O adeus a Waldir Pires: 'Era uma esperança', diz filho

Cremação reuniu políticos, familiares e amigos do ex-governador e ex-ministro

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  • Fernanda Santana

Publicado em 24 de junho de 2018 às 17:15

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. por Fotos: Evandro Veiga/CORREIO

Homem sereno e culto. Avô carinhoso, rígido quando necessário. Político notável, de feitos celebrados. A memória de Waldir Pires consagrou-se como um capítulo da história da Bahia. De testemunha passou a ator. E, numa sala lotada do crematório do Cemitério Jardim da Saudade, todos saudaram a passagem, entre choros de tristeza e lembranças do recente passado.

Foi na sexta-feira (22) que a Bahia perdeu um de seus mais ilustres filhos. Aos 91 anos, Waldir Pires não resistiu a uma parada cardiorrespiratória. Dois dias depois, na manhã deste domingo (24), estavam juntos amigos, familiares e políticos para o adeus a Waldir. O corpo foi cremado, e as cinzas colocadas ao lado da companheira de vida, Iolanda, naquele mesmo cemitério. O filho Francisco Pires, bandeira do estado às mãos, falou sobre o pai: “Era uma esperança”. Cremação foi no Jardim da Saudade, em Salvador (Foto: Evandro Veiga/ CORREIO) A esperança era também vista nos olhos dos que ali foram para prestar homenagem ao político. Numa cadeira de rodas, mãos agarradas uma à outra, via-se Roberto Santos, outro ex-governador. O olhar de quem não apenas foi telespectador da trajetória do colega, mas um participante ativo dela. À frente de Roberto, Cláudio Pereira da Silva, 54, erguia a mensagem com as cores da Bahia:“Dr. Waldir Pires, Santa Luz te ama”.O amor começou ainda aos 16 quando Cláudio começou a militar em defesa de Waldir e da democracia. “Um homem que fez demais. Saí de Santa Luz hoje só para agradecer e dar adeus a ele. Sempre que eu pedia algo, ele atendia”, contou Cláudio. A emoção não coube no peito e ele previu: “Vai fazer falta demais”. A tristeza da despedida somava-se à alegria de ter colaborado para a ascensão política de Waldir. 

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Foi também o caso da corretora Ivete Oliveira: “Uma das maiores alegrias da minha vida foi a ascensão de Waldir. Participei da militância. Foi tudo muito forte. Nós fizemos de tudo para conseguir fazer a campanha de Waldir”. O político foi governador entre 1986 e 1988, deputado federal, ministro da defesa e atuação na Controladoria Geral da União (CGU).

A despedida  Em 1986, somente dois anos após o fim da ditadura militar, as caixas de sons entoavam e os pôsteres pregados na rua remetiam ao jingle da campanha para governador do estado daquele ano, da qual Waldir saiu vencedor: “Chega de opressão porque maiores são os poderes do povo dessa grande nação”. Na despedida deste domingo, o compositor da faixa, Walter Queiroz Júnior, relembrou a popularização da música e sua importância para a vitória de Waldir.“Tive a honra de fazer o jingle, ela teve uma aceitação enorme. Era uma música contra a repressão. Hoje, estamos tristes e orgulhosos como todos os baianos”, falou o músico.A senador Lídice da Mata emocionou-se logo em seguida. “É um momento de emoção. Convivi muito com ele. Sou muito emotiva também. Nesse período de reconstrução democrática, Waldir foi e é um excelente exemplo”.

Entre os políticos presentes, estavam Jacques Wagner, Nelson Pelegrino, Moema Gramacho, Lídice da Matta e Alice Portugal. Os familiares, sempre à frente do pequeno altar, estenderam as bandeiras da Bahia e do Brasil sobre o caixão de Waldir, antes da cremação. Diretor do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, Fernando Antônio de Souza classificou o momento:“Ele foi uma testemunha ocular. Agora, vira realmente história”.Já ao final da cerimônia, o padre falava: “Felizes aqueles que têm fome de Justiça, porque serão saciados”. Onde quer que esteja, Waldir legou, justamente, a ânsia pela mudança, pelo justo e pela boa política. Uma história para lembrar sempre. 

*Orientada pelo chefe de reportagem Jorge Gauthier