Novela nos tempos da pandemia

Selton Mello vive Dom Pedro II em Nos Tempos do Imperador, que estreia segunda (9). Parte da trama se passa na Bahia

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  • Roberto Midlej

Publicado em 6 de agosto de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: João Miguel Júnior/Globo

A estreia de Nos Tempos do Imperador era para ter acontecido em 30 de março do ano passado, mas a pandemia de covid obrigou a Globo a suspender as gravações e, por consequência, a estreia da novela. Ninguém pensava, no entanto, que o adiamento seria tão longo: depois de quase um ano e meio, finalmente a nova novela das seis vai ao ar, nesta segunda-feira. 

A história é escrita e criada por Alessandro Marson e Thereza Falcão, com direção de Vinícius Coimbra. O trio é o mesmo de Novo Mundo, que foi exibida no mesmo horário em 2017. Pode-se dizer que a nova trama é praticamente uma continuação daquela de quatro anos atrás: enquanto a primeira contava a história do primeiro regente brasileiro, Dom Pedro I – que era interpretado por Caio Castro -, a nova atração é centrada em Dom Pedro II, vivido por Selton Mello. 

D. Pedro II vive com a Imperatriz Teresa Cristina, graças a um acordo com finalidade política, que garantisse a sucessão ao trono. Juntos, são pais de Leopoldina (Melissa Nóbrega/ Bruna Griphao) e Isabel (Any Maia/ Giulia Gayoso). Apesar do casamento por conveniência, o casal tem um desejo em comum: um país mais justo, igualitário e com oportunidades na educação e nas artes para toda a população.  

O Imperador deseja preparar as filhas para assumirem as responsabilidades como membros da família real. É aí que surge Luísa (Mariana Ximenes), a Condessa de Barral, que é baiana e foi contratada pelo rei para ser tutora das meninas. Luísa é uma mulher moderna, educada na Europa e domina diversos assuntos. Dom Pedro II se encanta pela beleza e pelo preparo intelectual da Condessa e a chegada dela provoca uma reviravolta na vida pessoal do titular do trono. 

“A novela é uma chance rara de apresentar ao público uma parte fundamental da nossa história. Não em tom de documentário, mas sem dúvida apresentando para quem não sabe, ou refrescando a memória de quem sabe, um bocado de nossa história do século XIX”, diz Selton.   Eudoro (José Dumont), Dolores (Julia Freitas), Pilar (Gabriela Medvedovski) (foto: Camilla Maia/divulgação) BAHIA  

A Bahia, que costuma aparecer em novelas contemporâneas, será retratada durante o período imperial: a Chapada Diamantina foi palco de gravações que mostram as expedições de Dom Pedro II e Teresa Cristina pelo Brasil. Em território baiano, vive uma outra personagem importante da novela: a jovem Pilar (Gabriela Medvedovski), que, desde pequena, enfrenta o peso de ser uma mulher do século XIX e tenta convencer o pai Eudoro (José Dumont), fazendeiro e “coronel”, a deixá-la estudar.  

Mas Eudoro promete casar a filha com o grande vilão da novela, Tonico (Alexandre Nero), futuro candidato a deputado pela Bahia. Sem interesse em casar-se, Pilar decide fugir, para correr atrás do sonho de ser médica. Durante a fuga, ela vai conhecer o escravizado Jorge, um homem corajoso e honesto, que acredita na integração entre negros e brancos e luta para se tornar livre, como a maioria dos negros que vive na mesma situação. O casal então vai lutar por seus sonhos: ela, para se tornar médica, e ele, para mudar a sociedade. 

Para Gabriela Medvedovski (Keyla, de Malhação: Viva a Diferença), Pilar é uma mulher empoderada, à frente do seu tempo. “Fico pensando que se hoje em dia já é difícil a gente ser mulher dentro da nossa sociedade, imagina para a Pilar, no século XIX? A vejo como uma heroína”, diz a atriz.   "A quantidade de baianas revolucionárias é grande", diz Thereza Falcão. "Pilar, Dolores e as personagens reais da Condessa de Barral e ao fim da novela a participação de Ana Néri também reforçam o sotaque baiano", diz a autora.

Alessandro Marson diz que os engenhos de cana-de-açúcar estão muito presentes na novela. "É um momento de transição e o cultivo da cana está começando a entrar em decadência. Futuramente, irá ser substituído por outras culturas, como por exemplo o cacau"   Michel Gomes vive Jorge/Samuel (foto: João Miguel Júnior/divulgação) DOM PEDRO II

Thereza Falcão diz que a novela apresenta um Brasil mais “definido”, com muitos personagens já nascidos no Brasil e poucos estrangeiros. “É quando começamos a ter brasileiros mesmo. Dom Pedro II foi um imperador muito querido e destacamos as coisas maravilhosas que ele faz, a relação com o ensino, a cultura e o patrocínio à ciência”. 

A autora ressalta também a construção dos protagonistas negros no roteiro: “A gente queria muito, muito, muito trazer personagens negros que não fossem a ideia das personagens escravizados, como costumamos ver. A gente conseguiu chegar a um lugar diferente, porque vamos ver personagens negros, complexos, livres e fazendo sua procura pela abolição, para lembrarmos que a abolição não é resultado de uma canetada”, diz Thereza Falcão.