o chefe. “Vim de táxi com o gerente”, explicou o rapaz, que preferiu não se identificar. Às 17h, a maioria das lojas do Centro estavam fechadas. Hora de voltar para casa. Nem todos tiveram a sorte dos funcionários da Ponto 10, ao lado do Center Lapa. “O chefe contratou uma van. Mas era melhor ter ficado em casa porque hoje não vendeu nada”, confirmou o funcionário Bruno Cardoso.