O Bahia é o time de todos

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  • Gabriel Galo

Publicado em 27 de maio de 2019 às 10:52

- Atualizado há um ano

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O que é necessário para que alguma marca possa se dizer “do povo”? Certamente não uma história pontual bonitinha, mas sim uma trajetória consistente que capte e se adapte aos anseios de sua gente, colocando-a no centro de suas decisões.

Os avanços tecnológicos causaram uma transformação importante no universo da propaganda. Saiu a comunicação em quantidade para uma aproximação mais assertiva com grupos identitários. Chamo aqui de grupos identitários aquelas características mais marcantes da descrição da personalidade de uma pessoa, o que os movem e os comovem. O nicho é a nova massa.

Esta realidade se aplica também aos clubes de futebol. Em linhas gerais, eles não foram capazes de entender a complexidade desta nova maneira de fazer o esporte. Porque futebol não é só campo. A um povo que faz do jogar bola uma assinatura, reduzir sua importância ao que se alcança com a bola é ignorar sua relevância social e desconhecer por completo a sua história.

Pois não há hoje, no Brasil, trabalho tão bem executado neste sentido do que o feito pelo Bahia.

A guinada definitiva aconteceu quando o Bahia anunciou a criação do Núcleo de Ações Afirmativas (NAA), em janeiro de 2018. Na pauta do grupo estava abordar com coragem temas que ainda são tabus no esporte, como racismo, machismo, homofobia, intolerância religiosa, violência, dentre muitos outros.

O resultado colhido até agora é das melhores narrativas já escritas e com um apelo que une propósito e negócios com maestria. Remete àquilo que é, além do que diz ser. Baseia-se em ações, mais do que palavras. Urge consistência, mais do que oportunismo.

Se tem algo que o Bahia pode dizer de si é que é o time do povo. Seu nome é o do Estado que defende. Suas cores são de sua bandeira. Com simbolismos originários demais envolvidos, não é possível falar de baianidade sem falar do Bahia.

As mensagens se sucedem, sempre tratando de união. O hino é inteiramente cantado na primeira pessoa do plural. “Somos do povo o clamor!” Quem canta é a massa. Nos versos de Adroaldo Costa, a torcida é que tem um time, não o contrário. E para popularizar de vez a canção, Moraes Moreira transformou em carnaval a marchinha, elevando-a a ser, talvez, o mais belo hino do Brasil.

Em 2013, foi nos braços e apelos de sua gente que o clube foi resgatado do absolutismo que o regia. Estabeleceu-se democracia efetiva, participativa, com eleições diretas.

Os pontos de cada passagem se conectam sempre com o propósito maior. Afinal, ser o clube do povo não aceita segregação. Pelo contrário.

As atribuições do NAA atingiram nível tal de perfeição técnica na execução e consistência, que cria um contingente gigantesco de novos torcedores para o clube. Porque se comunica no nível mais íntimo possível.

O Bahia abraça a diversidade. Inclui, acolhe, luta. Não se rende a desvios mercadológicos estranhos numa nova era que quer o extermínio de minorias. Clama à massa, convoca a se juntar à turma tricolor, “vem ser Bahia!”

Colhe, por fim, os frutos – inclusive financeiros – por medir postura de construir pontes. De quem diz, sem abrir possibilidade de questionamento, que o torcedor é o que quiser ser. O que os une é o torcer pelo Bahia, e isso basta.

Vai além, inclusive. Empodera e eleva sua gente e coloca-se como agente de batalha na preservação de identidades. Grava de maneira imutável no inconsciente coletivo os valores e propósitos da instituição. É grupo, é afirmação, é proteção, é segurança. É um sentimento que extrapola as quatro linhas e se torna indescritível.

E prova que a retidão de caráter e a dignidade humana é o melhor caminho para evoluir.

Gabriel Galo é escritor