O que terá acontecido a Joice Hasselmann?

Deputada tem certeza de que fraturas têm origem em um atentado; enigma continua

Publicado em 24 de julho de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Joice Hasselmann virou personagem da vez em rodas de conversas e postagens nas redes sociais desde o início desta sexta-feira, 23. Na noite anterior, a deputada federal do PSL de São Paulo postou um vídeo em seus perfis no qual aparece com o rosto repleto de hematomas, inchaços, dente quebrado e corte no queixo. Ao descrever o quadro, cita ainda fraturas pelo corpo e diz: “Não consigo entender o que aconteceu”. A partir daí, como se fosse a versão tupiniquim do filme “O que terá acontecido a Baby Jane?”, clássico do cinema dirigido por Robert Aldrich e lançado em 1962,  a mesma interrogação tinha Joice como protagonista.

Em relatos feito à imprensa, a deputada conta que, antes de se ver ferida na noite do último sábado, lembra apenas de estar deitada na cama, dentro do apartamento funcional onde vive, em Brasília. À colunista Bela Megale, do jornal O Globo, Joice disse que assistia a um episódio da série “O Grande Guerreiro Otomano” antes de, segundo ela, sofrer um apagão de aproximadamente sete horas. Ao recobrar os sentidos, a parlamentar afirmou ter acordado em uma poça de sangue no chão do closet.

No corpo, relatou a deputada, havia seis fraturas, cinco no rosto e uma na costela. O corte no queixo e o dente quebrado completavam o quadro. “Acordei em uma poça de sangue sem saber quanto tempo fiquei desacordada. A hipótese que eu mais acredito é que sofri um atentado”, disparou Joice. Na sucessão de entrevistas  que concedeu na sexta-feira, ela afirmou que, a princípio, pensou ter sofrido um desmaio e se machucado na queda.

Entretanto, Joice percebeu que tinha fraturas múltiplas pelo corpo. Segundo ela, a única explicação para ter se machucado sozinha com tamanha intensidade seria rolar escada abaixo, coisa que o apartamento não possui. “É improvável que eu tenha conseguido cair de jeitos diferentes para lesionar tantas partes do meu corpo. Um dos médicos que me atendeu perguntou se eu levei chutes. Mas não posso acusar sem provas. Não me lembro de nada”, emendou a deputada na entrevista a O Globo.

Desespero

Na ocasião, seu marido, o neurocirurgião Daniel França, dormia em outro quarto do imóvel. Joice disse que ele costuma ficar no outro cômodo porque “ronca muito”.  “Me arrastei, peguei meu telefone e liguei para o meu marido. A primeira ligação deu na caixa. Fiquei desesperada porque não conseguia ficar em pé nem de joelhos para abrir a porta. Tentei de novo. Dois minutos depois, o telefone tocou, ele veio me socorrer”, contou a parlamentar, em conversa com o UOL News.

Como só foi fazer os exames dias após o episódio, não adiantaria nada realizar teste toxicológico para identificar se foi ou não dopada. Mas garantiu que está em busca de respostas e que não descarta ter sido vítima de um atentado, já que sofreu, de acordo com ela, diversas ameaças durante sua carreira política. “Pedi imagens de segurança do apartamento funcional e deixei claro, no depoimento à Polícia Legislativa (prestado na sexta), que (o suposto ataque) não é coisa de amador”, acrescentou a deputada, na entrevista ao UOL.

 “Quem entrou no meu quarto sabe que eu durmo em um quarto e meu marido dorme distante do meu, sabe que eu tomo remédio para dormir, sabe os procedimentos da casa, sabe que eu dispenso a segurança enquanto estou de noite no meu apartamento. Ou é alguém que tinha cópia da minha chave ou é alguém que se escondeu em um apartamento  de algum parlamentar, aí teve ajuda (de um político vizinho)”, emendou.

A investigação, a cargo da Polícia Legislativa, ainda está em estágio inicial. Os indícios já reunidos sugerem que Joice foi dopada e agredida depois. Foram identificados ainda traumas no joelho, ombro e nuca. O marido da deputada chegou a ser tratado como suspeito nas redes sociais, o que irritou Joice. Para a Polícia Legislativa, é improvável que a deputada tenha simplesmente caído. Os investigadores analisam imagens das câmeras de segurança do prédio para apurar se houve uma terceira pessoa presente. Enquanto isso, o enigma permanece.

‘Acusar meu marido é cortina de fumaça’

Considerada uma das expoentes da chamada “nova política”, ex-aliada e hoje desafeto do presidente Jair Bolsonaro, Joice Hasselmann criticou duramente as acusações disseminadas contra o marido. Para a parlamentar, o ataque contra Daniel França faz parte de “uma cortina de fumaça criada para que não se descubra a verdade” sobre o que realmente aconteceu a ela naquela madrugada.

“De maneira muito canalha, estão tentando desviar o foco e colocar o meu marido em suspeição. Quem me conhece e conhece o Daniel sabe que é muito mais fácil eu dar uma sova nele do que ele ousar levantar a mão para mim. O meu marido é o tipo de homem que puxa a cadeira para eu me sentar, abre a porta do carro e me espera na porta de casa com uma taça de champanhe. Ele é um príncipe, incapaz de dar um tapinha no meu gato para assustá-lo”, assinalou Joice ao jornal O Globo.

A parlamentar afirmou ainda que França foi quem a levou para o quarto, fez curativos e ministrou os remédios. “Daniel foi a primeira pessoa a me socorrer, a exigir que eu fizesse as tomografias. É uma canalhice tentarem envolvê-lo nesse episódio. Isso tem um intuito de criar uma cortina de fumaça para que não se descubra a verdade. Não vou permitir. Se (o agressor) fosse meu marido, filho, pai ou irmão, eu teria denunciado e colocado na cadeia. Qualquer um que me conhece minimamente sabe disso”, reforçou.

De acordo com o mesmo jornal, Joice disse também que “é lutadora” e que Daniel França costuma repetir para amigos do casal, em tom de brincadeira, que seu maior medo é tomar uma coça da mulher.  Em nota à imprensa, a Polícia Legislativa, órgão de segurança subordinado à Câmara dos Deputados, informou que “está ouvindo pessoas e analisando imagens do prédio em que a deputada reside”.

Ainda segundo a nota, as apurações sobre o caso têm caráter sigiloso e “foram iniciadas imediatamente após a comunicação do fato”.